Dinheiro perdido no buraco

Vale do Taquari - ABANDONO

Dinheiro perdido no buraco

A precariedade da ERS-423 entre Progresso e Marques de Souza traz dificuldade para os motoristas e afasta investimentos privados dos municípios. Custo de logística aumenta na mesma proporção dos prejuízos para os condutores. Daer afirma que recuperação do asfalto está no cronograma de obras e deve ocorrer antes da chegada do inverno

Dinheiro perdido no buraco
Vale do Taquari

Uma estrada abandonada. Essa é a sensação que os motoristas têm ao transitar pela ERS-423. A rodovia é a principal ligação de Progresso a Marques de Souza, são pouco mais de 22 quilômetros. São buracos grandes. Um deles com mais de um metro de comprimento e 15 centímetros de profundidade. O inço invade a pista e a sinalização é precária.

Morador de Progresso, o comerciante Antônio Brancher Schmitt, 26, transita pela rodovia todos os dias. “Para quem não conhece é perigoso. Seguido a gente ouve história de pessoas que tiveram prejuízo, de pneu arrebentado e que ficaram empenhadas.”

A estrada é movimentada, relata Schmitt. Por ali, trafegam caminhões com as produções agrícolas do município. “O trânsito é constante. Passam motoristas de Boqueirão do Leão, Pouso Novo, Marques de Souza.” Segundo ele, inclusive o frete aumenta devido às condições da rodovia.

José Carlos Borelli, 56, é um dos motoristas de ônibus que percorre o trecho. “Tem que dirigir bem devagar. Não tem sinalização, a pista fica em um local de serra, por vezes, não temos visibilidade.” Transitar no inverno, à noite e com chuva, é um desafio, afirma Borelli. “Tem que redobrar os cuidados.”

As condições precárias da rodovia são de conhecimento do Daer. O departamento garante haver um contrato em andamento para a recuperação das ERSs. A estrada está na lista da estatal. Uma empresa terceirizada faz melhorias em Taquari, também na ERS-332, entre Encantado e Soledade. Estima-se que o próximo trecho a ser atendido será entre Travesseiro e Marques de Souza.

Ligação principal de Progresso à BR-386 foi asfaltada há 22 anos. Segundo o prefeito, nunca houve uma manutenção adequada

Ligação principal de Progresso à BR-386 foi asfaltada há 22 anos. Segundo o prefeito, nunca houve uma manutenção adequada

“Estamos tirando do bolso”

Diretor de uma empresa de ônibus que faz o itinerário entre as duas cidades, Pedro Lourenço Guarnieri relata que os prejuízos nos veículos são corriqueiros. “Um pneu que deveria rodar por no mínimo 60 mil quilômetros estoura antes de completar 15 mil. Cada um custa R$ 1,8 mil. Temos de rodar 60 mil quilômetros para pagar esse prejuízo.”

De acordo com ele, pela lógica do custo-benefício, o correto seria a empresa deixar de trabalhar nesse trecho. “Está dando um prejuízo enorme. Não é só nos pneus, a lataria fica avariada, a suspensão afrouxa, o aro entorta. Estamos tirando do bolso para atender o usuário.”

Em média, as duas linhas atendem 30 passageiros por dia. “Tem dias que saímos do centro de Progresso com cinco pessoas. Para cobrir o custo, precisaríamos de, no mínimo, 25 passageiros.”

Motorista José Carlos Borelli relata que danos nos pneus são frequentes

Motorista José Carlos Borelli relata que danos nos pneus são frequentes

“Nunca houve manutenção adequada”

O prefeito de Progresso, Gilberto Gaspar Constantin, reitera as críticas da falta de manutenção na ERS-423. “Está muito ruim. Péssima. Faz 22 anos que fizeram o asfalto e nunca houve uma manutenção adequada.”

Para ele, operações tapa-buraco não adiantam mais. “É preciso um recapeamento de qualidade. Tirar o asfalto velho, colocar uma nova camada. Fazer pintura nova. Isso sem falar na falta de roçada. Toda a semana fazemos esse pedido ao governo do Estado.”

Segundo o chefe do Executivo, as ambulâncias do município precisam antecipar as saídas na madrugada para que os pacientes não se atrasem para procedimentos em hospitais de outras cidades. “Tem que sair às 4h. Para fazer 22 quilômetros, dá mais de uma hora.”

O prefeito de Marques de Souza, Edmilson Dörr, confirma as dificuldades. Ainda que a cidade dele seja menos afetada, se preocupa com os acidentes. “Não queremos ir lá juntar corpos. Somos solidários a essa questão e nos colocamos à disposição para organizar uma comitiva e ir até a capital pedir melhorias.”

Impacto econômico

Progresso tem como principal motriz produtiva a agricultura. Os destaques ficam por conta do leite, frango e suínos. “Toda a nossa produção primária passa por essa estrada”, confirma o prefeito Constantin.

Conforme o chefe do Executivo de Progresso, as empresas da cidade também amargam prejuízos devido às más-condições da pista. “Temos uma indústria de sapatos que ameaça deixar o município. Um dos motivos é o custo logístico frente aos danos nos veículos.”

A precariedade da ERS-423 também afasta novos investimentos, diz Constantin. “O empresário não quer se instalar em um lugar com dificuldade de acesso.”

Filipe Faleiro: filipe@jornalahora.inf.br

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