Industrialização  valoriza a noz-pecã

Negócios

Industrialização valoriza a noz-pecã

O cultivo de nogueiras cresce em média 700 hectares por ano. Na região, responsável por boa parte das frutas colhidas no estado, cinco empreendimentos apostam na industrialização para multiplicar os lucros e atender o mercado.

Por

Industrialização  valoriza a noz-pecã

Nozes in natura, com cascas, doces, salgadas, inteiras, quebradas, moídas, chá de nozes, farinha, óleo e rapaduras. Esses são apenas alguns dos subprodutos feitos a partir da noz-pecã e que ajudam a multiplicar os ganhos de quem aposta na cultura.

A Nozes Pitol, de Anta Gorda, se destaca entre as maiores agroindústrias do fruto do RS. A Pitol abriu as portas no início dos anos 1970 apenas como viveiro, mas hoje industrializa a noz em diversos produtos, como farinha, a noz triturada, embalada a vácuo, moída, doce ou salgada. Ao todo, o leque de produtos soma 11 variedades. A agroindústria foi montada em 2008 e surgiu para garantir um rendimento estável ao longo do ano. “Havia uma demanda de padarias, mercados e do cliente comum por produtos além da noz com casca. Também queríamos fugir da oscilação do preço da fruta in natura”, resume Leandro.

O valor do quilo de noz industrializada chega a R$ 50, enquanto a fruta in natura com casca é vendida por apenas R$ 12. Por ano, são beneficiadas em torno de 170 toneladas. A produção da família alcança 20 toneladas e o restante é comprado de produtores locais, do Paraná e Santa Catarina.

Conforme ele, um hectare recebe cem pés. Quando atingir a fase adulta, em um cálculo conservador, cada nogueira produzirá entre 30 e 40 quilos. Um hectare, portanto, pode gerar quatro toneladas da fruta. “Com um preço médio de R$ 12 o quilo pago ao produtor, a renda atinge R$ 48 mil por safra, um ótimo negócio”, avalia.

Para Leandro, o segmento carece de políticas específicas. Destaca a implantação do Programa Estadual de Desenvolvimento da Pecanicultura – Pró-Pecã e a instalação da Câmara Setorial da Noz-Pecã como um avanço importante para regrar e qualificar o setor, criar políticas de incentivo e aumentar a oferta de matéria-prima.

Segundo Pitol, os produtores carecem de orientação técnica, de parcerias com instituições de pesquisa para comprovar os benefícios para a saúde e auxiliar as empresas para atender as novas demandas do mercado. “Trabalhamos com a experiência do campo. Faltam tecnologias e estudos para melhorar todas as etapas do ciclo produtivo”, afirma.

Destaca a demanda pela noz no mercado externo. Os maiores produtores, Estados Unidos e México, vendem boa parte das safras para a China, maior comprador mundial da fruta. “Eles querem fruta com casca. Precisamos estar melhor preparados para quem sabe no futuro até exportar”, reforça.

Outro entrave é a oscilação na oferta da matéria-prima e que faz aumentar a importação de outros países, especialmente do Chile, cuja qualidade é inferior. Cita o exemplo do ciclo passado quando o RS colheu a pior safra da história. Com isso, o preço, tanto do fruto em casca como o beneficiado, disparou e deixou o cliente retraído. Além dos estoques abarrotados, muitas agroindústrias faliram, conta.

Sucessão garantida e novos produtos a caminho

Com ajuda do filho Leonardo, Mattos projeta lançar novos produtos à base da fruta para atender o mercado e aumentar a rentabilidade da família. Neste ciclo, colheu sete toneladas

Com ajuda do filho Leonardo, Mattos projeta lançar novos produtos à base da fruta para atender o mercado e aumentar a rentabilidade da família. Neste ciclo, colheu sete toneladas

José Carlos Gonçalves de Mattos, 54, de Cruzeiro do Sul, trabalha com nozes faz 20 anos. Aos poucos, a rentabilidade da fruta substitui os ganhos da lavoura de fumo e de culturas tradicionais, como o milho.

Para garantir a permanência do filho Leonardo, 18, na propriedade, resolveu agregar valor ao fruto colhido em uma área de 34 hectares, mantida em parceria com um vizinho. Com ajuda da Emater, construiu uma agroindústria há quatro anos. Foram investidos R$ 60 mil. Desse montante, R$ 44 mil foram financiados pelo Feaper, onde 80% do valor é repassado a fundo perdido.

O produto é vendido para todo RS. “Tem consumo garantido pela questão saúde”, afirma José. As embalagens variam entre 300 gramas e um quilo, cujo valor chega a R$ 50. Com auxílio do filho, novos investimentos são feitos. Para agilizar a colheita, foi comprado um vibrador de tronco, um trator e uma máquina para auxiliar na quebra dos frutos. O valor aplicado alcançou R$ 125 mil.

Outra meta é recuperar o pomar implantado há 40 anos. Outro quatro hectares serão plantados até 2018. “Vamos melhorar o solo, adubar e assim esperamos aumentar o rendimento por planta em até 90%”, projeta Leonardo. Neste ciclo, colheram sete toneladas.

[bloco 1]

O jovem está entusiasmado e projeta o lançamento de novos produtos como nozes doces, salgadas e moídas. “Existe a necessidade de inovar, ter embalagens diferentes para atender as preferências do cliente”, explica. Além das nogueiras, a família aposta na criação de gado de corte.

