De passagem pela cidade, o músico Carlos Magrão conversou com o A Hora sobre o andamento da carreira após interromper uma trajetória de mais de 30 anos ao lado de Osvaldir. Ele se apresentou ontem no 14º Jantar dos Costeiros, realizado no CTC.
O último show da dupla que popularizou Querência Amada foi em setembro de 2017, em Santa Cruz do Sul, na Oktoberfest. No próximo dia 31 de maio, Magrão grava o primeiro DVD solo, durante a Festa do Pinhão, em Lages. Há pouco mais de um ano, o gaúcho Carlos Eugênio Knop, 57, natural de Campo Novo, reside em Itajaí.
A separação foi uma decisão sua, né?
Sim. A dupla durou 33 anos e foi um tempo que deu certo. Mas eu precisava de uma liberdade maior para trabalhar. Com a dupla, o espaço era limitado. Queria trabalhar mais em família e trazer algumas coisas para mim, que passasse pelas minhas mãos. Tenho um trabalho cristão também, há mais de 10 anos, e com a dupla era difícil levar essa coisa paralela, por causa das datas.
Escolheu o segmento gospel por uma motivação pessoal?
Sim. A minha família toda pertence à Igreja Evangélica Luterana do Brasil há 11 anos. Eu tenho um DVD e um CD, que muita gente não conhece (Vamos Falar com Deus). Hoje, acho que temos que ter a Palavra junto com a gente. Não que eu não tivesse antes, mas eu tive conhecimento maior e muitas coisas boas aconteceram quando eu conheci Jesus de forma mais intensa. Isso me trouxe muita energia para poder trabalhar. Me apresento basicamente em igrejas. A gente já viajou para longe: Bahia, Espírito Santo – onde é muito forte a comunidade luterana. Mas eu não quis, de forma alguma, parar de cantar música gaúcha, como muita gente achou. Não posso deixar a minha carreira de 30 anos, com a qual fiz a minha vida, para cantar só música cristã.
Como o público recebeu a notícia da separação da dupla?
No primeiro momento foi um baque, porque, a gente tem muitos fãs por aí. Mas tive muito apoio. Em todos os lugares fui muito bem recebido. Até nem esperava que fosse tanto. Mas era uma coisa necessário.
E a relação com Osvaldir desde a separação? A amizade continua?
Claro. Somos comprades duas vezes: eu batizei a filha dele e ele batizou a minha. Só que agora eu estou em um outro momento, então a gente não tem a relação de pedir “como vocês está?”. Ele tem um grupo, se inseriu no Quinteto Nativo, está fazendo a história dele, e eu estou fazendo a minha. Apenas temos negócios para resolver, como a venda do ônibus, mas não tivemos brigas, como muita gente pensou.
Como tem sido a carreira solo?
Mudei um pouco no sentido de fazer um trabalho mais acústico, pois é mais barato. Hoje, o mercado não está para brincadeira. Se você não se adequar a uma série de coisas, não consegue trabalhar tanto. A gente precisa desenvolver coisas novas para o mercado.
Como a música gaúcha é recebida em SC?
A música gaúcha em SC é muito forte. Acho que só não é forte em Florianópolis. No fim de ano, a gauchada vai tudo para o litoral e ali se consome muito. SC me abriu os braços de uma forma que eu não esperava. Trabalho muito lá, até mais do que no RS.
Você vê surgirem novos bons nomes na música gaúcha?
Não tenho visto muitos. Há alguns nomes mas, fortemente, ainda não. Os festivais revelavam muitos artistas bons e, infelizmente, os festivais estão precários. Poucas cidades ainda têm festivais nativistas. Tocar música gaúcha tinha que ser lei. Na Bahia toca-se música baiana em qualquer horário. Aqui, não: tem que ser domingo de manhã, quando está todo mundo dormindo. O mercado está muito apodrecido na questão de música. É uma música imediatista, que vai para o topo e, em um ano, cai no esquecimento.
O que tem na tua playlist?
Primeiro, não escuto minhas músicas. Permeio por um pouco de cada coisa. Toquei rock’n roll durante quatro anos: Led Zeppelin, Deep Purple e Pink Floyd. Já tive cabelo pela cintura. Era banda forte, a Reflexo Som, com irmãos do Antônio Gringo, que mora em Estrela.
Quando foi isso?
Isso foi nos anos 80. Sai de Campo Novo com 17 anos e fui para Passo Fundo para ser dentista. Aos 24, eu tocava MPB, eles eram banda de rock e eu era fã. Eu tocava em festivais estudantis, e eles, os calouros, iam acompanhar. Daniel Torres, Rui Biriva e eu éramos os kids. Depois que fui conhecer o Osvaldir e comecei a tocar com ele: eu de gaita, ele com violão. Ele também foi roqueiro por muito tempo e nunca tinha pegado um violão para fazer música gaúcha. No bar, a gente fazia Oswaldo Montenegro e Milton Nascimento. Daí que surgiu nossa vertente de trabalhar a música gaúcha com certo refinamento. Trouxemos um pouco do rock, da MPB, para dentro da música campeira. E fomos muito criticados. Em CTG, nem entrávamos. Até a nossa bombacha era diferente. Quando gravamos Querência Amada, morávamos em SP. Diziam que era um desrespeito tirar a gaita da música do Teixeirinha. Teixeirinha não tocava em lugar nenhum e nós reavivamos a memória dele. É bonito que Querência Amada eu largo para o público e nem canto mais (em shows).
Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br