O bairro São Bento foi criado oficialmente pela lei municipal 6.152, de 14 de outubro de 1998. Mas a história começou muito antes. Primitivamente, também envolvia uma área do atual Conservas, com o nome de São Bento do Sul.
Foi lá, no início da década de 1920, que estabeleceu-se junto ao Rio Taquari, com porto próprio, uma filial da Fábrica Oderich, fundada em São Sebastião do Caí. Seu filho, Max Oderich, foi um dos diretores da filial em Lajeado.
Para morar com a família, Max construiu um palacete, na parte alta da fábrica de conservas. O sobrado, anos depois, foi doado para entidades assistenciais e transformado em Lar da Menina “Nora Oderich” – localizado na região onde hoje existe o bairro Conservas. Nora era o nome da mulher dele.
Um dos diretores da fábrica foi o empresário, Frederico Leopoldo Dexheimer, o primeiro prefeito de Lajeado. Em 1937, a filial se transferiu para Gravataí, deixando a fábrica em ruínas.
Para não confundir com a Linha São Bento, o prefeito João Frederico Schaan deu ao arrabalde o nome de bairro Conservas e deu, também, novas delimitações ao São Bento. Da mesma forma, a antiga av. São Bento foi alterada para av. Beira-Rio, sem consulta popular.
Sobre a denominação São Bento, há poucos registros históricos. De acordo com o historiador José Alfredo Schierholt, se deve à identificação dada pelos irmãos sesmeiros João e José Inácio Teixeira à divisão de sua sesmaria em “fazendas”, como forma de melhor administrá-las.
“Como as primitivas denominações se relacionavam a santos, quer para homenagear respectivos padroeiros do local, quer para lembrar o nome do respectivo administrador dessa fazenda, o que no caso da Fazenda São Bento não existe documento que o mencione ou comprove, mas se tratava de uma medida administrativa em voga na época”, escreve o historiador lajeadense.
Ainda de acordo com Schierholt, consta que a fazenda tinha limites pelo Rio taquari, entre a Fazenda de Carneiros ou Lajeado e a Fazenda São Gabriel, hoje núcleo urbano do município vizinho de Cruzeiro do Sul. Como os fundos chegavam até a antiga Fazenda de Santa Clara, com o início da urbanização de Lajeado, a comunidade foi subdividida em São Bento do Sul – atual Conservas e Morro 25, como já citado – e São Bento (simplesmente, significando do norte).
Foi lá que, em dezembro de 1983, a comunidade evangélica iniciou a construção da nova igreja. A Comunidade Três Mártires também se localiza em São Bento.
Segundo Schierholt, a antiga capela de madeira foi demolida e, em 20 de março de 1949, foi cimentada a pedra angular da nova. Depois de concluída, a comunidade construiu a Escola Paroquial, inaugurada em março de 1956.
Melhorias com ajuda comunitária
A história prova o valor comunitário em São Bento. Conforme Schierholt, em 1995 foi iniciada a construção do ginásio esportivo. Para tal, foram arrecadados R$ 30 mil iniciais entre os moradores e R$ 40 mil do município, tudo por intermédio da associação dos moradores.
A comunidade também angariou outros recursos para sociedade esportiva, clubes de mães e de jovens, Projeto Conviver, Apostolado da Oração, Oase, comunidades católica e evangélica.
A Sociedade Esportiva São Bento
Em 17 de abril de 1959 foi fundada a Sociedade Esportiva São Bento. A reunião definitiva ocorreu em uma das salas da então Escola Particular São Bento, hoje Centro de Pastoral da Comunidade Católica. Sob a liderança do professor João Leonel Finckler, reuniram-se 30 companheiros para decidir pela fundação.
No dia seguinte, um sábado ensolarado, no potreiro de Osmar Rambo, foram escolhidos os 11 melhores jogadores para enfrentar um time formado por moradores de Conservas. O resultado final foi 1 a 1.
O primeiro quadro estava assim formado: Guido Purper, Albano Johann, Arnaldo Lenz, Mário Mallmann, Ernesto Purper, Bruno Krabbe, Nelson Marder, Paulo Ulsenheimer, Adão Stein, Nelson Johann e Oscar Müller.
Já o segundo campo de esporte, em 1971, foi no potreiro de Severo Fleck, hoje de Beno Franz. O terceiro campo, em 1984, passou a ser a sede atual. Os presidentes foram: Otto Carlos Marder, Olindo Wolschick, Leopoldo Mallmann, Benno Franz, Hugo Miguel Schorr, Telmo Spohr, Herberto Haas, Nelson Johann, Ari Miguel Kerber, Círio Arnaldo Schneider, Ademar Spohr, Arlito Henz, Eloy Klein, Délcio Gall, Paulo Busch, Jair Spohr, Walmir Ruwer e Waldir Blau, atual.
O clube já foi duas vezes campeão municipal de futebol, em 1985 e 1986. Recentemente, e para evitar despesas desnecessárias de ordem legal, a denominação da entidade foi alterada para Associação Esportiva São Bento, em 2005.
Além do futebol, participou das festas de Carnaval, em que desfilou Laércia Schönhals como representante do Bloco Ali Bebeu e 40 Bebuns da Associação.
O surgimento do Floresta
Em 13 de outubro de 1998, conta o historiador, e para fins de urbanização, a linha colonial de São Bento foi dividida em dois bairros: São Bento e Floresta, antes também conhecido por “Ferro Velho”, que ficava no mesmo local onde hoje está a Escola Municipal de Ensino Fundamental Pedro Welter. A população, escreve Schierholt, não sabe a razão histórica e origem do nome, escolhido sem consulta popular.
Possivelmente, acredita o historiador, um grupo de líderes locais, por falta de opção, deu a denominação pelas mesmas razões do bairro Florestal, por exemplo. “Em função de lá ter havido, primitivamente, grandes florestas”, diz. Entre as peculiaridades do bairro, se destaca a concentração do maior número de açudes dentro do município. São 23 acéquias onde se desenvolve a piscicultura.
Os antigos moinhos d’água do Saraquá
Oficialmente criado por lei em setembro de 1994, o Moinhos D’Água é margeado pelo Arroio Saraquá. Conforme a mensagem justificativa do projeto do então vereador Luís Humberto Kolling, a denominação “é para atender a reivindicação de moradores da área, pois antigamente existiam vários moinhos que eram movimentados pelo Arroio Saraquá e costumeiramente os moradores se referiam ao local como ‘Moinhos’”.
Naquela região, e antes da denominação oficial, a comunidade São José iniciou a construção da capela em fins de 1988, inauguranda em 11 de março de 1990. Dois anos depois, adquiriu mais um terreno de 356,50 metros quadrados. No Moinhos D’água, também, a maioria dos nomes de ruas foi sugestão do historiador Schierholt, para homenagear ex-intendentes, prefeitos e subintendentes.
É lá também que se encontra o Parque Municipal Moinhos d’Água, fazendo frente à ERS-413 e fundos com terras de Jovêncio Vivian. O local, sujeito ao regime especial do Código Florestal, e outras leis específicas concernentes à matéria que rege a imunidade ao corte de árvores, à proteção integral da flora, da fauna e das belezas naturais, abrange dentro dele toda a área do Jardim Botânico de Lajeado.
Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br