A atividade reduz a mão de obra utilizada na manutenção do pomar, deixa o terreno limpo, livre de ervas daninhas que possam prejudicar o crescimento da árvore. Com o passar dos anos, também colabora com o acúmulo de matéria orgânica que auxilia na adubação das plantas.

Para elevar a produtividade, Schmidt pretende extrair 1/3 das árvores do pomar. Objetivo é aumentar a produtividade

Para elevar a produtividade, Schmidt pretende extrair 1/3 das árvores do pomar. Objetivo é aumentar a produtividade

O mato virou pomar

Faz 12 anos que cinco irmãos da família Schmidt, de Canudos do Vale, plantaram cem mudas de nogueiras em uma área abandonada na localidade de Cangerana. “Viraria mato”, confessa Jacinto. O investimento na época chegou a R$ 2,5 mil, sendo 20% do valor subsidiado pelo Executivo.

A ideia surgiu após visita a uma propriedade de Cachoeira do Sul e apoio técnico da Emater local. Hoje, são 1,2 mil plantas em seis hectares, cuja produção somou duas toneladas neste ciclo. A venda ainda ocorre de forma in natura para vizinhos e mercados da região. O valor do quilo está cotado em R$ 20. Quando descascado, alcança R$ 50.

Para valorizar a produção, a família projeta construir uma agroindústria. Jacinto estima colher uma média de 20 quilos por árvore em 2020. “Nossa meta é colher 24 toneladas em oito anos. É um excelente negócio”, assegura. Para aumentar o período de armazenamento, a família faz a secagem das nozes.

[bloco 2]

Entre as dificuldades, Flávia destaca o ataque de pragas devido ao excesso de chuvas. Doenças causadas por fungos prejudicam o desenvolvimento e a quantidade de frutos colhidos. Para reduzir as perdas, aplicam tratamentos intensivos.

Outro problema verificado é o espaçamento que é de apenas 7 metros entre um pé e outro. O ideal seria 10 metros. Para garantir o bom rendimento, a ideia é extrair 1/3 das plantas.

Atividade rentável e com demanda garantida

Conforme Derli Paulo Bonine, assistente técnico regional de Produção Vegetal, da Emater Regional de Lajeado, tanto a área como o beneficiamento de nozes avança no Vale do Taquari por ser uma atividade rentável.

A região já tem cinco agroindústrias. Existe disponibilidade da matéria-prima e uma altíssima demanda pelo produto beneficiado, seja nozes descascadas embaladas a vácuo, em pedaços, trituradas ou industrializadas de outras formas, assegura.

Chama atenção para a importância de oferecer ao cliente um produto de qualidade e observar as exigências tecnológicas no processamento. As nozes têm que ser secas, e o produto não pode conter pedaços ou resíduos de casca, ensina.

Um dos principais problemas que podem advir de um processamento malfeito é a possível existência de aflatoxinas nas nozes, que são substâncias tóxicas e carcinogenéticas para o homem, e tem levado nos últimos anos a uma intensa investigação no sentido de as detectar e prevenir.

Segundo Bonine, as aflatoxinas são micotoxinas produzidas por fungos do gênero aspergillus, e podem estar presentes nas amêndoas de nozes escurecidas, ardidas, rachadas e contaminadas. “É fundamental separar e eliminar do produto final essas amêndoas contaminadas”, destaca.

A cultura da nogueira pecã tem diversas particularidades – desde o plantio até a comercialização é uma longa espera. Um pomar começa a dar retorno econômico a partir do sétimo ano. Por isso, aconselha o cultivo consorciado – milho, soja, feijão, fumo ou criação de gado de leite, de corte e ovelhas. Antecipa o retorno econômico da área cultivada, finaliza.

Boa safra, frutas sadias

O cultivo consorciado é indicado para antecipar o retorno econômico do pomar que começa a render frutos depois de sete anos

O cultivo consorciado é indicado para antecipar o retorno econômico do pomar que começa a render frutos depois de sete anos

Após colher a pior safra da história, 500 toneladas, neste ciclo, os produtores de noz-pecã têm motivos de sobra para comemorar. Embora o preço tenha reduzido em função da oferta crescer mais de 150%, o lucro têm sido satisfatório.

O RS é responsável por 49% da produção da fruta no país, pois o clima temperado do estado é propício para o plantio de nogueiras. Em 2005, conforme a Emater, os pomares somavam 790 hectares. Doze anos depois, a cultura ocupa uma área plantada de 3,4 mil hectares no RS, com uma produção anual de 2,5 mil toneladas, somando 925 produtores.

Em média, cada produtor tem três hectares. A área avança mais de 700 hectares por ano. Anta Gorda, no Vale do Taquari, concentra o maior volume de produtores. São 280 famílias responsáveis em cultivar 450 hectares. Cachoeira do Sul tem o maior volume de produção do RS. São 870 hectares divididos entre 79 produtores.

[bloco 3]

Conforme o engenheiro agrônomo Antônio Conte, nem as chuvas acima da média, quase todos os meses, atrapalharam a cultura. “Temos nozes sadias, de bom tamanho e granação”, afirma. A Emater prevê uma produção acima de duas mil toneladas até o fim do mês de junho. Mesmo assim, o volume é suficiente para atender menos de 10% da demanda brasileira pela fruta – 90% da noz consumida no Brasil é importada.

Acompanhe
nossas
redes sociais