Vale do Taquari – Empresas ligadas ao transporte de cargas e de pessoas enfrentam problemas para completar as equipes de motoristas. Toda a semana, o mural da unidade do Sest Senat em Lajeado recebe cartazes com propostas de emprego aos alunos.
No Estado, o Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas (Setcergs) estima uma defasagem de dez mil vagas. Em âmbito nacional, a falta desse profissional supera cem mil. Uma primeira iniciativa para reverter essa situação foi confirmada na semana passada.
O projeto Habilitação Profissional para o Transporte – Inserção de Novos Motoristas beneficiará 50 mil pessoas. Elas poderão passar da categoria B para C e da categoria C para D ou E, participar de cursos, tudo de forma gratuita.
A ação faz parte de uma estratégia nacional do Sest Senat que abrange uma série de iniciativas. Uma delas foi o projeto Primeira Habilitação, lançado no dia 6 de fevereiro deste ano. Gerente da unidade de Lajeado, Raquel Mendes, afirma que, em comparação com outras regiões do Estado, os motoristas em formação no Vale do Taquari costumam passar pelos treinamentos antes de entrar no mercado de trabalho. “O pessoal se antecipa. Em outros locais, os motoristas deixam para a última hora. Depois de contratados, resolvem correr atrás do tempo perdido e fazer os cursos.”
Apesar dessa característica, o número de motoristas qualificados segue insuficiente para a demanda das empresas. De janeiro até maio, o Sest Senat de Lajeado formou 1.280 pessoas, contando os cursos para condutores de veículos de transporte de cargas, pessoas, produtos perigosos, ambulâncias, além de operadores de implementos.
Como a reclamação das empresas se volta à falta de qualificação, algumas oferecem o treinamento aos funcionários recém-contratados. Dono de uma transportadora de Lajeado, Valmor Scapini, encontrou nessa iniciativa uma forma de reduzir o déficit de motoristas.
A empresa atua nas regiões Sul e Sudeste do país. Também possui unidades na Argentina. Segundo Scapini, por mês, em média 70 candidatos passam pela seleção em busca de uma vaga para caminhoneiro. Apenas 15% são aprovados. “Tudo em função da qualificação técnica. A maioria não preenche os requisitos.”
O avanço tecnológico nos caminhões requer mais conhecimento. Alguns profissionais com uma idade mais avançada, diz Scapini, têm dificuldades em se adaptar aos novos tipos de veículos. Outro problema para as transportadoras é a rotatividade. Segundo o empresário, diante da dificuldade em conseguir funcionários qualificados, as empresas se voltam àqueles com experiência no mercado de trabalho. A faixa salarial vai de R$ 1,5 mil até R$ 4 mil.
Motorista larga a aposentadoria
Caminhoneiro há 25 anos, Dorly Nicoletti, 56, morador de Roca Sales, ficou menos de um ano parado. Os convites para voltar a trabalhar foram intensos, e ele decidiu voltar à atividade. “Primeiro porque eu gosto de trabalhar, mas também aceitei para ganhar um dinheiro extra”, resume.
As viagens para o centro do país agora ficam em segundo plano. Opta por trajetos mais curtos. “Já não sou mais guri”, brinca.
Segundo ele, para os profissionais com experiência no ramo não faltam oportunidades de trabalho. “A procura é muito grande. Tanto por transportadoras maiores como para fretes de menor distância.”
Troca de categoria grátis
O projeto Habilitação Profissional tem como propósito reduzir o déficit de motoristas profissionais no país. Para conseguir alterar a categoria da CNH, o candidato precisa ter de 21 a 45 anos. Para a seleção, o Sest Senat adota como critérios: renda familiar de até três salários mínimos, participar dos cursos de formação de novos motoristas e assinar um termo de compromisso, afirmando que irá trabalhar no setor de transporte.
As inscrições podem ser feitas pelo site do Sest Senat. Outros detalhes estão disponíveis na página da instituição na internet ou pelo 0800728-2891.
mudanças na lei do descanso
O Senado aprovou nessa terça-feira o projeto que flexibiliza o descanso obrigatório dos motoristas profissionais. A proposta altera a lei de 2012, aumentando o tempo permitido de direção contínua. Já a jornada máxima de trabalho, que pelo projeto original poderia chegar a 12 horas, foi mantida em dez horas.
De acordo com o texto, a cada seis horas no volante, o motorista descansa por 30 minutos. A parada pode ser fracionada, assim como o tempo de direção. Antes da alteração, os condutores poderiam trafegar por quatro horas sem parar.
Para o chefe de operações da 4ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Lajeado, Leandro Wachholz, a imposição das normas sobre o descanso dos caminhoneiros tem por objetivo preservar a vida.
Segundo ele, a legislação também tem o intuito de fazer que aquele motorista que dirige por horas seguidas não use drogas estimulantes para se manter acordado. Como exemplo, cita uma viagem do RS a São Paulo. “Fazer o percurso direto é quase impossível. A partir disso, alguns caminhoneiros tomam rebite, ou usam cocaína. Com a obrigação de parar, acreditamos que ele não vai se drogar.”