Egescon destaca lado humano

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Egescon destaca lado humano

Congresso instiga criatividade comparando a arte ao universo corporativo

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Egescon destaca lado humano

Representantes de escritórios contábeis de todo o país se reuniram nos dias 13 e 14 em Porto Alegre para o 5o Encontro Gaúcho de Empresas de Serviços Contábeis (Egescon).

O evento, que também comemorou os 30 anos do Sescon-RS, trouxe nomes como dos apresentadores de TV, Richard Rasmussen e Olivier Anquier, e do ator global, artista e empresário circense, Marcos Frota.

Com a tema “O Espetáculo da Gestão”, o evento abordou o lado humano das relações corporativas por meio da comparação com a arte. Conforme o presidente do Sescon-RS, Diogo Chamun, a intenção foi instigar a criatividade e a inovação na forma como os negócios são conduzidos.

“O evento visa escapar das questões essencialmente técnicas porque elas são trabalhadas todos os dias pelas empresas”, afirma. Segundo ele, o encontro aponta caminhos para superar o momento de baixa produtividade e serviços de qualidade insuficientes vivido no país.

“É fundamental buscar a excelência, por meio do foco na gestão e em ferramentas para as tomadas de decisão”, ressalta. Segundo Chamun, o setor contábil precisa oferecer algo mais além de conhecimento técnico, uma vez que hoje existem softwares capazes de emitir guias e realizar cálculos e outras tarefas antes exclusivas dos contadores.

Cultura como inspiração

A primeira palestra do evento foi ministrada por Marcos Frota. Ele falou sobre a trajetória na carreira como ator, e a paixão pelo circo, motivo pelo qual se tornou empresário e incentivador da arte circense.

Para Frota, o amor empregado na cultura e na arte deve servir de inspiração para empresários e trabalhadores brasileiros, principalmente neste momento de crise política, econômica e de valores. “Temos hoje a oportunidade de apertar os furúnculos e expurgar tudo o deixou a alma brasileira atrofiada.”

Segundo ele, os empreendedores são os que mais sofrem com o cenário de instabilidade, uma vez que colocam em risco seus investimentos. Por outro lado, acredita que o setor deve acreditar mais no país e nas características positivas do povo. “Estamos confusos e amedrontados, mas o melhor do Brasil é o brasileiro”, aponta.

O Egescon teve ainda palestras do jornalista e especialista em Cinema Renato Martins, que falou sobre gestão, liderança, motivação e inovação, e dos apresentadores Olivier Anquier e Richard Rasmussen.

Nascido na França, Anquier veio para o Brasil faz cerca de 30 anos, tornando-se um dos chefs mais renomados do país. Empresário do setor alimentício, falou sobre suas práticas para a gestão dos negócios em que atua.

Contador, economista e biólogo, Rasmussen abordou suas experiências como apresentador no programa pelo qual percorre diferentes regiões do mundo para mostrar o comportamento de animais selvagens. Também falou sobre a gestão de equipes em situação de alto risco.


“Para você ser mais econômico com a natureza, precisa gastar mais”

A Hora – Como gerenciar com sucesso uma equipe em situação de alto risco?

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Richard Rasmussen – A pessoa tem que gostar do que faz, entender o propósito daquilo e ser bem remunerada. Temos uma equipe com remuneração acima da média, mas isso não paga a conta de arriscar a vida. Por isso, tem que gostar. O dinheiro tem mais a ver com o que você perde do que com o risco, porque esses caras ficam dez meses fora de casa, e todos têm família. Para manter a equipe motivada o tempo todo, o gestor precisa mostrar que também faz parte do time. Eu sou dono da produtora e o principal produto. Mas eles têm que saber que eu sou um colega, que carrega as malas junto, que entende eles. Tem que ser um cara humilde, que se expõe às mesmas condições difíceis da equipe.

Você é economista e faz uma forte defesa da conservação ambiental. É possível aliar o crescimento econômico e a preservação da natureza?

Rasmussen – Existe uma fórmula para isso, mas é um pouco mais cara. Para você ser mais econômico com a natureza, precisa gastar mais. Se o empresário hoje faz 20% de lucro, será que não vale fazer 18% sem destruir o ambiente? Não é justificável para os sócios e os investidores? Infelizmente a maioria quer maximizar os lucros com o mínimo de investimento, aí é incompatível e você sempre vai estar depredando. É preciso calcular, na sua vida, quanto vale o dinheiro. Nós viramos acumuladores de dinheiro e criticamos o estilo de vida dos indígenas. O indígena não acumula. Ele pesca, caça e cultiva apenas o que vai consumir.

A forma como o brasileiro trata os indígenas lhe incomoda?

Rasmussen – A gente tem muito que aprender com eles. Tem coisas que ensinamos errado aos povos indígenas. Eles aprenderam também a acumular, a safadeza, a malandragem. Mas existe uma base muito pura para beber dessa fonte e buscar as coisas fundamentais para a vida. A grande mudança que tive na minha vida foi em 2005, em uma experiência com povos indígenas, mas na base, não no topo da pirâmide onde as coisas já estão diferentes. É uma fonte pura para entender as coisas fundamentais sobre o ser humano.


“Tomara que essa oportunidade permita uma consciência de mudança de atitude”

Como a indústria brasileira da alimentação pode gerar credibilidade em um período de escândalos e fraudes no setor?

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Olivier Anquier – O mundo da indústria alimentícia não é meu universo, pois sou um artesão. O industrial é necessário porque a massa de gente é gigantesca, bem diferente do que era há três séculos, e a alimentação mudou. Os artesãos não dariam conta de alimentar toda essa gente. Existem práticas decentes e condenáveis na indústria, mas isso tem mais a ver com o indivíduo. É preciso saber quem são os homens que estão por trás dessa produção e como eles enxergam o mundo. Na história recente que vivemos no país, isso fica muito claro. Fico muito machucado quando vejo o que está acontecendo com essa empresa de proteína (JBS), porque duas pessoas destruíram a vida de milhares de trabalhadores brasileiros. O egoísmo e o individualismo explodiram a credibilidade do país e a vida de milhares de famílias, no interior e nos centros urbanos, em todas as atividades onde essa empresa atua. Na minha visão, o problema não é exatamente a indústria, mas são os homens que fazem essa indústria. Existem pessoas sensacionais, mas existem essas que causaram tudo isso.

Este momento de turbulência pode resultar em uma atuação mais ética por parte de quem atua, não apenas no setor de alimentos, mas também em outras esferas?

Anquier – Isso não atinge apenas a produção de alimentos, tanto que temos na Lava-Jato dois segmentos completamente distintos, como a construção civil e a alimentação. A inexistência de caráter é a mesma. Mas o momento é oportuno para uma mudança. Fico um pouco preocupado quando ouço pessoas dizendo que a Lava-Jato precisa parar. Porque você vê que, para o conforto individual, nos autorizamos a fechar os olhos. É a aceitação da impunidade por egoísmo. Tomara que essa oportunidade permita uma consciência de mudança de atitude. Para isso, precisamos de educação e uma série de outras coisas. Continuamos em um ponto de interrogação.

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