Nelson Laércio Scheibler, de Mato Leitão, projeta reduzir em 50% a área destinada ao cereal neste ciclo. Entre os motivos, estão o preço baixo e a alta nos custos. Na safra passada, cultivou 30 hectares e colheu 540 sacos. “O excesso de chuva fez a produtividade despencar para 1.080 quilos por hectare. O único lucro que tive foi a palha”, diz.
Este ano, a exemplo da colheita passada, o grão será estocado e aproveitado para confecção de ração, depois vendida para produtores de leite. Segundo Scheibler, é uma das únicas alternativas para manter um rendimento mínimo. “Misturo o cereal com milho. O resultado é um alimento de alta qualidade para os animais”, comenta.
Para tornar a lavoura viável, estima ser necessário colher acima de 30 sacas por hectare e receber R$ 35. ‘Hoje vendemos o saco de 60 quilos por R$ 25 e pagamos o mesmo valor pelo farelo, cujo peso do saco é de apenas 30 quilos. É desestimulante”, finaliza.
A pouco mais de um mês de iniciar a semeadura, o cenário é de indefinição. De acordo com Hamilton Jardim, presidente da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), o desestímulo é tamanho que “devemos chegar ao fundo do poço” em termos de área plantada.
A estimativa é de chegar a 580 mil hectares, a menor área desde 2001, quando foram semeados 615 mil hectares. Na safra anterior, o grão ocupou 699,2 mil hectares no estado.
Entre os motivos para o recuo, enumera a desvalorização do cereal (R$ 32,77), custos altos e a frustração no ciclo anterior. “Para empatar os custos atuais, teríamos que colher 60 sacas. No último ciclo, a média foi de 29”, compara. Um dos únicos fatores positivos é a projeção de um inverno seco e frio, ideal para a cultura.
O engenheiro agrônomo Claudio Dóro classifica a cultura como de alto risco. Para ele, o rendimento das lavouras de milho e soja terá influência direta na área destinada. “Caso a lucratividade fique abaixo do esperado, existe a possibilidade de muitos apostarem no grão de inverno”, afirma.
Exterior como destino
Presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro-RS), Paulo Pires aposta numa mudança de comportamento. “Produtores começam a cultivar variedades destinadas ao mercado exterior. Ao estimular a exportação, ajudamos a melhorar os preços de quem optou pelo trigo pão”, aposta.
Segundo Pires, ao “enxugarmos um volume de um milhão de toneladas de trigo em um ano de safra normal e, dentro da relação de oferta e demanda, valorizamos o trigo pão também”, explica.
Apesar do descontentamento do produtor, ele tem a consciência clara de que é necessária a manutenção de uma cultura de inverno para produzir grãos, salienta.
Além da manutenção de área, há uma perspectiva de melhoria nos preços, um dos principais problemas enfrentados nas duas últimas safras, especialmente em 2016, quando os triticultores experimentaram uma safra normal, sem quebra e com a qualidade exigida, mas com pouca valorização.