“Pessoas esquecem que os rios existem”

Vale do Taquari - POLUIÇÃO CONTíNUA

“Pessoas esquecem que os rios existem”

Coordenador do Viva o Taquari-Antas Vivo, Gilberto Soares, frisa proposta educativa do programa

“Pessoas esquecem que os rios existem”
Vale do Taquari

Voluntários foram às margens do Rio Taquari em seis cidades para a 12ª edição do Projeto Viva o Taquari-Antas Vivo. A organização estima a presença de quase 800 pessoas na ação deste ano. Na manhã desse sábado, foram recolhidos quase quatro mil quilos de lixo.

A coordenadora da Parceiros Voluntários de Lajeado, Gilmara Scapini, avalia a edição deste ano como positiva. “A mobilização foi de acordo com a realidade de cada município.”

Segundo ela, a avaliação dos resultados será hoje pela comissão organizadora dos municípios de adesão. “Só então teremos uma visão simultânea e suas percepções da ação pontual”, antecipa.

Para fortalecer a relação da sociedade com os recursos naturais, Gilmara acredita que seja necessário repensar prioridades. “É assumir que a natureza é a base da existência e da sobrevivência humana. O desafio se faz em construir e reinventar mediações sobre a relação, capazes de articular a vida social e o meio ambiente.”

Entre os voluntários, estavam acadêmicos da Univates, grupos de escoteiros, representantes de ONGs e funcionários de empresas. Pessoas sem vinculação também participaram. “Essa participação espontânea tem crescido. É uma mostra que estamos conseguindo propagar o ideal do projeto”, realça Gilmara.

A edição 2018 ocorreu em Arroio do Meio, Bom Retiro do Sul, Cruzeiro do Sul, Venâncio Aires, Estrela, além de Lajeado.

Pelo segundo ano consecutivo, Estrela foi a que mais coletou lixo do rio

Pelo segundo ano consecutivo, Estrela foi a que mais coletou lixo do rio

Entrevista

A questão é a educação. Isso é que muda a relação social

Coordenador do programa desde o nascimento do Viva o Taquari-Antas Vivo, Gilberto Soares, ressalta o crescimento da iniciativa. Mais do que recolher lixo, alerta para o caráter educativo da ação. Como algo para fazer a sociedade pensar sobre a sua relação com os recursos naturais.

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A Hora – A iniciativa ganhou respaldo e reconhecimento regional. Tendo todo esse impacto, por que ainda se repete o descarte de lixo na beira do rio?

Gilberto Soares –Vou te responder com uma pergunta. O lixo que nós vemos, está sendo recolhido, mas por que tu acha que o pior lixo, aquele que não vemos, continua sendo jogado no rio?

Se refere ao esgoto?

Soares – Um deles. Esse é o principal. A questão é a educação. Isso é que muda a relação social. Quanto mais maduros formos, mais conscientes seremos. Desde a primeira edição, a minha maior preocupação é que não fosse apenas o recolhimento de lixo.

Que ele efetivamente fosse um episódio provocado em um determinado dia, em um determinado local, em uma determinada hora, para que a sociedade se surpreenda e começasse a refletir. O que eles estão fazendo? Qual o motivo? Quantos eles são?

Desde a primeira edição, batemos na tecla que temos de fazer mais do que recolher lixo. No futuro, esperamos ter um determinado dia, com manifestações artísticas de contemplação e homenagem ao rio.

Seria transformar a ação voluntária em uma intervenção urbana propriamente dita?

Soares – Exatamente. Em Venâncio Aires, na primeira edição lá, levaram a orquestra da cidade. Um concerto na beira do rio. Isso é maravilhoso. Eu sonho um dia nós realmente fazermos. O mais legal do Viva o Taquari Vivo é o fato de todas as pessoas serem protagonistas.

Além de transformar o Viva o Taquari/Antas Vivo com as intervenções, para onde vai o programa?

Soares – Estamos ganhando capilaridade na região. Provavelmente Encantado, que é um município importantíssimo na região alta, e pela relação que a comunidade tem com o rio, a cidade vai entrar. A ampliação para mais cidades é a realização de parte do nosso sonho.

Quando o projeto foi criado na Acil, levamos para Lajeado e Estrela. Pois as bacias hidrográficas funcionam como vasos comunicantes. Toda ela se interliga.

Em que momento histórico, na sua avaliação, vale aquela máxima Lajeado virou as costas para o rio?

Soares – Acredito que foi após a construção da eclusa de Bom Retiro do Sul, quando desaparecem as praias da região. As pessoas perdem o contato com o rio. Se tivesse a praia, nesse verão, a migração seria menor. As pessoas aproveitariam o rio.

Mas com esse grau de poluição que temos hoje?

Soares – Não sei se teríamos esse grau de poluição. Talvez sim. O mais importante de tudo isso, quando deixam de ver o rio, de compartilhar essa riqueza, as pessoas esquecem que os rios existem. A cidade se afastou. O centro era na beira do rio. Não só a cidade, mas as pessoas também se afastaram daquele que era o principal patrimônio.

A alta competitividade a qual nos submetemos fez com que deixássemos de nos importar com o impacto que causamos. Essa é uma realidade. É um comportamento burro.

Filipe Faleiro: filipe@jornalahora.inf.br

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