Vale do Taquari – A estimativa populacional, divulgada ontem pelo IBGE, mostra redução no número de habitantes em 11 cidades da região desde 2004. Os índices são fundamentais para o cálculo de indicadores econômicos e sociodemográficos, como servem de parâmetro pelo Tribunal de Contas da União (TCU) na partilha do Fundo de Participação de Estados e Municípios .
Em proporção, Pouso Novo teve a maior diferença. São 1.862 residentes, 323 a menos se comparado há dez anos. O fechamento de escolas pelo interior retrata a ineficiência de gestores público em evitar o êxodo rural. Dos 17 colégios operantes na época da emancipação, restaram dois. Com menos associados, comunidades religiosas também enfrentaram dificuldades e capelas foram abandonadas.
Pela tendência, segundo o prefeito Luiz Buttini, os jovens devem continuar deixando a cidade. De acordo com o gestor, por mais incentivos que sejam oferecidos para a permanência, eles preferem se arriscar a um futuro nos grandes centros. “Sofremos muito com isto, afinal são os braços que se vão e deixam de produzir aqui.”
Fatores como qualidade de vida e pouca disputa profissional em Pouso Novo, na avaliação de Buttini, podem ajudar a travar o êxodo no futuro. “Estamos muito preocupados com um provável colapso, mas a quantidade de pessoas que saem da cidade diminui a cada ano. Alguns estão percebendo que a vida lá fora não é aquilo que parece.”
Cristiane Rigo está entre o percentual de 14,7% das pessoas que deixaram o município nesta década. Em setembro do ano passado, decidiu morar com os pais em Tubarão, Santa Catarina. O resto da família já havia deixado Pouso Novo em 2011 na busca por oportunidades, quando comprou um restaurante no Estado vizinho. De acordo com a jovem, os governos locais não pensam na atração de empresas e a cidade decai. “Hoje a maioria dos mais novos que ficou trabalha na prefeitura.”
Processo semelhante passou Kassio Grana, em 2008, então com 17 anos. Rumou a Porto Alegre para trabalhar como garçom. Economizou dinheiro e três anos mais tarde comprou a própria lancheria. “Não teria chance de crescer se ficasse lá. Faltam empresas e as pessoas estão saindo. Seria uma contradição ficar.”
Menos pessoas, menores recursos
A redução no número de habitantes representa perda de recursos futuros aos municípios. Os principais são o FPM e o retorno do ICMS, que em alguns casos representam quase metade da receita dos cofres públicos.
Conforme o IBGE, a população do Estado cresceu 0,38% neste ano em comparativo a 2013, totalizando 11,21 milhões de pessoas. Por outro lado, 219 cidades gaúchas tiveram queda no período. A segunda cidade do Rio Grande do Sul que mais perdeu residentes foi Cruzeiro do Sul. Passou de 12.876 para 12.122 – diferença de 5,8%.
Os índices deixam a Famurs em alerta. De acordo com o presidente da entidade, Seger Menegaz, diminuição prejudica o avanço do Estado. “Precisamos combater essa queda para desenvolver a economia gaúcha”, afirma.
Para o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, a redução populacional de algumas cidades pode ser vista de maneira positiva. Como exemplo, cita menores demandas sociais. “O poder público consegue acompanhar cada cidadão de maneira mais pontual.”
Vale cresce
Por outro lado, o número de habitantes do Vale do Taquari cresceu nesta década. Passou de 316 mil para 347 mil. Em proporção, Fazenda Vilanova teve a maior diferença. Em 2004 eram 3.098 residentes, alcançando 4.048 em julho deste ano – data final da pesquisa. A variação representa um incremento de 30,6%.
Entre os novos moradores, está o soldador Leonardo André Duarte. Em agosto do ano passado, migrou de Taquari. A maior oferta de emprego e o menor custo de vida entre as duas cidades foi determinante. “Não tinha serviço e o aluguel estava muito caro.” No começo conseguiu trabalho em Arroio do Meio, e depois em uma nova empresa de Fazenda Vilanova.
Na sequência da lista aparece Teutônia, onde o crescimento atingiu 25,9% nestes dez anos. Mato Leitão está em terceiro: 20%. Lajeado continua a ser a cidade mais populosa do Vale do Taquari, com 12,5 mil novos moradores desde 2004.