Em sua opinião, o próximo presidente da República deve ser alguém que acredite em Deus? Segundo pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria e do Ibope, 79% dos eleitores brasileiros pensam que sim.
Como o Brasil não é uma República teocrática como o Irã, é importante acreditar em Deus para ser seu presidente? Claro que não! Ateus e crentes são cidadãos rigorosamente iguais, portanto, uns e outros têm iguais direitos de exercer qualquer cargo público, inclusive o de presidente da República.
Por que, então, essa opinião tão majoritária? Deixando de lado os religiosos fanáticos, que sempre os há, creio que ela revela preferências mais substantivas. Por exemplo: 87% dos eleitores acham que o futuro presidente deverá “ser honesto e não mentir em campanha”, 84% pensam que é fundamental “nunca ter se envolvido em casos de corrupção”, 82% que “deve transmitir confiança” e 76% que “deve ter pulso firme e ser decidido”.
Em suma, espera-se que nosso futuro presidente seja alguém íntegro! Ora, num país de forte tradição religiosa, onde os valores republicanos tiveram tão poucas oportunidades de ganhar a consciência pública, é natural que os eleitores associem integridade com religiosidade. É uma aposta, digamos assim. Em meio à esculhambação geral do país, quem sabe um pouco de fé ajudaria a colocar as coisas em ordem?
Para quem, como eu, pensa que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, a pesquisa revela coisas mais alentadoras sobre as tendências dos cidadãos brasileiros. Quando perguntados sobre os problemas que devem ter a atenção prioritária do futuro presidente, 44% responderam que ele deverá centrar sua atuação nas “mudanças sociais, com melhoria da saúde, da educação, da segurança e da desigualdade social”; 32% preocupam-se prioritariamente com a “moralização administrativa, o combate à corrupção e a punição dos corruptos”, e em terceiro lugar, com 21% das preferências, vem a “estabilização da economia, com queda definitiva do custo de vida e do desemprego”.
Ou seja, apesar de toda a promoção política da violência, que leva alguns pré-candidatos de triste figura a babarem de satisfação, os eleitores têm opiniões muito mais complexas e maduras sobre as causas dos nossos problemas.
Esses resultados devem ser cruzados com outra pesquisa, essa sobre intenção de voto no segundo turno, realizada pela Confederação Nacional do Transporte há poucos dias. A crer nos resultados, dos atuais pré-candidatos nem os que inspiram fervor religioso inspiram confiança nos eleitores. Nenhum deles, mesmo o atual campeão de votos, chegará à metade dos votos válidos e na maioria dos cenários os votos nulos e brancos são maioria, o que significa que, se o quadro não mudar, o futuro presidente terá a preferência de menos de um quarto dos eleitores, no máximo!
Assim, ao contrário do que dizem os conservadores, parece que o Brasil não está mal de eleitores. Está mal é de candidatos…
Opinião