Cotidiano de violência

Editorial

Cotidiano de violência

O número de assassinatos neste ano no Vale do Taquari passa de 30. Uma média de um homicídio a cada 3,8 dias. Estatística dolorosa, real e preocupante. A ideia do Interior ser um local de tranquilidade, paz e segurança não…

O número de assassinatos neste ano no Vale do Taquari passa de 30. Uma média de um homicídio a cada 3,8 dias. Estatística dolorosa, real e preocupante. A ideia do Interior ser um local de tranquilidade, paz e segurança não condiz mais com o cotidiano.
Entre o processo natural trazido pela urbanização, também se acentuaram diferenças. Nos subúrbios, a desassistência do setor público fez emergir uma geração de soldados para o crime. Nos presídios, muitos ganharam o treinamento necessário. Formaram-se como integrantes de organizações marginais.
Na esteira, a força do poder paralelo ameaça a sociedade, comanda o narcotráfico e mata os rivais. No ciclo de violência, uma verdade absurda. Foi pelo descontrole do Estado que a criminalidade ganhou ares de organização. Na lacuna aberta pela incompetência governamental nasceu a pior das crises vividas no RS.
A insegurança abre brecha para a defesa da violência institucional. A lei cai em descrédito pelo fato dos presídios não terem potencial para recuperar os detentos. A discussão técnica das execuções criminais entra no campo da subjetividade individual. Justiça se confunde com vingança e ascende o discurso do dente por dente, olho por olho.
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Toda essa sensação faz emergir o pior das pessoas. Medidas drásticas como a prisão perpétua, a pena de morte, o porte de arma e a redução da maioridade penal se tornam rotas únicas para o combate à criminalidade. Afinal, bandido bom é bandido morto. Agora, se fosse o seu filho?
Na auto-afirmação dos pensamentos de um Estado punitivo como solução para a crise de segurança, oportunistas se aproveitam da confusão e da falta de esclarecimento social para desviar o real motivo desse quadro.
Mais uma vez, a violência surge da ausência do poder público. Transferir essa responsabilidade é lavar as mãos. Nessa lógica, se esquecem da desigualdade social como o principal combustível à violência.
Como disse o administrador do presídio de Lajeado em entrevista concedida ao A Hora. “Não se trata de ressocializar. É preciso socializar.” A referência faz menção à maioria dos presos da instituição. O perfil é: baixa escolaridade e renda, família desestruturada, poucas oportunidades no trabalho. Neste histórico, o crime oferece condição de sobrevivência e de status. No fim, o Estado Público de Direito não faz parte dessa espiral.

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