Fim da duplicação no trecho da BR-386 é adiado outra vez

Vale do Taquari - Duplicação da BR-386

Fim da duplicação no trecho da BR-386 é adiado outra vez

Previsão era finalizar os últimos 2,6 quilômetros ainda em abril, mas falta de matéria-prima deve atrasar mais a entrega do empreendimento iniciado faz quase oito anos. Líderes locais também demonstram preocupação com os futuros pedágios. Codevat aceita duas praças entre Lajeado e Porto Alegre, mas CIC-Vale do Taquari quer apenas uma. Decisão será do TCU

Fim da duplicação no trecho da BR-386 é adiado outra vez
Vale do Taquari

O fim da novela dos 33,4 quilômetros de duplicação da BR-386 entre os municípios de Tabaí e Canoas está próximo. Mas o Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit) é cauteloso e prefere não cravar uma data precisa para o término da obra. Em março, a previsão era finalizar em até 40 dias. Entretanto, com pouco cimento asfáltico de petróleo (CAP) no mercado, atrasará outra vez.

Faltam apenas 2,3 quilômetros para finalizar o empreendimento iniciado em novembro de 2010. O trecho fica entre Bom Retiro do Sul e Estrela, nas proximidades da aldeia indígena caingangue. Dezenas de máquinas e funcionários atuam no local. Em todos os 31,1 quilômetros restantes, o tráfego de veículos foi liberado aos poucos nos últimos anos.

Entre as principais obras restantes, está o novo acesso principal a Bom Retiro do Sul. Os demais serviços são de menor complexidade e consistem basicamente na aplicação de asfalto, pintura e sinalização da via, instalação de guard-rail e pequenos serviços junto à divisória das pistas. Também falta concluir ruas laterais em Estrela e obras complementares, como meios-fios, muros, sarjetas e reconformação de canteiros.

Último local ainda em obras dentro do empreendimento de 33,4 quilômetros, o trecho entre Estrela e Bom Retiro do Sul ainda carece de camada asfáltica e diversas obras menos complexas. É neste ponto, também, que se encontra a aldeia indígena caingangue, que recebeu investimento próximo de R$ 8,5 milhões com novas casas, escolas e centros de integração.

Último local ainda em obras dentro do empreendimento de 33,4 quilômetros, o trecho entre Estrela e Bom Retiro do Sul ainda carece de camada asfáltica e diversas obras menos complexas. É neste ponto, também, que se encontra a aldeia indígena caingangue, que recebeu investimento próximo de R$ 8,5 milhões com novas casas, escolas e centros de integração.

Mesmo com poucos serviços a finalizar, um imprevisto deve atrasar ainda mais os planos do Dnit e do consórcio formado pelas empresas Conpasul, Cotrel, Iccila e Momento. No momento, as quatro consorciadas enfrentam dificuldade para comprar o material para aplicar a última camada do pavimento no trecho de 2,6 quilômetros em execução.

Isso porque o cimento asfáltico de petróleo (CAP) é vendido aqui no RS pela Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), unidade da Petrobrás em Canoas, mas o produto não está disponível faz quase um mês. Há a possibilidade de buscar o material na refinaria de Araucária, no Paraná, o que acarretaria mais gastos. Entretanto, o contrato firmado com o Dnit não prevê qualquer aumento de valor nesse quesito.

A expectativa é de que a Refap volte a oferecer o produto ainda no fim deste mês. Só a partir disso as quatro empresas devem iniciar a última etapa da pavimentação asfáltica naquele trecho. Após, devem precisar de pouco mais de 15 dias para concluir os serviços nos 2,6 quilômetros, bem como toda a sinalização daquele trajeto ainda em obras. Com isso, a liberação total deve ocorrer no fim de maio.

Também em Estrela, em um trecho já duplicado e liberado para o tráfego de veículos, nas proximidades da localidade de Santa Rita, estão previstos dois grandes investimentos. Um desses consiste na construção de 100 lotes comerciais e industriais, com preços que devem variar em torno de R$ 500 mil. Do outro lado da via, haverá um novo paradouro.

Também em Estrela, em um trecho já duplicado e liberado para o tráfego de veículos, nas proximidades da localidade de Santa Rita, estão previstos dois grandes investimentos. Um desses consiste na construção de 100 lotes comerciais e industriais, com preços que devem variar em torno de R$ 500 mil. Do outro lado da via, haverá um novo paradouro.

Petrobrás confirma escassez

A reportagem contatou com a empresa estatal para verificar os motivos. Em nota, a Petrobrás confirma a escassez do material, mas garante que a falta do CAP já estava pré-anunciada. De acordo com a íntegra do texto enviado, a estatal “realiza periodicamente paradas programadas de manutenção em suas refinarias”, e a “operação das unidades é interrompida para inspeção e manutenção de equipamentos com objetivo de garantir a segurança e a confiabilidade operacional.”

Ainda de acordo com a estatal, a Refap “encontra-se em parada programada desde o dia 15 de março.” Além disso, cita que, como parte do planejamento dessa intervenção, “houve acúmulo prévio do produto nos tanques da refinaria e também foi disponibilizado volume adicional na Repar, em Araucária (PR). Por fim, garante que “não houve desabastecimento ao mercado”, e o “retorno à operação e fornecimento está previsto para início de maio.

Comunidade aguarda e elogia

Morando às margens da rodovia, próximo à divisa entre Bom Retiro do Sul e Estrela, Vianei Farias é trabalhador autônomo e depende do movimento da rodovia para o sustento. Além de auxiliar no trabalho de algumas oficinas mecânicas, ele também vende frutas e verduras. “O fluxo de veículos e de clientes tem aumentado bastante. Mas as obras atrapalham um pouco. Poucos param por aqui”, diz.

