Olhos nos olhos vamos ver o que você me diz!

Opinião

Raquel Winter

Raquel Winter

Professora e consultora executiva

Olhos nos olhos vamos ver o que você me diz!

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Entristeci quando olhei para a varanda e vi minhas cadeiras de junco tramado estraçalhadas. Não adiantava lamentar, até porque a Tita, apesar do tamanho enorme, não passa de uma filhotona desengonçada e cheia de curiosidade. Meu primeiro impulso foi chamá-la para uma conversa dura.
Mas estava cansada demais para isso e, além do mais, fiquei sem saber o que dizer. Então chamei-a e olhei firme bem dentro daqueles olhos escuros. Talvez você não acredite, mas a danada da cachorra compreendeu que eu estava desapontada e eu entendi que ela não fez por mal, na verdade, ela nem tinha noção de que roer cadeiras era divertido, porém, proibido.
Certamente uma profunda experiência também pode acontecer com o simples (que de simples não tem nada) exercício de ficarmos olhando nos olhos de outra pessoa sem desviar o olhar por no mínimo 60 segundos. Esse tempo eu chutei, mas acredito que já seria o suficiente. Depende do grau de intimidade que temos com a outra pessoa, iremos nos constranger, nos intimidar, nos atrever. Sentiremos vontade de rir, de piscar, de chorar ou mesmo de fugir!
Olhar firme e dentro dos olhos de alguém e permitir a recíproca pode ser tão profundo, tão íntimo, tão embaraçoso que sentiremos coisas estranhas, como aquela sensação de termos chego descalços à festa. É realmente interessante. Se pudéssemos fazer esse exercício para verificarmos como andam nossas relações, acredito que seria muito válido e que, mesmo em silêncio, muito se falaria.
Imagine, por exemplo, o que revelaria um desses encontros de olhares se feito com os nossos avós? Fico imaginando o que meus olhos ouviriam dos olhos falantes da minha avó de 94 anos! O que a sabedoria adquirida com tanta experiência me relataria? Quantas coisas vistas, quantas lágrimas de alegria e de tristeza, quanta saudade já pousou por ali. Entre rugas marcantes que revelam sem piedade os anos passados, os olhos continuam jovens naquela mulher quase centenária.
Mas a janela da alma nem sempre nos revela poesia e luz. Há olhares tão cansados, profundamente maltratados, que nos é desafiador suportar a dor que nos transmitem. Pedem socorro em um clamado tão alto que é estonteante ficarmos por perto sem nada fazer.
Olhar fixamente nos olhos de alguém pode amedrontar, reprender, encorajar, autorizar, admitir, assumir. Se me faltarem as palavras ou mesmo, para os casos em que a alma, o corpo e a mente estiverem cansados demais para prosear em voz alta, caro amigo, ei de ouvir-te e falar-te olhos nos olhos e, então, vamos ver o que você me diz.

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