Normalmente acordo com tempo suficiente para fazer tudo com calma. Gosto de alguns rituais, como acordar as minhas filhas e ficar alguns minutinhos no quarto com elas, dando um chameguinho, observando seus olhos abrirem-se para um novo dia. São minutinhos de troca. Troca da poderosa energia do amor. Essa troca continua acontecendo quando, por exemplo, penteio seus cabelos e preparo com carinho os seus lanches.
Pequenos gestos de amor, de carinho podem ecoar para uma vida toda. Lembro-me de uma vizinha que costumava me chamar para comer bolinhos de chuva sempre que ela os fazia. O detalhe não eram os bolinhos, mas sim, a mesa posta no capricho: toalha de mesa, flores naturais em um copo, xícaras e pratinhos. Um ritual que demostrava a dedicação em fazer com que nos sentíssemos acolhidos, bem-vindos.
Aprendi com ela que esse capricho não era frescura, menos ainda luxo. Era atenção, troca de amor. Até hoje, quando recebo alguém na minha casa, seja para um café da manhã ou um jantar festivo, tomo o cuidado de caprichar em tudo que estiver ao meu alcance, como uma forma de entregar um pouco de carinho ao visitante.
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Num passado nem tão remoto, costumava-se trocar cartões com nossos amigos. Algumas pessoas inclusive faziam cartões artesanais, exclusivos para cada pessoa, com dedicatórias manuscritas. Hoje os tempos mudaram e replicamos mensagens de whatsApp. Até é legal, mas eu, em particular, penso que a troca de amor, de atenção, não é mais a mesma. Só quem viveu a era dos cartões, cartas e caixas de correio sabe do que estou falando.
Mas enfim, a questão toda aqui é que faz bem dar e receber amor. Perceber que alguém se dedicou, pensou e cuidou para que você se sentisse bem. Que você não faz parte de um comando de copiar e colar. Essa percepção causa eco na memória, na alma, na autoestima. Um eco positivo que perdura uma vida toda e que faz de nós seres mais humanos mais felizes, mais capazes.
Vale pensar como anda a nossa dedicação para com as pessoas. O quão gentil são nossos gestos, o quão aconchegante é a nossa casa, nossa companhia. Que memórias estamos construindo. Vale viver por mais minutos de amor.
Opinião
Raquel Winter
Professora e consultora executiva