Mestre Claiton Crovatto Jr, 35, é professor de capoeira nos núcleos de cultura de Teutônia. Educador físico e lutador de MMA, ensina a modalidade afro-brasileira a mais de 300 pessoas, incluindo crianças, adultos, idosos e deficientes. Desde 2002 nesse projeto, acredita no poder libertador da arte desenvolvida pelos escravos negros.
• A capoeira pode ser um meio de inclusão social?
Eu acredito na capoeira porque ela nasceu de uma ânsia por liberdade. O ser humano precisa interagir e se integrar com a sociedade. Muitas vezes, recebemos crianças que não são muito comunicativas, com dificuldades de falar “muito obrigado”, “por favor”, “boa noite”, “bom dia”. Essas são palavras mágicas que eu trabalho, por exemplo, na minha metodologia de ensino. A capoeira é uma luta, e luta é disciplina. Há regras a serem cumpridas, há hierarquia. Existe um mestre, um professor, fundamentos de como inicia o jogo e como termina, assim como o respeito ao colega e a si próprio. Tudo isso faz parte da disciplina que o aluno aprende e leva para a vida toda.
• Como a modalidade pode ajudar pessoas com necessidades especiais, como idosos e crianças deficientes?
A capoeira é inclusão. Não existe credo, nem religião, nem cor, nem idade. A capoeira transforma essas pessoas, eleva a autoestima, faz com que elas se sintam importantes. Essas pessoas não sentem inferiores a quem dá um salto mortal ou consegue esticar a perna mais alto em um chute. Elas jogam a partir dos movimentos naturais delas. Eu tenho um aluno cadeirante – o Jones –, que está comigo faz uns dez anos, por exemplo. Ele joga, canta, ama a capoeira, tudo do jeito dele. Isso para mim é muito gratificante e muito especial.
• Como foi introduzir essa arte de origem negra em uma cidade de predominância étnica germânica?
Foi bem complicado no início. Existiam até pichações em muros de caráter racista, na época. Mas o que prevaleceu foi a insistência, a persistência de acreditar na cultura, de envolver as pessoas certas que viam a capoeira como um trabalho social e educativo importante. Hoje somos bem aceitos. Cada vez mais, a capoeira evolui, se fortalece, ganha espaço e reconhecimento.
• A capoeira ajudou na redenção dos escravos. Hoje ela ainda preserva essa essência libertadora?
Com certeza. Hoje a gente vê alguns capoeiristas apenas focados na questão acrobática, mas a capoeira não nasceu disso, e sim de uma luta pela sobrevivência, pela igualdade racial. Eu acredito sim na força que a capoeira tem para transformar as pessoas e proporcionar um legado a ser levado para a vida toda.
Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br