O Centro de Educação Profissional (CEP) da Univates comemora 20 anos de atuação com uma programação voltada para reflexões sobre as exigências do mercado e a relação entre o sucesso profissional e a qualidade de vida.
Iniciado nessa sexta-feira, 13, o evento segue até este sábado e tem palestras gratuitas com o escritor e especialista em comportamento humano Gabriel Carneiro Costa. Formado em Relações Públicas, Costa é graduado em Personal & Professional Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching.
Palestrante internacional, estuda as áreas de relações humanas, psicologia motivacional, neurolinguística e educação emocional. Crítico das fórmulas prontas para o sucesso, Carneiro acredita na busca pela realização pessoal e profissional por meio do autoconhecimento e de pequenas ações concretas que pavimentam o caminho para os grandes objetivos de vida.
Entrevista
“O mundo não se transforma por pensamento”
A Hora – Qual o perfil de profissional que pode alcançar sucesso e realização pessoal na sociedade contemporânea?
Gabriel Carneiro Costa – A primeira coisa é entender qual o critério individual do que é sucesso e o que é realização pessoal. Esse é um critério que mudará ao longo da vida várias vezes. Se eu não souber neste momento o que é sucesso e realização pessoal para mim, nunca saberei se alcancei. A nossa tendência é utilizar um modelo comparativo de felicidade, sempre pensando em se eu alcancei o que os outros alcançaram. Dessa forma, vou em busca da realização pessoal e profissional de sucesso que os outros definiram. A primeira questão é definir para mim e a segunda é partir para a ação. O mundo não se transforma por pensamento. O pensamento é a base, mas é quando decido fazer que as coisas podem se transformar. Não existe realização pessoal tendo como critério o que o mundo está fazendo comigo, e sim no que eu estou fazendo com o mundo.
As novas gerações estão preparadas para enfrentar as dificuldades impostas pelo mercado de trabalho?
Costa – Acredito que estão muito mais preparadas para ser ágeis, para errar, aprender, desaprender e reaprender. A mobilidade das novas gerações é um grande benefício. São gerações que pensam mais sobre o que querem da vida, enquanto as anteriores se permitiam menos a isso. O grande problema das gerações mais novas é a baixíssima tolerância às frustrações. Tudo tem que ser para ontem e se algo não é como eu quero, eu troco. Existe uma baixa tolerância a suportar um ambiente de frustração. Isso se torna um problema porque faz com que não crie raízes e vínculos. Existe essa dificuldade em aceitar que para sair de estagiário e se tornar presidente existem etapas, e não um pulo mágico. O mundo não vai te reconhecer apenas porque você acha que merece. Vai reconhecer por muitos outros fatores, em especial pela sua capacidade de agir.
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A imersão tecnológica e a necessidade de ser multifunções têm impacto sobre a saúde dos trabalhadores?
Costa – As tecnologias e o ambiente de pressão que vivemos hoje nas empresas causam transtornos. Nunca tivemos uma geração com tanta crise de ansiedade, depressão, bipolaridade, transtornos de humor, síndrome do pânico. Entendo o autoconhecimento como a única chave para reverter tudo isso, mas preventivo. Eu busco autoconhecimento não porque já estou mal, e sim para que possa suportar um cenário que hoje é mais volátil, mais rápido, e com mais pressão. Para, nessa busca, descobrir o que é importante para mim e assim estabelecer com os outros um ambiente. Se o ambiente das empresas não anda muito sadio, é preciso lembrar que ele é criado por pessoas e não por máquinas. É preciso dar pausas para refletir e poder dialogar uns com os outros.
Como equilibrar o trabalho com a qualidade de vida?
Costa – Temos que entender, primeiro, o que é qualidade de vida. Tem pessoas que são felizes por estar constantemente trabalhando, envolvidas com vários projetos. Se a qualidade de vida é trabalhar pouco, então, preciso compreender que trabalhar pouco e ter uma grande carreira não são coisas compatíveis. Cada escolha é uma renúncia. O que estou disposto a renunciar na minha carreira para ter qualidade de vida e o que estou disposto a perder na qualidade de vida para ganhar na carreira? Precisamos lembrar que nada é eterno. Posso neste momento dar mais foco para a minha carreira e deixar outros aspectos que são importantes na qualidade de vida. Essa pergunta precisa se manter fixa na cabeça, se tenho a qualidade de vida que espero, e se não tenho, o que é possível fazer. Não o que é o ideal, mas sim o possível. Ao invés de idealizar a qualidade de vida perfeita, o casamento perfeito, emprego perfeito e o saldo bancário perfeito, ter mais ação. O que posso fazer amanhã para ter um pouco mais de qualidade de vida?
Diante dos desafios contemporâneos, crescem publicações e debates com tutoriais para buscar o sucesso. Existe uma receita pronta para esse caminho?
Costa – Lancei em novembro do ano passado o livro Não me Iluda, que questiona até que ponto são reais a promessa de autoajuda. Essa ideia de cinco passos para ser feliz, dez dicas para ficar rico e coisas do gênero, tem a validade de nos inspirar. Seguir fórmulas prontas é um grande problema. Até porque, quem criou o método antes não seguiu fórmula de ninguém. Temos que fazer nosso caminho e usar outras pessoas como inspiração, não como receita pronta. Porque você vai seguir os sete passos e não vai ficar rico. Depois vai seguir os dez passos, os segredos dos milionários, e também não. Tem um mercado gigantesco baseado nessa ideia. O que temos é que traçar um plano para nossos sonhos e pensar o que podemos fazer nos próximos dez dias que fique um passo mais perto dele. É pensar em coisas tangíveis, dar pequenos passos e reconhecer esses avanços. Ter consciência de que já faltou mais para alcançar. Tão importante quanto saber o quanto falta é reconhecer o quanto avançou.
Thiago Maurique: thiagomaurique@jornalahora.inf.br | Filipe Faleiro: filipe@jornalahora.inf.br