Lajeado – A falta de espaço nas vias públicas devido à quantidade de veículos é um dos problemas das cidades. Na Semana Nacional do Trânsito, de 18 a 25, governos, conselhos e instituições debatem alternativas para reduzir o número de carros nas ruas.
Em Lajeado, município com um dos maiores índices de motorização do Estado (próximo de 0,75 veículo por habitante), o Executivo discute com integrantes do Conselho Municipal de Trânsito (Comtram), grupo de ciclistas PedaLajeado, estratégias para ampliar as faixas destinadas para o tráfego de bicicletas.
Há cerca de 22 quilômetros de ciclofaixas instaladas na cidade. Feitas há mais de quatro anos, custaram R$ 950 mil. Conforme o coordenador do Departamento de Trânsito, Euclides Rodrigues, as obras foram concluídas sem um estudo de viabilidade técnica.
Como resultado, o erro de planejamento exigiu a retirada das faixas em três locais. Os problemas destacados pelo conselho nesses locais abordam o fluxo intenso de veículos automotores, a insegurança e pouco uso por parte dos ciclistas.
Os pontos ficam na rua Bento Rosa, do viaduto da BR-386, passando pela Bento Gonçalves até a esquina com a Oswaldo Aranha. Outro é na rua Carlos Spohr Filho. Por fim, as faixas do bairro Jardim do Cedro. Juntos somam cerca de cinco quilômetros.
Para corrigir as falhas, diz Rodrigues, o município deve contratar uma empresa especializada para fazer os levantamentos sobre locais próprios e impróprios para ciclofaixas. Pela lei, ruas com espaço divididos entre bicicletas e veículos, precisam de um laudo técnico atestando a conformidade da via e que garanta a segurança dos usuários.
Sem esse documento, multas por estacionar em ciclofaixas não têm validade, afirma Rodrigues. Segundo ele, houve casos de motoristas que entraram com recurso e conseguiram invalidar a infração.
Bicivates se consolida
Com uma média de 30 compartilhamentos por dia, contando os fins de semana, as bicicletas do projeto Bicivates, da Univates, conquistaram a simpatia de alunos, funcionários e professores. Ao todo, 2.264 pessoas estão cadastradas no programa.
Implementado na metade de maio, visa reduzir o número de carros no câmpus. Gerente do Setor de Engenharia e Manutenção da Univates, o engenheiro Robledo Müller, ressalta a surpresa da universidade frente à aceitação do público.
Na opinião dele, um dos princípios da Univates é adotar atitudes para ampliar o debate na sociedade. “Ao ver nas ruas mais pessoas de bicicleta, isso obriga o setor público a pensar em como dar mais segurança dos ciclistas.” O projeto Bicivates é o primeiro desenvolvido por uma instituição de ensino na América Latina.
Ao todo, são 120 bicicletas. De forma gratuita, os usuários podem usar os veículos por até duas horas. Para integrar o sistema, basta se inscrever pela internet (www.univates.br/transporte/bicivates). Os veículos ficam em três pontos (nos prédios 1 e 11, e no Complexo Esportivo). Em cada um deles, são 40 bicicletas. O investimento da Univates se aproxima dos R$ 500 mil.
Mudança cultural
O automóvel tem lugar de destaque na vida do brasileiro. Por vezes representa status e sucesso. A própria indústria brasileira depende da produção automotiva. Mais de 30% do PIB nacional provém desse setor.
Para o engenheiro Muller, diminuir a quantidade de carros na rua depende de uma revisão cultural, algo demorado e difícil de conseguir. Na opinião dele, Lajeado é uma cidade de vanguarda, por ter grupos preocupados em pensar o futuro da cidade. Como exemplo, cita as ciclofaixas da cidade. “Foram instaladas quando não havia essa preocupação.”
Para o coordenador do Trânsito em Lajeado, o município deve oferecer melhor estrutura aos ciclistas. “Como vamos cobrar o uso de bicicletas se não temos nem locais adequados para deixá-las?”, questiona.
Segundo Rodrigues, o grupo PedaLajeado deve apresentar, na próxima reunião do Comtran, marcada para quarta-feira, uma proposta para instalação de bicicletários no centro.