Vale do Taquari – Diante da escassez de profissionais para o atendimento nos postos de saúde, cidades da região apostam no Programa Mais Médicos como forma de suprir essa necessidade. Nesta quinta-feira, pelo menos três municípios receberão clínicos gerais.
Em Lajeado, serão oito. Estrela receberá dois e Teutônia, três. As equipes ainda passarão por treinamento e devem integrar a rede básica a partir do dia 20. Em princípio, todos devem vir de Cuba. As administrações municipais ainda estudam para quais postos os médicos serão encaminhados. Eles atuarão 40 horas semanais.
De acordo com o secretário de Saúde de Lajeado, Glademir Schwingel, a vinda dos profissionais resolverá deficiências no atendimento, além de possibilitar a expansão nos serviços das Estratégias Saúde da Família (ESFs).
Pela lei, os médicos selecionados atuarão no programa durante três anos. Aqueles formados no exterior recebem registro profissional emitido pelo Ministério da Saúde. Isso lhes permite trabalhar apenas na atenção básica das cidades nas quais foram designados.
Reforço pelo Vale
Além dos contemplados nesta semana, nove municípios do Vale receberam médicos pelo programa. No mês passado, chegaram profissionais para reforçar o atendimento em oito cidades. Além de um encaminhado ao bairro Jardim do Cedro em Lajeado, os clínicos gerais foram destinados para Anta Gorda, Arvorezinha, Fazenda Vilanova, Marques de Souza, Muçum, Progresso e Sério.
Ao todo, 144 profissionais integram o terceiro ciclo do programa e atuarão em 121 municípios do interior do Estado. A equipe do Departamento de Ações em Saúde (DAS) da Secretaria Estadual da Saúde (SES) e demais comitivas gaúchas ligadas à área da saúde receberam os médicos. Desde janeiro, total de 589 profissionais chegaram ao Estado pelo programa.
Dificuldade nas cidades pequenas
Municípios do interior enfrentam dificuldades na contratação de médicos. Os motivos alegados pela classe são variados. Passam por dificuldade de acesso, distância dos centros urbanos, falta de estrutura para as consultas, inexistência de garantias trabalhistas, como plano de carreira, FGTS e 13º salário.
Enquanto isso, para garantir atendimento, os prefeitos oferecem altos salários. Há casos, que pode chegar a R$ 16 mil por mês para manter um profissional no posto de saúde. Em Progresso, por exemplo, um contrato emergencial supera R$ 10 mil.
Apesar do investimento, a rotatividade nos cargos atrapalha a continuidade do serviço. Os profissionais ficam em torno de um ano a seis meses. Ao receber uma proposta para atuar em cidades maiores saem, diz o prefeito Edegar Cerbaro.
Conforme o secretário de Saúde de Muçum, Leonardo Bastiani, os vencimentos para contratos emergenciais na cidade chegam a R$ 14 mil. “Pagamos uma fortuna, mas mesmo assim temos problemas em conseguir médicos.”
Menos mil consultas por semana
Na metade de fevereiro, a dificuldade em marcar consultas piorou em Lajeado. Sete médicos deixaram a cidade para atuar em outros locais. O posto do bairro Santo André perdeu um. Na semana passada, houve atendimento em dois dias com um interino.
A saída desses profissionais equivale a redução de mil consultas por semana. O casal de aposentados Ivone, 69, e Olavo Mathes, 73, moradores do bairro Santo André, foram ao posto na tarde de ontem para tentar marcar uma consulta. Na entrada, foram informados da chegada de um profissional para atender a partir de hoje.
No bairro, o médico anterior trabalhou por quase quatro anos. Conhecia o histórico dos pacientes. Apesar da falta temporária de um clínico, Ivone elogia o empenho da equipe. “Elas sempre dão um jeito de nos ajudar. Mas o problema é ficar sem médico.”
Distribuição de médicos no país
Levantamento do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) mostra que cerca de 25,5 mil profissionais exercem a atividade no Estado. São 17 mil especialistas e pouco mais de oito mil clínicos gerais (maior necessidade do interior). Porto Alegre é a cidade com mais médicos (12 mil), 48% do total.
No SUS, os usuários contam com quatro vezes menos profissionais do que no setor privado. Do total de ativos no país, a região Sudoeste tem 2,61 médicos para cada mil habitantes. Os três estados do Sul vêm em seguida, com 2,03. O último lugar é o Norte, com 0,9.
Como visto em Porto Alegre, os médicos se concentram nas cidades maiores. Em São Paulo, o índice desses profissionais a cada grupo de mil habitantes chega a 4,3.
Os números fazem parte de pesquisa Demografia Médica no Brasil: dados gerais e descrições de desigualdades, realizada pela Conselho Federal de Medicina em 2011.
Quando se olha por unidade da federação, no topo do ranking ficam Distrito Federal (4,02 médicos por mil habitantes), o Rio de Janeiro (3,57), São Paulo (2,58) e Rio Grande do Sul (2,3). São números próximos ou superiores aos de países da União Europeia. Esses estados, mais Espírito Santo (2,11) e Minas Gerias (1,97), estão acima da média nacional (1,95).
Na outra ponta, estão estados do Norte (Amapá e Pará) e do Nordeste (Maranhão), com menos de um médico por mil habitantes, índices comparáveis a países africanos.