Família unida pelo picadeiro

Encantado - VIDA NO CIRCO

Família unida pelo picadeiro

Vindos do Uruguai, a família Pacheco está em Encantado. A vida dedicada a arte circense desde 2008

Família unida pelo picadeiro
Encantado

Faz mais de uma semana o Circo Alegria está na cidade, próximo da rótula na Avenida Antônio de Conto. Formado pela família uruguaia Pacheco, a trupe tem como missão levar alegria por onde passa.

Ao todo são 11 integrantes, destes, oito fazem parte do espetáculo. Três são os responsáveis pela parte burocrática. O dono é Fernando Pacheco, 50, filho de circenses uruguaios. O pai dele tinha o Circo Bugami, o qual veio para Encantado em 2001. Após alguns anos ao lado dos pais e dos irmãos, resolveu montar o próprio Circo junto com a esposa, filhos e sobrinhos.

A primeira apresentação foi em 2008, em Mato Leitão. De lá pra cá, percorreram diversas cidades no Rio Grande do Sul, como também de Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

A estreia em Encantado foi na sexta-feira passada, com apresentações também no sábado e no domingo. Mais de 1,5 mil pessoas assistiram as atrações como globo da morte, trapezistas, malabaristas, palhaços, show das águas dançantes e da a personagem Peppa Pig, durante cerca de 1h30min de espetáculo.

“Graças a Deus foi sucesso. As três noites lotadas”, diz Maximiliano Pacheco, 29, filho de Fernando. Ele, além de auxiliar na montagem e parte burocrática, também atua como palhaço, acróbata e no globo da morte.

“A recompensa do nosso trabalho é ver a reação do público. Rindo, aplaudindo, gritando, dá um gás a mais, principalmente quando estamos no globo da morte ou no trapézio”, fala Maximiliano.

Ele aprendeu com o pai e avó as técnicas circenses. “Meu pai já nasceu no circo e eu também. Desde pequeno as brincadeiras que tu tens é do circo. Tu vai brincando e já vai aprendendo e já vira um treino. Fui pegando o gosto”, conta o jovem. A inspiração pelo trapézio e globo da morte adquiriu do pai e a de palhaço, com o avô, pois quando criança entrava em cena com ele.

Paixão pelo circo

“Para mim é o máximo ser circense. Desde que eu me conheço, sempre embaixo das lonas. Mudando de cidade em cidade e espetáculos. Isso é a minha vida”, diz Fernando. Ele acrescenta “é minha fonte de trabalho. Uma coisa que eu gosto de fazer. Minha vocação”.

Pacheco nasceu em uma família de quatro irmãos. Segundo ele, todos tiveram oportunidade de estudar, mas como a família era do circo e para fazer uma faculdade precisava ficar numa cidade fixa, a opção foi o circo.

Fernando desde novo atuou em várias atrações. Foi acróbata, palhaço, domador de leões, hoje faz malabarismo e globo da morte.

Segundo ele, apesar de viver 24h esse mundo, a magia permanece. “Para nós, essa hora do show nós vivemos como fosse o público. Essa magia na hora do show. Dia a dia renovável. Troca o público, troca a reação também. Do artista com público e do público com o artista. Cada dia é um espetáculo diferente”, menciona Fernando.

O empresário circense acrescenta que o circo não é só os artistas, mas toda a equipe, desde as pessoas para receber o público, as que vendem lanches, bebidas e ingressos, até as que colocam as músicas. “O circo representa tudo. Formei uma família. Meus filhos se criaram no circo. Conseguimos viver disso honradamente. Um trabalho honesto e sacrificado. Pra mim é uma satisfação”, relata.

Globo da morte é uma das atrações do Circo Alegria. Unidos pela aventura e pela paixão pelo Circo, pai e filho desafiam o perigo e se apresentam juntos

Globo da morte é uma das atrações do Circo Alegria. Unidos pela aventura e pela paixão pelo Circo, pai e filho desafiam o perigo e se apresentam juntos

Função social

Pacheco salienta que o circo cumpre uma função social importante. “Reunir a família, bater um papo, ver uma atração sadia, a cultura. Ver algo que levou meses e anos de treino. Isso é cultura. Você recebe isso e te marca para a vida inteira. Isso para nós é muito gratificante”.

