ERS-130: um buraco a cada oito metros

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ERS-130: um buraco a cada oito metros

Durante anos, trecho urbano de Lajeado ficou sem assistência. Concessionária Sulvias e Daer discordavam sobre a responsabilidade de manutenção. EGR assume e garante melhorias para esta semana

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Vale do Taquari – Trafegar pelo trecho urbano da ERS-130 é arriscado. A extensão de 3,7 quilômetros da rodovia, entre o Posto do Arco e o início da RSC 453, está abandonada pelo governo estadual.

Moradores ribeirinhos atestam a ausência de manutenção do trecho, confirmada pela calamitosa presença de 456 buracos nas duas vias. Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) assume a responsabilidade.

A pista simples se torna mais perigosa com o excesso de velocidade. Muitos motoristas abusam e desrespeitam o limite que varia entre 40 e 60 quilômetros por hora. É constante o fluxo de veículos pesados no trecho.

Milhares de caminhões e ônibus utilizam o trecho todos os dias para acessarem a RSC-453, principal ligação entre os vales do Taquari e Rio Pardo. Desníveis e precariedade do acostamento agravam a situação.

É comum veículos invadirem a pista contrária ou o acostamento para escapar dos buracos. Mas em alguns trechos, desviar se torna impossível. “Tu escapa de um, mas acaba acertando outro (sic)”, comenta o morador de Santa Cruz do Sul, Germano Watthier. Ele trafega pelo trecho ao menos quatro vezes por semana para chegar até Lajeado, onde vende medicamentos.

Parado em uma tenda que vende frutas e verduras às margens da rodovia, o empresário lamenta a situação precária das pistas. “Já foi seguro trafegar por aqui.”

O vendedor do pequeno empreendimento, Rudinei Silva, salienta ser comum ouvir freadas bruscas e o estouro dos pneus se chocando nos buracos que, por vezes, atingem até meio metro de diâmetro. “Está cada dia pior.”

São dezenas de empresas e indústrias instaladas às margens das pistas. Muitos funcionários utilizam o acostamento para caminhar de volta às residências após o fim dos turnos. Precisam estar sempre alertas. Principalmente à noite. “Não me sinto nem um pouco segura caminhando por aqui. Faz tempo que não vejo reformas”, afirma Ana Cristina Franco, moradora do bairro Floresta.

Trabalhando há 20 anos em uma borracharia instalada ao lado do Posto do Arco, Lindomar Dedeck, não lembra ter visto a rodovia em situação tão degradante.

Garante ser comum atender motoristas que tiveram problemas enquanto trafegavam pelo trecho. Rodas danificadas e pneus furados são comuns. “Deveria ficar feliz, mas ninguém torce para que outros tenham prejuízos. Também uso a rodovia e quero melhorias.”

Dedeck afirma não recordar da última manutenção no intricado trecho. As últimas reformas na pista foram feitas – de forma esporádica – pela Sulvias, mediante acordo com o governo estadual. A empresa sempre negou o compromisso de recuperação, ao contrário do Daer, que apontava a concessionária como responsável.

Urgência na manutenção

Para o chefe da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) de Cruzeiro do Sul, sargento Paulo Renato Bernardi da Silva, a rodovia necessita de manutenção com urgência.

Critica o impasse sobre a responsabilidade do trecho urbano, que perdurou durante o período em que a Sulvias era gerenciadora dos postos de pedágio. “A responsabilidade é do estado.”

Bernardi é enfático no momento de classificar o trecho, que em 2013 registra 68 acidentes, com 34 feridos e um morto. “É crítico e poderá se tornar mais perigoso, se não for realizada manutenção.” Segundo o sargento, por se tratar de um trecho urbano, é necessária maior frequência nos serviços de tapa-buracos, pintura de sinalização e recapeamento.

“Estado precisa custear prejuízo”

Qualquer acidente com ferimentos ou danos materiais poderá ser cobrado do estado, se for confirmado que a condição da rodovia foi a causadora do fato. O mesmo vale para vias federais e municipais.

É o que garante o advogado Fábio Gisch. Segundo ele, o motorista precisa, em um primeiro momento, acionar a PRE para realizar o Boletim de Ocorrência (BO) e depois solicitar três orçamentos para reforma no veículo.

“Sugiro mandar o carro para a mecânica que apresentar o menor orçamento. E após solicitar um laudo de um engenheiro mecânico atestando a causa do problema.”

De acordo com o advogado, após pagar pela reforma do veículo, o motorista poderá entrar com uma ação de reparação de danos contra o estado. Depois, será preciso aguardar, porque o resultado judicial costuma perdurar por meses. “Sugiro esse tramite para que a pessoa não fique sem carro durante meses.”

O que diz a EGR

Segundo o presidente da EGR, Luiz Carlos Bertotto, a empresa assumiu nesta semana a responsabilidade pelo trecho urbano da ERS-130. Ele confirma que a extensão de 3,7 quilômetros da rodovia não estava prevista no contrato de concessão. “Após acordo com o Daer, assumiremos.” Ele garante para esta semana o início dos serviços de tapa-buracos.

Bertotto informa que a EGR pretende contratar, de forma emergencial, empresa para realizar os serviços de recapeamento nas próximas semanas. “Passei ontem pelo trecho e conferi a necessidade urgente de reformas.” Confirma investimentos na pintura das faixas de sinalização e um trabalho em conjunto com a administração municipal para instalação de novas placas.

O que diz o Daer

O superintendente do Daer, Hildo Mourão, confirma que o trecho urbano da ERS-130 faz parte da malha rodoviária concedida para a EGR. Segundo ele, durante o período de concessão para a Sulvias, o departamento encaminhou, várias vezes, relatórios solicitando manutenção e reformas nas pistas. “Mas a empresa não realizava.”

Mourão reitera que a Sulvias era responsável pelas condições da rodovia no perímetro urbano de Lajeado, mesmo sob negação da direção da empresa. “Está claro no contrato que a concessionária tinha a obrigação de manter os trechos urbanos das rodovias pedagiadas.”

O que diz a administração municipal

Conforme o secretário de Governo, Auri Heisser, o Executivo firmou acordo com a EGR para instalação de placas de sinalização. “Eles repassam o material, e nossa equipe se responsabiliza pela instalação.” Acessos a bairros, aos municípios vizinhos, pontos de referência na cidade e limites de velocidade são algumas informações previstas para as placas.

Heisser comenta sobre o trabalho com a estatal. Enaltece o fato da EGR ter acatado as sugestões encaminhadas pela administração municipal e garante que o Executivo pretende pleitear outras melhorias no trecho, como duplicação e abertura de vias laterais para acesso aos bairros.

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