Estado desorganizado alimenta o crime organizado

Opinião

Fernando Weiss

Fernando Weiss

Diretor de Mercado e Estratégia do Grupo A Hora

Coluna aborda política e cotidiano sob um olhar crítico e abrangente

Estado desorganizado alimenta o crime organizado

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Rodízio. Assaltantes de banco do Rio Grande do Sul “fazem a festa”, – com o perdão do trocadilho – pelas cidades do interior. Uma após a outra, viram alvo fácil de criminosos, que agem com destemor e espalham pânico por onde passam.
Essa madrugada foi a vez de Santa Clara do Sul. No sábado foi Taquari. E assim seguirá, infelizmente. Assistimos atônitos ao avanço da criminalidade sem que o Estado, responsável por oferecer segurança aos cidadãos, responda à altura. Em cada entrevista de prefeitos e cidadãos, cujas cidades viram vítimas, a queixa é a mesma: faltam policiais.
E faltam mesmo. Faz tempo. Quando o bando de assaltantes explodiu a agência do Banco do Brasil, por volta das 3h de ontem, não havia soldado da BM de plantão em Santa Clara do Sul, cidade com mais de seis mil habitantes. A sede da corporação estava vazia. Imagino, cá com meus botões, o que também faria um único policial – é o que tem na maioria dos casos – diante de uma dúzia de bandidos muito melhor armados. Mas isso já é tema para outro artigo.
O fato é que os assaltos a banco se tornaram rotina nos últimos anos. Lembro-me de 2002, quando o mesmo Banco do Brasil de Santa Clara do Sul, instalado no mesmo prédio de hoje, foi assaltado à luz do dia, por volta das 11h de 5 de dezembro. Tiroteio, perseguição e dois bandidos feridos e presos. Havia três soldados – Rogério Franz, Iedo Luft e Paulo da Fontoura – no patrulhamento.
Naquela época, assaltos a banco eram raros. Eram. Dezesseis anos depois, o crime se tornou comum. Tão comum e recorrente que em cidades como Boqueirão do Leão e Progresso a direção do Banco do Brasil não reabre mais as agências. Novamente, a sociedade fica órfã de um serviço diante da insegurança galopante.
O drama enfrentado pelos cidadãos não é menor para os agentes das polícias. De mãos atadas e insuficientes, se intercalam entre uma cidade e outra. Correm pra lá e pra cá sem dar conta da demanda que não para de aumentar. A única coisa que não aumenta é o investimento em segurança. Perante um Estado cada vez mais desorganizado, o crime organizado avança.
A propósito – A crítica do prefeito de Santa Clara do Sul, Paulo Kohlrausch, contra o governo estadual é pertinente, pontual e necessária: “O Estado não faz sua parte e nem permite que a gente ajude”. O chefe do Executivo, ouvido após o assalto, reclamou da morosidade para a Secretaria Estadual de Segurança Pública liberar a implementação de um projeto de videomonitoramento, a ser pago com recursos do município.
Não é de hoje que o Estado mais atrapalha do que ajuda as cidades menores em termos de segurança. A cada ano, retira mais policiais das corporações locais e manda para as cidades maiores, especialmente à Região Metropolitana. O resultado dessa política perversa está nas ruas do interior.


Trapalhada “federal” e o factoide

A troca de nomes e a consequente condução coercitiva do agricultor de Arroio do Meio à Polícia Federal de Santa Cruz do Sul, nessa segunda-feira, foi tragicômica.
Primeiro, porque mostrou falhas primárias na investigação que resultou na Operação Carne Fraca, deflagrada em Santa Catarina, Paraná, Goiás e São Paulo. Arroio do Meio estava na lista de cidades a integrar a operação. Mas não passou de um “engano” da Polícia Federal, que trocou o agricultor de Palmas, Everaldo Frölich, com o médico-veterinário do Paraná, com mesmo nome, suspeito de omitir a presença de salmonella pullorum em alguns animais abatidos pela BRF S/A.
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Segundo, porque caracterizou um factoide (informação falsa ou não comprovada que se aceita como verdadeira) que macula o jornalismo profissional. Maioria dos veículos de comunicação do estado republicou por todos os canais a notícia repassada pela Assessoria de Imprensa da polícia, que incluía Arroio do Meio na operação nacional. Inclusive, falava em busca e apreensão na BRF de Arroio do Meio, onde a empresa nada mais tem do que fábrica de ração.
Desconfiado, como a profissão exige, o repórter Rodrigo Martini cruzou informações, pesquisou sobre Everaldo e percebeu desencontro de informações. Checou mais um pouco e flagrou o engano. Foi até Arroio do Meio e confirmou com o Everaldo agricultor o tamanho da barrigada cometida pelos agentes da Polícia Federal.
Faço comentário para invulgar o jornalismo profissional, que precisa se blindar de factoides em nome do leitor. Aqui no A Hora, invocamos cada vez mais a máxima de que “notícia não sobe escada”. Ou seja, esperar que ela chegue pelas assessorias de imprensa e se dar por satisfeito é negligenciar o assinante, que compra e renova a assinatura com a expectativa de receber informações e conteúdo credíveis.


Jogada popular

O presidente Michel Temer encomendou pesquisa pelo Ibope para avaliar seus recentes movimentos em relação à segurança. O levantamento mostra que 71% da população aprova a criação do Ministério da Segurança Pública. Além disso, oito em cada dez pessoas apoiam a intervenção federal no Rio de Janeiro.
Por essas e outras, entende-se porque o extremismo de Jair Bolsonaro tem tantos seguidores. A cada dia, a democracia brasileira fica ainda mais ameaçada e vulnerável.


Será que vai?

Está sob a mesa do presidente da EGR projeto que resolve – ao menos promete – a tranqueira no trevo da BRF. Local de congestionamentos diários, demanda melhorias faz tempo. Ontem, Marcelo Caumo e Izidoro Fornari, da prefeitura de Lajeado, apresentaram o projeto técnico à concessionária.
Diante da arrecadação milionária nos pedágios, fazer a obra é o mínimo que se espera da EGR. A previsão de investimento necessário é de R$ 4 milhões, o que é insignificante diante do volume arrecadado nas duas praças de pedágio instaladas na referida rodovia.

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