Para o filho, a pureza do espetáculo, sem o uso de palavrões ou palavras de baixo calão é o que o circo preserva ao longo do tempo. Sendo um espetáculo sadio para todas as idades.

Pacheco convida toda a comunidade de Encantado para prestigiar o espetáculo que classifica como familiar e uma diversão diferente. Para ele, o circo também ajuda a manter os vínculos familiares entre pais e filhos.

O circense salienta ser gratificante ver nos olhos tanto das crianças como dos adultos a alegria e felicidade, pois quando entram dentro da lona esquecem dos problemas e entram no mundo de fantasias e de imaginação.

A rotina

O dia a dia no circo, mesmo sendo em família, faz com que cada um tenha seu trailer. Por vezes fazem as refeições juntos, às vezes separados. Cada um tem sua vida própria.

Todos os dias eles têm uma hora de ensaio para que dê tudo certo na hora do espetáculo. Também há manutenção dos aparelhos e equipamentos.

Além disso, é do cotidiano irem ao mercado e fazerem outras atividades como quem tem casa fixa. Inclusive eles passam um mês ao ano na casa da família, uma situada no Uruguai e outra em Passo Fundo.

As crianças e jovens que vivem no circo frequentam várias escolas durante o ano letivo. Pela distância percorrida não tem como ficar em um único colégio o ano todo. Os pais e adultos também ajudam nas matérias. Para eles, isso não é empecilho para aprender e ter um aprendizado de qualidade.

As maiores dificuldades encontradas são em conseguir um espaço adequado e central  para ser alugado para a instalação das lonas e de todos os equipamentos para a montagem do circo nas cidades que percorrem. Há ainda taxas de alvará e fiscalização cobrada pelos municípios, bem como a colocação de água e luz.

Eles contam que tem municípios que incentivam e outros que não querem o circo. Outro fator são os alugueis caros dos espaços. Também há o gasto com combustíveis para propaganda e os deslocamentos de cidade em cidade.

Como o circo é familiar a renda é divida em conjunto. Cada um tem seu salário. Mesmo assim varia os pagamentos, alguns ganham por semana e outros por porcentagem.

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Evolução do circo

Há quase uma década uma lei federal proibiu apresentações de animais no Circo. Para Maximiliano, os animais eram um atrativo, pois o público vinha conhecer os bichos como tigres, leões, ursos, entre outros, durante o dia e fora dos espetáculos, principalmente em regiões como aqui que não tem zoológicos próximos. “Era um atrativo, as pessoas perguntavam pelos animais. Chamava muito a atenção, também na hora do espetáculo”, conta.

Dessa forma, os circos tiveram que se inovar e criar novas atrações, pois a maior parte do espetáculo era apresentação com os bichos tanto selvagens como domésticos. “Tivemos que nos reinventar, trazer shows infantis, por exemplo. Mas graças a Deus deu certo. Não se sentiu tanto a falta do público, como também o público compreendeu isso rápido, que não era necessário a apresentação dos animais selvagens e continuou indo ao circo”, explica Pacheco pai.

Pai e filho salientam a importância de mudanças constante no circo, porém sem perder o DNA do que são esses espetáculos. Pensar sempre em apresentações novas, para quando chegarem de volta nas cidades, o público vir prestigiar, sendo esta uma das preocupações como o conforto para o público.

“Ao mesmo tempo, não pode fugir do tradicional com os malabaristas, acrobatas e palhaços que as pessoas esperam por isso, assim como o globo da morte”, acrescenta Maximiliano.

Espetáculos

Nesta quinta, sexta, sábado e domingo, a partir das 20h, ocorrem os espetáculos. E na semana que vem, também nos mesmo dias e horários. Os ingressos custam R$ 10. Crianças até três anos não pagam.

Outras cidades previstas para receberem o Circo na região são Lajeado, Estrela, Teutônia e Roca Sales. O tempo médio de permanência depende, normalmente de duas a quatro semanas. Por ano, de 20 a 30 cidades são visitadas.

 

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