Droga, álcool e falta de perspectiva

Lajeado - Vida na rua

Droga, álcool e falta de perspectiva

Avanço da Epidemia do crack desafia a comunidade e as autoridades. Invisíveis para uns e preocupação para outros, moradores de rua usuários de drogas se alastram nas calçadas do Centro da cidade. Um desafio para as políticas públicas e para as autoridades, assistentes sociais buscam no vínculo com o usuário, uma forma de ajudar e mostrar um tratamento para o vício. Porém, tudo depende da vontade do usuário em abandonar a rua

Droga, álcool e falta de perspectiva
Lajeado

Eram 14h, quando o morador de rua Juarez Neto, 31, dormia na calçada da Rua Benjamin Constant. Pessoas ignoravam a presença dele e desviavam. Algumas atravessavam a via. Usuário de drogas, há pelo menos dois anos, saiu de casa, deixando mulher e filho, em função do vício. Não muito distante, ainda no centro da cidade, uma empresária enfrentou problemas até o fim do ano passado por causa de moradores de rua que amanheciam em frente a loja. Problema que, pelo menos até agora, não voltou a se repetir.

“Quase diariamente, ao chegar para abrir meu estabelecimento, além do cheiro forte de urina, era comum encontrar sujeira de comida, embalagens e lixo”, relata Márcia Becker, 42. Segundo ela, depois de uma postagem feita nas redes sociais flagrando a situação de depredação e abandono por parte do poder público, uma forte mobilização fez com que os moradores de rua diminuíssem a frequência em frente à sua loja ao amanhecer.

“Teve um dia que tive bastante dificuldade de tirar o morador de rua da frente de minha loja. Queria abrir as portas e ele não queria sair de jeito nenhum. Liguei para a prefeitura e pedi providências. Pela tarde, uma psicóloga veio e me deu seu telefone. Depois disso, curiosamente, nunca mais aconteceu”, conta. A empresária ainda ressalta que nas imediações de um mercado e de uma agência bancária na Rua Júlio de Castilhos é bem comum registrar a mesma situação.

Na boca da rua

Para o morador de rua Juarez Neto, faltam políticas públicas que lhe tirem da situação em que se encontra. Pelas manhãs, no abrigo São Francisco, consegue tomar banho e fazer o desjejum. Porém, segundo ele, a fome que sente é pela necessidade de uma oportunidade de trabalho.

“Só enchem a minha barriga, me dão banho e me devolvem para a rua. Preciso de reinserção social. Tem que tirar o drogado da situação e não mantê-lo nas mesmas condições”, desabafa. Ele ainda ressalta que até 12 anos atrás, quando não era usuário, levava uma vida boa. Estudou em colégios particulares, tinha habilitação de motoristas nas categoria A, B e C, afirma.

“No momento, não pretendo me internar porque não quero parar com as drogas. Sofro com a desilusão do meu antigo relacionamento”, esclarece.

Recentemente, ele passou três meses em regime fechado no Presídio Estadual de Lajeado, após ter invadido a casa da mãe de seu filho e quebrado a medida protetiva imposta pela Justiça. Admite não pagar pensão para o filho. “Nem preciso, pois ele tem uma vida de playboy, assim como a minha ex”, finaliza.

A enfermeira, Ana Maria Bianchini, 50, é cética com relação as palavras de Juarez. “Ele que não se dá oportunidade. No fim, a gente tem que acabar convivendo com a sujeira feita por alguns moradores de rua. Não tem problema eles usarem o espaço público, mas que deixem limpo depois.”

Reestabelecer os vínculos familiares dos moradores de rua e tratar a dependência são os maiores desafios

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Trabalho em rede

De acordo com o secretário de Assistência Social, Lorival Silveira, a administração faz um trabalho constante, em parceria com a equipe do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS).

“Em um primeiro momento, identificamos pessoas em situação de rua ou as procuramos após denúncias. Nosso intuito é de criar vínculos, para oferecermos nosso trabalho de acolhimento. Depois, encaminhamos cada caso conforme a situação aos órgãos competentes.” Além disso, também ressalta o trabalho de tentar encontrar famílias, na tentativa de restabelecer os laços para ajudar no tratamento.

No Centro de Assistência Psicosocial Álcool e Drogas (CAPS AD), o serviço de tratamento é aberto a todos os moradores.

“É um trabalho em rede. Um programa interdisciplinar, com plano terapêutico individual. Não tratamos o usuário de forma igual. Casa usuário vai ter um tratamento diferente conforme sua realidade”, diz o enfermeiro Tiago Guterres, 31. O trabalho de internações é realizado em parceria com hospitais da região.

Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br

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