Mulher protagonista do nascer

Saúde

Mulher protagonista do nascer

Com hospital especializado em Muçum, parto humanizado ganha mais adeptas no Vale do Taquari

Mulher protagonista do nascer

A emoção em gerar e dar à luz a um filho é considerada por mães e pais um dos momentos mais fortes da vida. Seja por cesárea ou parto normal, a sensação de ter um filho nos braços pela primeira (e segunda) vez continua fresca na memória de Fabíula Emanuelli França, 35, e Fernando Arenhardt, 35. O nascimento da primeira filha do casal, Clarissa, 6, ocorreu por cesariana. “Foi um momento lindo e de grande emoção, mas não pude participar muito. Quando cheguei na sala, ela já estava sendo tirada da barriga pelo médico”, relembra Arenhardt.

Ao falar da experiência, Fabíula diz que a cesariana foi escolhida por indicação do médico e por motivos pessoais. “Eu nasci de cesariana, assim como a maioria das pessoas na minha família. Era uma decisão natural para mim em optar pelo método cirúrgico de nascimento”, relata.

Hoje com 1 ano e meio, o segundo filho do casal, Eduardo, nasceu de parto normal humanizado. “Ficamos mais maduros e pesquisamos melhor antes de decidir como o Eduardo nasceria. Dessa vez, estudamos e, com auxílio de uma doula, conhecemos cada etapa desde a gestação até o parto. Percebemos que existe um grande benefício para a mãe, o bebê e também ao pai, que participa de fato do nascimento de seu filho”, explica Arenhadt.

De acordo com dados de 2016 do Ministério da Saúde, 84% dos brasileiros nascidos na rede privada de saúde foram por cesariana. Na rede pública, são 40%. Segundo a Organização Mundial da Sáude (OMS), a porcentagem ideal gira em torno dos 15%. Em Lajeado e Estrela, os números ultrapassam a média nacional. Em 2016, dos quase 1,4 mil partos realizados no Hospital Bruno Born (HBB), mais de 900 foram de cesariana – o equivalente a quase 65%. No Hospital Estrela, as cesarianas representaram 75% dos 964 partos de 2015.

Conforme a fisioterapeuta e doula, Sabrina Fritsch, 35, no geral, as mulheres escolhem a cesariana por não querer sofrer. “O parto normal no Brasil geralmente submete a gestante a dores desnecessárias. Nos hospitais, por exemplo, ele costuma ser feito com a mulher deitada, o que dificulta a saída do bebê”, explica.

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Posição sem imposição

Sabrina afirma que a posição da mulher deitada dificulta a movimentação dos ossos para abertura da pelve e acaba por tornar o parto ainda mais difícil e demorado. “No parto humanizado, as mamães vão explorando o quarto, testando posições até que encontrem uma mais confortável. Algumas parem agachadas, na banqueta, outras em pé ou até mesmo dentro da banheira. Diferente do que os hospitais normalmente impõem, não existe uma única maneira de parir”, alerta.

Além da imposição de regras na hora de parir em hospitais que não aceitam o parto humanizado, é praxe a utilização da Ocitocina. “Claro que o parto é e sempre vai ser muito dolorido, mas a mulher já libera Ocitonina naturalmente. A injeção do hormônio aumenta a dor abruptamente e na grande maioria das vezes é usada apenas para acelerar o nascimento, o que aumenta as chances de sofrimento para o bebê”, diz.

De acordo com Fabíula, após participar do grupo Nascer Sorrindo, que reúne pessoas interessadas em conhecer e discutir as formas de nascimento, gestação e parto, a mamãe explica que resolveu esperar o tempo da criança. “Hoje não temos médicos suficientes para acompanhar todos os partos normais. O meu trabalho de parto, por exemplo, durou mais de 20 horas. É de se entender. Mas a cesariana retira a criança antes da maturação completa dos pulmões e isso pode prejudicar o bebê. Ele sabe a hora de nascer”, argumenta.

Conforme o Ministério da Saúde, a cesariana é uma operação rápida, mas também cara que eleva em até 120 vezes as chances de problemas respiratórios para o recém-nascido e em três vezes o risco de morte materna.

Parto humanizado no Vale

Com hospitais bem conceituados em Lajeado e Estrela, surgiu uma terceira alternativa às mamães que desejam parir em um ambiente mais acolhedor. O Hospital Beneficente Nossa Senhora Aparecida, de Muçum, pioneiro com infraestrutura para parto humanizado no Vale do Taquari, projetou duas suítes com banheira aquecida e cama de casal, preparadas para receber as gestantes e seus acompanhantes.

A terapeuta ocupacional Carolina Mika Ushiwata, 35, de Lajeado, teve os dois filhos por parto humanizado e o segundo foi realizado no hospital de Muçum. “O nosso primeiro filho nasceu em casa e a segunda na suíte do hospital. Foi uma experiência muito confortável parir em um ambiente preparado para esse momento. O meu marido pôde me ajudar bem mais e eu me senti mais segura”, relembra Mika, que segurava no colo a filha Rebeca, de apenas 20 dias.

Conforme o marido Anderson Massami Kuamoto, 35, o conhecimento é o maior aliado no momento do trabalho de parto. “Nós dois estudamos juntos e aprendemos todos os passos do parto. Estávamos muito bem instruídos pela doula, o que nos rendeu um momento importante e único para a família. Sempre achei injusto o homem não poder participar desse momento lindo e com a escolha do parto humanizado pude acompanhar tudo bem de perto”, relata.

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Equipe do nascer

Seja em casa ou no hospital, a doula Sabrina explica que é sempre necessário o acompanhamento de profissionais qualificados. “O parto é algo extremamente natural para o ser humano. Mesmo assim, requer cuidados. Então devem acompanhar um médico obstetra e/ou enfermeira obstetra, pediatra e, sempre que for o desejo da mulher, uma doula”, esclarece.

Ao falar sobre o momento do nascimento dos filhos, Mika lembra da forte emoção de parir um filho com as próprias forças. “Toda a mulher, exceto em alguns casos em específico, tem capacidade de parir os próprios filhos. E quando a Rebeca e o Guilherme nasceram, eles saíram do útero e ficaram muitas horas no meu peito, sem serem separados.”, relata.

Já a experiência de Fabíula e o marido foi um pouco diferente. No nascimento da primeira filha, feito por cesariana, ela não teve contato imediato com a criança. “Eles tratam como um procedimento cirúrgico, então, eu fui para o quarto e fiquei esperando. Foram sete horas. Todo mundo já tinha visto a minha filha menos eu. Não é legal essa separação entre mãe e filho que ocorre na cesariana”, relembra.

Também com experiência de parto humanizado, a doula Sabrina lembra do nascimento das filhas como o momento mais emocionante da vida. “Eu lembro que na semana seguinte do nascimento da nossa segunda filha eu e meu marido nos olhávamos e começavamos a chorar emocionados. Definitivamente esse momento em nos uniu ainda mais. Dói muito, mas ainda assim vale a pena”, finaliza.

 

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