Vale do Taquari – A falta de representatividade da região nos parlamentos aparece como uma das preocupações das entidades. Em 2010, nenhum candidato com base eleitoral no Vale do Taquari conseguiu uma cadeira na Assembleia Legislativa (AL).
Os nove nomes da época tiveram em torno de 30% da preferência do eleitorado. Mais de 134 mil votos foram para políticos de outras localidades. Por outro lado, os nomes do Vale receberam apenas 22 mil votos fora dos 36 municípios do Vale.
Na opinião do presidente da Câmara da Indústria e Comércio do Vale do Taquari (Codevat), Ito Lanius, o eleitor tem liberdade em escolher qualquer nome, mas lamenta o fato de poucos se lembrarem em quem votaram para a Câmara de Deputados e Assembleia Legislativa. “Precisamos mudar nossa cultura. Ter mais consciência política. Escolher candidatos tendo motivos claros, visando o bem comum.”
Pesquisa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) feita um mês depois da eleição de 2010 corroborou essa análise de Lanius. Pelo estudo, um em cada cinco eleitores esqueceu em qual parlamentar havia votado. Um outro levantamento, este feito pela Unicamp, aponta que 70% dos brasileiros não se lembravam em que deputado votaram quatro anos antes.
Segundo Lanius, a falta de deputados com raízes na região reduz a representatividade local e atrapalha nas negociações com o Estado. “Nos falta um porta-voz das reivindicações do Vale do Taquari.” Conforme Lanius, sem essa participação, as demandas locais são prejudicadas.
Como exemplos, a dificuldade em conseguir atrair investimento para que a ferrovia norte-sul passe pela região, melhorias na infraestrutura rodoviária e mais qualidade na prestação de serviços concedidos, em especial a energia elétrica. “Todas estas questões, de alguma forma, limitam o desenvolvimento econômico sustentável.”
Nas eleições de 2010, a disputa pelas 55 cadeiras da AL somou 540 candidatos. Deste total, 375 políticos tiveram votos nos 36 municípios da região. Na época, os cartórios do Vale registravam cerca de 220 mil eleitores.
Para este ano, estima-se que sejam necessários entre 30 mil até 50 mil para o cargo de deputado estadual. Já para federal, são necessários o aval de, no mínimo, 80 mil eleitores.
Consciência eleitoral
Com uma ideia de prestar serviço para coligações e partidos políticos, para ajudar na elaboração de estratégias de campanha, o analista de sistemas Carlos Kieling criou um blog e uma conta na rede social Facebook tabulando os números da última eleição. Chamado de Inteligência Eleitoral, mostra o comportamento dos eleitores da região.
No levantamento, Kieling percebeu uma tendência. Nos municípios do centro, Lajeado, Cruzeiro do Sul, Estrela e Arroio do Meio, o eleitorado dedicou mais de 50% dos votos para candidatos à AL com base na região.
No entanto, na parte alta e nas imediações da cidade de Taquari, a adesão aos nomes ditos do Vale foi pouca. “Pelo que parece, as pessoas se identificam com determinado nome por outra razão, que não as divisões geográficas”, avalia.
Como forma de comparação, diz Kieling, a cada oito votos dos lajeadenses, sete foram para candidatos que não se elegeram. Enquanto em Taquari, 70% dos votos foram para postulantes eleitos. “Vemos que os nomes do centro do Vale não representam toda a região.”
A ideia de tabular os dados de órgãos oficiais começou nas eleições municipais de 2012. “O blog foi um teste para ver se o projeto vingava.”
O uso comercial das informações não foi tanto quanto Kieling esperava. Por outro lado, a participação dos usuários do Facebook surpreendeu o analista. “Passamos de 550 curtidas. Muitas pessoas estão comentando. Isto foi bem positivo. Muitos têm curiosidade em saber.”
Na opinião dele, as estatísticas podem ajudar a profissionalizar as campanhas. Enquanto a disputa para deputado depende de uma rede de apoio, para vereador, parentes, vizinhos e amigos abrange o eleitorado da cidade. “Não há espaço para amadorismo quando o político entra na disputa para uma cadeira na Assembleia ou na Câmara.”
Perda de representatividade
Para a presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Cíntia Agostini, comparando com os anos 90, a região perdeu espaço. Na opinião dela, a redução na representatividade tem impacto no crescimento. “Por mais que sejamos uma região pujante, poderíamos ter um desenvolvimento ainda maior.”
Segundo ela, o Vale se mostrou uma região autônoma, com uma dinâmica própria e voltada ao trabalho. “Crescemos justo por isto. Temos entidades civis organizadas e atuantes. Mas para quem vamos levar nossas reivindicações? Se vamos direto ao Executivo, temos de competir com todo o Estado. Daí fica mais difícil.”
Para colocar os candidatos que vêm ao Vale em busca de votos, o Codevat e as demais entidades que fazem parte do conselho elaboraram uma lista de prioridades. O material será entregue em cada visita de algum postulante aos órgãos regionais.
Entre as principais necessidades, o planejamento do Codevat cita a publicação do Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental, em que dá como fundamental a duplicação da RS 129/130, nos trechos entre Venâncio Aires e Arroio do Meio, também indicando a melhoria até Muçum.
O volume de tráfego de veículos supera 26 mil veículos por dia no trecho de Lajeado. O estudo foi financiado pelos municípios lindeiros.
Outra obra prioritária é a continuação de duas pistas na BR-386 até Iraí. Pela análise do Codevat, o trânsito da metade do Estado passa pela estrada. Também foi a rodovia federal com mais acidentes fatais nos últimos anos.
Maioria consegue a releição
Dos 37 deputados estaduais que tentaram a releição em 2010, 33 foram confirmados por mais um mandato. Para o presidente da CIC-VT, a exposição e a máquina pública são usadas para manter os mesmos nomes no poder. “O deputado se elege e trabalha desde o primeiro dia pensando na próxima eleição.”
Segundo Lanius, o político brasileiro para se manter no cargo hoje precisa ser melhor em marketing do que em gestão. Com a rede de contatos, os políticos criam bases em diversas cidades. Com o dinheiro das emendas parlamentares, conseguem o comprometimento de prefeitos, vereadores, diz.
Esse vínculo, na avaliação de Lanius, ajuda a determinado candidato conseguir votos em diversas regiões. Para ele, conseguir romper com essa tradição depende do interesse dos eleitores em pesquisar o histórico dos postulantes. “É um tema complexo, pois pressupõe uma mudança cultural. Os que buscam a eleição pregam mudança e os que estão no poder dizem que fazem muito.”
Com base nos estudos, Carlos Kieling chegou a um percentual de que 86% dos candidatos novatos disputam uma eleição para cargo parlamentar apenas uma vez.