Risco de enchente ameaça ribeirinhos

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Risco de enchente ameaça ribeirinhos

Previsão de 80 milímetros deixa em alerta as equipes da Defesa Civil. Umidade também preocupa

Vale do Taquari – O nível do Rio Taquari precisa aumentar mais seis metros para gerar inundações. Nas últimas horas de sexta-feira ele baixava cerca de cinco centímetros por hora. Previsão de 80 milímetros de chuva entre sábado e domingo preocupa moradores de áreas ribeirinhas. Até o início da noite de sexta, não havia registros de flagelados.

3Ari Noll vive numa pequena casa de madeira no bairro Navegantes, em Arroio do Meio. Com estrutura deficiente, a humilde residência instalada às margens do Rio Taquari já enfrentou mais de 20 enchentes nas últimas três décadas. Reformas e improvisos são realizados a cada ano para manter as tábuas firmes. A água costuma atingir o telhado durante as inundaçoes.

O pescador está acostumado com os riscos. Sexta-feira, por volta das 14h, enquanto o nível do rio subia em torno de dez centímetros por hora, ele seguia tecendo uma rede de pesca e escutando o rádio de pilha. Da estreita varanda da casa, ele consegue avistar os dois barcos da família, amarrados a pequenos tocos de madeira na margem do Taquari. “Daqui e pouco tenho que puxá-los pra cima”, avaliava.

De tanto em tanto, vizinhos chegavam até a pequena casa do pescador. Curiosos, queriam avaliar a possibilidade de enchente. “Subiu muito?”, questiona um amigo que vive na mesma rua. “Está tranquilo”, devolve Noll. Ele não pretende empacotar os poucos pertences e móveis. Acredita que o rio baixará durante o fim de semana. “A chuva ainda está fraca. Se aumentar, vamos procurar abrigo.”

Próximo dali, na foz do Rio Forqueta, abaixo da Ponte de Ferro, o nível da água está bastante acima da média. A pequena cascalheira, localizada em Lajeado, e utilizada por banhistas durante o verão, estava toda submersa. A área de embarque e desembarque do Porto de Estrela também estava parcialmente debaixo d’água no fim da tarde de ontem.

“Vamos manter o alerta”

Se a previsão de 80 milímetros de chuva no sábado e domingo se confirmar, a região terá enchente. A afirmação parte do coordenador da Defesa Civil da região, o tenente-coronel Vinícius Renner.

Segundo ele, desde quarta-feira, houve um acumulado de cem milímetros nas cabeceiras da bacia hidrográfica Taquari-Antas, que incluem, entre outros mananciais, os rios Carreiro, da Prata e das Antas. No fim da tarde dessa sexta-feira, o Rio Taquari estava 3,5 metros acima do normal.

Caso alcance 20 metros, conta Renner, a Defesa Civil inicia operações para retirada de famílias das áreas de risco. “Depende do fim de semana. Como não temos certeza da quantidade de chuva, vamos manter o alerta”, frisa o militar. Qualquer emergência as pessoas devem ligar para o 199.

A partir de monitoramento da MetSul, a recomendação é de atenção com as nascentes na Serra, que desembocam nos vales do Caí, Sinos, Paranhana, Gravataí e Taquari. O último, com maior chance de enchente. No entanto, o pior cenário fica na fronteira Oeste do Estado, que na próxima semana pode ser impactada pela vazão da parte média e alta do Rio Uruguai.

Aquecimento acima da média

Conforme a meteorologista da Metsul, Estael Sias, o aquecimento acima da média do oceano Pacífico equatorial influencia no volume de chuvas anormal e provoca uma das maiores cheias do Rio Uruguai no norte do Estado desde 1983. “Devemos ter chuvas intensas nos próximos meses com repetidas enchentes caso o El Niño se intensifique.”

Segundo os boletins meteorológicos, a chuva deve se intensificar ao longo do sábado e domingo. O volume pode chegar a 80 milímetros no Vale do Taquari. As temperaturas ficam estáveis entre 12º e 18º. Na segunda-feira, a instabilidade deve diminuir, inclusive com períodos de sol. Apesar disso, não está afastada possibilidade de chuva com pouca intensidade em locais específicos.

Na metade da semana que vem, de acordo com os modelos analisados, se espera mais um episódio de precipitação. Com a atuação do fenômeno El Niño as massas de ar polar serão escassas e a previsão é de frio abaixo da média dos últimos seis anos.

Umidade do ar chega a 95%

Além da chuva, a umidade do ar também traz transtornos à população. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) os índices devem variar entre 85% e 95% na região entre sábado e domingo. O nível ideal de umidade no ar varia entre 30% e 60%.

O fenômeno provoca aumento na incidência de problemas alérgicos e respiratórios, devido à proliferação de ácaros, fungos e outros agentes. Os sintomas mais frequentes são crises de rinite e sinusite, problemas de pele e dor de cabeça. O excessivo vapor de água também deixa o organismo mais suscetível a outras complicações, como reumatismos.

Além dos problemas de saúde, a umidade excessiva prejudica prédios, móveis e aparelhos eletrônicos. As roupas também não secam após serem lavadas. De acordo com o representante comercial Édison dos Santos, 49, a água chega a escorrer pelas paredes do edifício onde a empresa está instalada. “A faxineira limpa e seca os corredores todos os dias, mas a água volta a se acumular.”

Se não for evitada, a umidade pode causar manchas escuras ou esverdeadas em paredes, azulejos e armários, causadas pela formação de mofo. O vapor de água também provoca corrosão em ligas metálicas, podendo danificar aparelhos eletrônicos. Santos tenta evitar o problema deixando as janelas e portas fechadas para manter o ambiente isolado. Mesmo assim, utiliza jornais para absorver a umidade restante.

Faxineira da escola Presidente Castelo Branco, de Lajeado, Márcia Gasparotto da Silva, 51, passa os dias secando as dependências do colégio. “Por mais que a gente limpe, a umidade volta a acumular pouco tempo depois.” Segundo ela, uma dica é utilizar panos com álcool, que ajudam na evaporação da água.

Chuva pelo Estado

Na divisa com Santa Catarina, os 313 mm de chuva, que inundaram o Norte do Estado, provocam uma das maiores enchentes das últimas décadas. O nível do Rio Uruguai em Iraí se aproxima dos 18 metros acima do nível normal. Essa marca foi verificada em 1983 na localidade do Médio Uruguai.

A cheia histórica do Rio Uruguai foi resultado das chuvas acima da média na parte média e alta da bacia, somado ao acumulado de precipitação no Noroeste e Norte. Conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia em Iraí, operante desde 1936, em menos de 100 horas, a chuva alcançou 319 mm. A média histórica para todo o mês de junho inteiro, de 1961 a 1990 é de 148,7 mm.

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