Moradores insistem em áreas de risco

Você

Moradores insistem em áreas de risco

Mesmo condenadas pela Defesa Civil, casas à beira de rios seguem habitadas

Vale do Taquari – O volume de chuva previsto para esta semana – mais de 100 milímetros – acentua a preocupação de desmoronamentos na região. Áreas de risco habitadas e condenadas pela Defesa Civil são um perigo constante.

Consideradas Áreas de Preservação Permanente (APP), continuam recebendo obras de construção e ampliação de moradias, descumprindo as regras estabelecidas pelo projeto regional do corredor ecológico. A instalação de placas de aviso pelos municípios é insuficiente para conscientizar as pessoas.

A falta de fiscalização aumenta o descaso. Em locais como a Linha Marques do Herval, em Roca Sales, mais de cinco casas de madeira foram instaladas neste ano. O trecho de menos de um quilômetro, ao lado da ponte de Muçum, abriga mais de 20 famílias.

O aposentado Odilon Osório da Costa, 69, vive há 5 anos no local, desde o sítio alugado ser vendido pelo proprietário. Ao lado dos dois filhos, aguarda pela promessa eleitoral de auxílio com aluguel ou doação de terreno municipal.

Ciente dos problemas ambientais e perigos às margens do Rio Taquari, as dificuldades financeiras lhe impedem de deixar a moradia. Não teme as enchentes, só o possível deslizamento da encosta do lado de cima da estrada, de onde descem pedras com frequência.

Responsável pela Defesa Civil da cidade, Maicon Dentee desconhece a situação e prometeu verificar. Já a secretária de Meio Ambiente e Planejamento de Muçum, Marisa Ambrosio Patussi, afirma ter alertado o município vizinho.

Um ano após deslizamento

Em Encantado, um ano depois do deslizamento ocorrido em Lajeadinho, cinco famílias permanecem na área de risco. O município tenta retirada dos moradores sem sucesso. Conforme a assistente social, Valéria de Castro Caldas, foi oferecido auxílio de até seis meses em aluguel e transporte de mudanças aos moradores.

Só uma família aceitou ajuda. As demais insistem em permanecer, diz. Reforça a necessidade de evacuação do local e não descarta novos deslizamentos no trecho. Na semana passada, a Secretaria de Obras fez reparos na estrada e abertura de valas para escoamento da água pluvial.

Segundo os moradores, o fechamento de bueiros e acúmulo de água provinda dos morros pode agravar os riscos no local. O auxiliar da Defesa Civil Cesar Luís Moretto reforça o perigo e necessidade de reflorestamento do trecho. “O correto é retirar as famílias.”

Mesmo ciente da situação, a pescadora Maria Salete Enika Dutra rejeita o afastamento das margens do rio, por sobreviver da pesca. Sobre o corredor ecológico, se dispõe a plantar as mudas assim que fornecidas.

Municípios passam por vistoria

Responsável pelo Projeto do Corredor Ecológico do Rio Taquari, a promotora Mônica Maranguelli de Ávila relatou em entrevista anterior a dificuldade em atuar diante do descumprimento das leis pelos moradores ribeirinhos. O ideal é que os próprios moradores saibam da necessidade de proteger as encostas do rio, salienta.

Nesses casos de ocupação irregular, prevê a intervenção do MP. Até então, cita a recuperação de dois mil metros quadrados com plantas nativas. O projeto, que pode levar 20 anos para ser executado, almeja a recuperação de 500 quilômetros de margens.

Iniciado em 2008, abrange 13 municípios ribeirinhos: Estrela, Encantado, Bom Retiro do Sul, Colinas, Cruzeiro do Sul, Roca Sales, Lajeado, Arroio do Meio, Muçum, Venâncio Aires, Santa Tereza, General Câmara e Taquari.

No momento, ocorre a primeira etapa. Cada cidade realiza as vistorias na área, devendo enviar projetos de recuperação em até quatro anos. Todos os planos passam pela análise do Departamento de Florestas e Áreas Protegidas – Defap/RS. Paralelo, ocorre a assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmando acordo entre o MP, município e proprietário. Posterior, há o reflorestamento dos trechos.

Para sair, preciso ter garantia de onde vou morar”

A aposentada, Neli Saldanha Machado, 64, sustenta o marido Manoel, 76, e o irmão, 60. Para garantir alimento, cria porcos, aves e vacas no quintal de casa, às margens do Rio Taquari. A casa de madeira fica numa encosta de morro, a menos de 50m do rio.

Ao lado da residência, apoiada por pilares, rachaduras no terrenos, resultado de deslizamento no ano passadio, são perigo constante. “Sempre foi assim, não vai ceder”, acredita. Acostumada a morar em área ribeirinha, criou cinco filhos numa barraca de lona. “Para sair, preciso ter garantia de onde vou morar.” Ela sonha com a doação de um terreno plano na colônia, para manter os animais de criação.

Acompanhe
nossas
redes sociais