Em Paverama, trechos duplicados foram liberados ainda em 2014. Hoje, há pontos com boa qualidade de asfalto e também pontos com alguns desníveis e remendo de buracos. É também nesta região que surgiram alguns dos principais novos empreendimentos às margens da nova pista. Moradores relatam diminuição no número de acidentes.

Em Paverama, trechos duplicados foram liberados ainda em 2014. Hoje, há pontos com boa qualidade de asfalto e também pontos com alguns desníveis e remendo de buracos. É também nesta região que surgiram alguns dos principais novos empreendimentos às margens da nova pista. Moradores relatam diminuição no número de acidentes.

Para o morador de Tabaí, José Rodrigues de Souza, que trabalha em uma lavagem de veículos às margens da rodovia e bem em frente ao ponto inicial da obra de duplicação no município, o principal benefício do empreendimento é a segurança. “Apesar do atraso, que todos já esperávamos, precisamos elogiar a segurança que a obra trouxe. Nunca mais morreu ninguém. E eu perdi muitos amigos aqui na frente mesmo.”

Histórico do empreendimento

A duplicação dos 33,4 quilômetros entre o prédio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Tabaí e o trecho já duplicado da rodovia em Estrela iniciou em novembro de 2010. Faltam apenas 2% da obra. Restam ser finalizadas a pavimentação e a sinalização de 2,3 quilômetros, próximos do acesso a Bom Retiro do Sul e da comunidade de Linha Glória.

Já foram investidos R$ 202,8 milhões. O Dnit reserva R$ 6 milhões para conclusão do empreendimento na estrada apelidada de Rodovia da Produção pelos empresários, e de Rodovia da Morte, pelos policiais. Hoje, é uma das principais vias de escoamento para a produção de grãos, ligando a Região Metropolitana com os vales do Taquari, Planalto e Noroeste e o estado de Santa Catarina.

Desde o início dos serviços – inicialmente previstos para serem finalizados em 2013 –, a obra ficou 41,7% mais cara em relação ao valor original contratado, que era de R$ 147,4 milhões. Foram mais de R$ 60 milhões em aditivos nestes quase oito anos de serviços. Além de demora na liberação de jazidas e falta de recursos federais, a construção de uma nova aldeia indígena também atrasou a obra.

Na cidade de Tabaí, nas proximidades do posto da PRF, está o ponto inicial do empreendimento iniciado em 2010. Naquele trecho, além da construção da elevada, foram instaladas novas vias laterais para moradores locais evitarem o tráfego pela rodovia. Hoje, a qualidade do asfalto segue boa para a trafegabilidade de veículos leves e pesados.

Na cidade de Tabaí, nas proximidades do posto da PRF, está o ponto inicial do empreendimento iniciado em 2010. Naquele trecho, além da construção da elevada, foram instaladas novas vias laterais para moradores locais evitarem o tráfego pela rodovia. Hoje, a qualidade do asfalto segue boa para a trafegabilidade de veículos leves e pesados.

Novos empreendimentos

Mesmo com a duplicação ainda incompleta, diversos novos empreendimentos já se instalaram às margens da pista nova. Na divisa entre Paverama e Taquari, por exemplo, o tradicional Posto do Rosinha ampliou os negócios e inaugurou um novo paradouro, em frente ao local antigo, no sentido interior-capital. São cerca de mil metros quadrados.

No mesmo sentido da via, mas no quilômetro 364, em Fazenda Vilanova, também está quase finalizada a construção de outro posto de combustível. Um pouco antes, em Estrela, na localidade de Santa Rita, o Richter Group, de Lajeado, construirá um polo empresarial em frente a um futuro paradouro. Serão cem lotes comerciais e industriais. Os serviços de terraplenagem estão avançados.

Líderes divergem sobre pedágios

A BR-386 também é enredo de uma outra novela: a concessão das rodovias federais à iniciativa privada. Hoje o processo iniciado com audiências públicas em fevereiro de 2017 está no gabinete do procurador Marinus Marsico, do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MPTCU). O processo entrou no dia 3 de novembro de 2017 no TCU e ainda não há decisão.

O relator do processo no TCU é Bruno Dantas Nascimento. Inicialmente, e referente à BR-386, o tribunal avalia a possibilidade de duas praças de pedágios entre Lajeado e a Região Metropolitana. Uma em Montenegro e outra em Paverama. Há outros dois pontos de cobrança previstos para essa rodovia, em Fontoura Xavier e Tio Hugo.

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Ainda no ano passado, o Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat) avalizou essa decisão por duas praças entre Lajeado e Porto Alegre, mediante promessa da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) de realizar diversas obras de infraestrutura na região, dentro de prazos menores, entre essas a duplicação da BR-386 entre Lajeado e Carazinho.

Entretanto, ainda em novembro do ano passado, o diretor de Relações com Entidades da Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC-VT), Oreno Ardêmio Heineck, encaminhou ofício à Federasul, solicitando apoio da entidade para impedir a instalação de duas praças de pedágios entre a região e a capital gaúcha. No texto, ele cita uma possível “fuga dos empreendimentos”.

Questionada, a presidente do Codevat, Cíntia Agostini, diz que uma mudança no edital pode acarretar perda de investimentos e aumento na tarifa de outras praças. A concessão envolve outras rodovias – BRs 101, 390 e 448. “É considerada única. São 476 quilômetros com sete praças. Uma a cada 60 quilômetros. É um projeto linear. Não se viabiliza com menos praças. Se tiver uma só, terá o dobro do valor”, diz. “A CIC já se posicionou favorável às duas praças”, finaliza.

Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br

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