Pelo menos quatro famílias de mortos, velados nas câmaras mortuárias de Lajeado, foram alvo de estelionatários. Desde novembro do ano passado, homens que dormem nas imediações da Travessa da Paz se aproveitam do momento de fragilidade para tentar aplicar golpes.
Eles abordam pessoas nas câmaras ou nos próprios cemitérios católico, evangélico e municipal, para oferecer o serviço de sepultamento. Afirmam ser pedreiros e cobrar valores abaixo do mercado. Pedem pagamento antecipado e, na hora do trabalho desaparecem, relata o presidente da Sociedade Cemitério União Centenária, Vital Rezner, responsável pela parte católica.
Ele e os coordenadores dos outros dois cemitérios levaram o caso, há cerca de duas semanas, à Polícia Civil, que agora buscar identificar os criminosos. Angelo João da Silva, 70, foi o único a pagar, de fato, pelo serviço.
A mulher do aposentado, Dorsolina Maria da Silva, 72, morreu no dia 4 de novembro, um sábado. O enterro da idosa, que sofria de câncer, foi marcado para o dia seguinte, às 16h, no cemitério católico do Florestal.
O horário, local e nome dela e dos parentes foram divulgados na mídia local. Munidos dessas informações, os estelionatários abordaram Silva na manhã de domingo, quando ele chegava ao cemitério.
“Comentei com os meus irmãos que precisávamos ir até lá para falar com os responsáveis, para fazer o enterro. Antes de entrar no cemitério, eles chamaram pelo meu nome”, conta o aposentado. No momento, ele estava acompanhado de um irmão e uma irmã, e achou estranho a aproximação.
Porém os dois homens se apresentaram, disseram que eram responsáveis pelo serviço e levaram Silva até a sepultura. “Me explicaram como fariam o trabalho e tinham uma espátula, um tubo de cola e uma colher de pedreiro. Então deixamos tudo combinado.”
Na saída do cemitério, um dos estelionatários disse que precisava de adiantamento. Pediu R$ 80, mas quando viu uma nota de R$ 100 na carteira do idoso, queria mais. “ Ele me disse: R$ 20 não vão fazer diferença. Eu respondi que se fizessem bem- feito daria mais R$ 50. Achei barato, né?”
Em seguida, Silva voltou às capelas no bairro Montanha, onde fazia o velório da mulher. Lá foi abordado por Rezner, que suspeitou do golpe. “Fiquei sabendo do sepultamento, e achei estranho que ninguém tivesse nos procurado. Fui atrás, e descobri o que tinha acontecido”, conta Vital.
Depois disso, Silva nunca mais viu os estelionatários. O sepultamento foi feito pelos funcionários contratados pela comunidade, chamados por Rezner após a confusão.
Perigo à noite e madrugada
Secretário do Trabalho, Habitação e Assistência Social, Lorival Silveira, soube da situação no fim do ano passado. A fim de alertar os usuários do local, a secretaria colocou cartazes nas câmaras há cerca de um mês. Segundo Silveira, os criminosos aproveitam velórios à noite ou madrugada para oferecer o serviço.
Ele explica que as famílias devem procurar pelos zeladores dos cemitérios católico ou evangélico, caso sejam associadas, ou contatar com a prefeitura para fazer o sepultamento no cemitério municipal.
“Cada cemitério tem sua prestadora. Ninguém entrará em contato para oferecer o serviço. As famílias precisam procurar. Caso tenham alguma dúvida, também podem solicitar à funerária.”
Novas tentativas
Depois do caso vivido por Silva, os criminosos teriam tentado aplicar outros golpes. Mas nenhuma outra pessoa teria caído na conversa dos homens. “Nesse fim de semana, sabemos que houve mais uma tentativa, mas ainda não tenho detalhes”, diz Rezner.
No caso da comunidade católica, há um papel, exposto na porta do escritório do cemitério, com os telefones de plantão. Contatos de emergência também são disponibilizados pela comunidade evangélica e pelo município.
Carolina Chaves da Silva: carolina@jornalahora.inf.br