Vale do Taquari – Fortes dores de cabeça e a perda de 21 quilos em um mês levaram o caminhoneiro Cássio Kempfer, 25, a fazer uma série de exames. Constatado um problema hereditário, o mal funcionamento dos rins. No Natal de 2013, passou pela primeira sessão de hemodiálise. Desde então, são três visitas por semana ao Hospital Bruno Born (HBB), cada uma de quatro horas.
A cura depende de um transplante. Como Kempfer, outras 32 pessoas do Vale aguardam na fila por um rim. Para sensibilizar a comunidade e colocar o assunto doação de órgãos em voga nas conversas familiares, se promove do dia 22 a 28 a Semana Nacional de Doação de Órgãos.
Para a enfermeira da Organização de Procura de Órgãos e Tecidos (OPO), Adriana Calvi, muitas vezes, quando constatada uma morte cerebral, as famílias negam a captação dos órgãos por desconhecer a vontade do parente.
Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) mostram que a negativa das famílias aumentou. De todas as mortes encefálicas, pouco mais da metade se transforma em doação. Em 2012, eram 41%. O percentual passou para 47% no ano passado.
Como resultado, queda no número de transplantes. No HBB, por exemplo, foram cinco procedimentos até este mês. Enquanto no ano passado 11 pacientes receberam um novo rim e em 2012 foram 19.
Em outro procedimento oferecido em Lajeado, o transplante de córneas, não há pacientes em espera. Foram três operações neste ano e 11 em 2013. “Doar é um ato de solidariedade. Uma pessoa pode salvar sete vidas”, frisa Adriana.
Estudo da ABNT mostra que o Estado tem um dos maiores índices de doadores. Pelo levantamento, alcança 16,3 efetivos a cada milhão de habitante, ficando na quinta posição, atrás de São Paulo (20,1), Ceará (26,3), Santa Catarina ( 29,4) e do Distrito Federal (29,6).
“Nunca tínhamos falado sobre isso”
O diagnóstico sobre o problema nos rins mudou a vida de Cássio Kempfer. As limitações o impedem de trabalhar, praticar esportes e viajar com a família. “Tenho que estar sempre por perto. Como se fosse uma prisão.”
Morador de Lajeado, do bairro Santo André, não imaginava que poderia ter uma doença como essa. Talvez por isto, nem ele, nem ninguém na família, conversava sobre este assunto. “A gente não espera até acontecer. Nunca tínhamos falado sobre isto”, admite.
Como a enfermidade é hereditária, ninguém na família pôde se oferecer como doador. Com isto, entrou na lista para receber um rim. Mantém a esperança de ser atendido o quanto antes. “Quero voltar a normalidade. Poder trabalhar, ser saudável, pois também vou ser pai.”
Regras para ser doador
• Ter identificação e registro hospitalar;
• Ter a causa do coma estabelecida e conhecida;
• Não apresentar hipotermia (temperatura do corpo inferior a 35ºC), hipotensão arterial ou estar sob efeitos de drogas depressoras do sistema nervoso central;
• Passar por dois exames neurológicos que avaliem o estado do tronco cerebral. Esses exames devem ser realizados por dois médicos não participantes das equipes de captação e de transplante;
• Ser submetido a exame complementar que comprove a morte encefálica, caracterizada pela ausência de fluxo sanguíneo em quantidade necessária no cérebro, além de inatividade elétrica e metabólica cerebral.
• Estar comprovada a morte encefálica. Nesta situação o cérebro está morto, tornando a parada cardíaca inevitável. Apesar de ainda haver batimentos cardíacos, que vão durar apenas por algumas horas, o paciente não pode mais respirar sem os aparelhos;
• Após a morte cerebral confirmada, aprovação da retirada dos órgãos por familiares de até segundo grau.
Quando há morte encefálica podem ser doador
• Córneas (retiradas do doador até seis horas depois da parada cardíaca e mantidas fora do corpo por até sete dias);
• Coração (retirado do doador antes da parada cardíaca e mantido fora do corpo por no máximo seis horas);
• Pulmão (retirados do doador antes da parada cardíaca e mantidos fora do corpo por no máximo seis horas);
• Rins (retirados do doador até 30 minutos após a parada cardíaca e mantidos fora do corpo até 48 horas);
• Fígado (retirado do doador antes da parada cardíaca e mantido fora do corpo por no máximo 24 horas);
• Pâncreas (retirado do doador antes da parada cardíaca e mantido fora do corpo por no máximo 24 horas);
• Ossos (retirados do doador até seis horas depois da parada cardíaca e mantidos fora do corpo por até cinco anos);
• Medula óssea (se compatível, feita por meio de aspiração óssea ou coleta de sangue);
• Pele.