O sumiço da noção

Opinião

Raquel Winter

Raquel Winter

Professora e consultora executiva

O sumiço da noção

Por

– Minha santinha! Perdi a noção!
– Noção do que criatura?
– Sei não! Pois não acabo de dizer-te que perdi a noção?
– E agora o que fazer?
– Se não possuo a noção, não tenho solução.
– Mas do que serve a solução, se neste caso, sem noção, não há com o que se atazanar?
– Que pergunta é essa? Perdeste a razão?
– Parece surda, pois já não disse que perdi foi a noção?
– Está bem. Chega.
– Chega de quê?
– Chega de falar sobre a noção que você perdeu.
– Então diga-me só mais uma coisa: o que de fato perdi ao perder a noção?
– Pergunta tinhosa. Sem noção você perde várias coisas que precisam dela para acontecer.
– Diga-me, pois não a tenho, portanto, não compreendo.
– Perdeste, por exemplo, o ponto de calar-te, de saber que o rio deve estar gelado demais para banhos e que dançar na chuva causa resfriado. Também deves ter perdido a hora de voltar para casa quando estavas bebendo com tuas amigas e, sem dúvida, tomou sorvete demais no fim de semana. Sem noção. Entendeu?
– Acho que sim: a noção de certa forma é a prima do padrão.
– Isso. Por isso costumamos dizer para alguém sem noção que está fora do padrão.
– Sim entendi. Quer dizer que eu deveria ter nascido na família dos Escapuletos.
– O quê? Perdeste a noção outra vez? O que dizes nessa fala sem nexo?
– Perdi? Foi? Então cala-te e deixa-me aqui com esse juízo imperfeito que tem para mim ainda mais sentido.
– Pois bem. Fique aí que ficarei aqui.
– Aí onde?
– Por detrás do monte.
– Monte?
– Hahaha! Te peguei.
– Pegou onde.
– Por detrás do monte, já falei.
– Quem me fala?
– Falo eu, sua sem noção.
– Enlouqueceste.
– Não, apenas observo que finalmente a encontraste.
– A noção?
– Não, a liberdade.

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