“A minha vida é cuidar dos sapatos”

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“A minha vida é cuidar dos sapatos”

Juarez Berté tem 51 anos e trabalha com sapatos faz quase 30. Já atuou em chão de fábrica e gerenciou equipes. Hoje dispensa propostas e segue na lida rústica e artesanal da profissão. • Quando você começou a trabalhar com…

“A minha vida é cuidar dos sapatos”

Juarez Berté tem 51 anos e trabalha com sapatos faz quase 30. Já atuou em chão de fábrica e gerenciou equipes. Hoje dispensa propostas e segue na lida rústica e artesanal da profissão.
• Quando você começou a trabalhar com sapatos?
Eu nasci na localidade de Rui Barbosa, hoje município de Canudos do Vale, e que antes pertencia a Lajeado. Meus pais vieram logo para uma cidade maior, Estrela. Lá, logo aos 13 anos, fui trabalhar no chão de fábrica. Meu primeiro trabalho lá dentro era passar a cola nos sapatos. Como qualquer um que começava na época. Era duro. Mas foi um aprendizado.
• Logo aos 13 anos?
Não tinha outra opção. Era um “gurizão” recém-chegado do interior e todos estavam em busca de trabalho. Lembro que o nome da primeira empresa onde trabalhei era EstreSul. Depois ela virou Comex, que tempos depois acabou fechando. Mas eu logo fui crescendo nas empresas. Virei auxiliar de contramestre, depois contramestre. Assumi gerências. Passei por Santa Clara do Sul e Cruzeiro do Sul. E tudo isso me deu experiência para abrir meu negócio próprio, um ateliê para atuar como terceirizado.
• E como você chegou a esse ponto no centro de Lajeado? Parece ser um dos últimos sapateiros?
Pois é. Além de mim, tem apenas alguns poucos por aí. A maioria mais experiente que eu. Eu cheguei aqui por acaso. O ponto era antigo, mas o sapateiro morreu. Eu assumi no lugar dele faz uns quatro anos. Já estou aposentado, mas não dá para ficar parado, né? A minha vida é cuidar dos sapatos. E o meu trabalho manual aqui rende o suficiente para eu viver tranquilo. O antigo dono deixou também uma clientela fiel.
• São clientes de idades variadas?
O público é bem diversificado. Vem de tudo. E tem aumentado. Afinal a crise pegou todo mundo, e muitos querem consertar em vez de comprar novo. Por isso é uma das profissões mais antigas. Mas eu acho que o público maior é formado pelas mulheres. Elas são mais apegadas aos sapatos. Mas têm muitos homens apegados também. Certa vez, um trouxe um sapato que havia comprado lá em Jerusalém. Imagina. Era sagrado para ele.
• É melhor trabalhar em grandes fábricas ou aqui neste antigo e tradicional ponto?
A diferença de trabalhar em grandes empresas é o estresse. Esses cabelos brancos foram as fábricas que me trouxeram. Aqui é mais tranquilo. Digamos que se hoje me oferecerem uma gerência eu agradeceria. Mas negaria. Prefiro ficar aqui com meus troquinhos. É mais prazeroso esse trabalho artesanal. É o que eu gosto de fazer. Quero isso pelo resto da vida.

Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br

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