Cristina Pott, 39, é professora de desenho nos núcleos de Cultura de Teutônia. Já ensinou a técnica para mais de 1,5 mil crianças. Segundo ela, a arte desperta uma percepção diferente do mundo.
• Qual é a sua inspiração na hora de desenhar?
Cada um tem um jeito particular de desenvolver e pensar no momento de colocar no papel. Eu penso muito na expressão do olhar. A primeira coisa que penso é de que jeito desenharei os olhos, a cor do olho, se estará olhando de frente, ou de lado, etc. Depois, dependendo da expressão do olhar, triste ou alegre, é que vêm as cores. Então, nesta fase em que estou agora, a minha inspiração maior é pensar no olhar, e no que eu quero transmitir com ele.
• Quais são os principais benefícios que o desenho proporciona?
Quando se aprende a desenhar, a primeira coisa que se desenvolve é um olhar apurado para tudo o que está ao redor. É enxergar com outros olhos. Essa é a coisa que eu mais escuto das crianças: “Profe, eu vi um pôr-do-sol hoje que era uma pintura”. Ou seja, quando ela vê o mundo lá fora em forma de desenho, eu percebo que despertei algo naquela criança. Com os adultos é assim também. Eles levam tudo para o mundo do desenho, da arte. É uma percepção diferente das coisas.
• Qual a importância da educação artística e do desenho para o desenvolvimento das crianças?
Como é um curso específico nos núcleos de Cultura, há um grande aprendizado. Aqui as crianças têm a liberdade de escolher o que vão desenhar. Assim, vão aprendendo a técnica. É claro que, algumas vezes, o professor também propõe o que será trabalhado em grupo. Eles aprendem a gostar do que fazem e a ter orgulho disso. Um lápis e papel a gente tem em qualquer lugar. Se lá na vida adulta a pessoa estiver meio estressada, ela saberá desenhar para aliviar uma tensão. O curso é indicado como ‘arteterapia’ por psicólogos aqui da região, inclusive. Eu atendo crianças com déficit de atenção para aprenderem a se concentrar melhor, por exemplo.
• Em uma sociedade cada vez mais digital, como estimular os jovens a apreciar as artes?
Isso é uma das coisas mais complicadas, não só para os jovens como para nós adultos. Para ser artista, a pessoa tem que se dedicar, de corpo e alma. Não pode deixar outras coisas causarem fugas dos pensamentos. Quanto mais envolvido estiver, mais se cria. Hoje a tecnologia está na mão de qualquer um. Na minha aula, eles podem trazer o celular para fazer pesquisas sobre trabalhos ou artistas. Outra coisa é o fone de ouvido para escutar música enquanto desenha para se concentrar melhor. Tento aliar a tecnologia, eles se sentem mais à vontade.
Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br