Ruim com ele, pior sem

Opinião

Guilherme Cé

Guilherme Cé

Economista

Ruim com ele, pior sem

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Fernando Haddad não foi um bom prefeito de São Paulo. Tanto é que, com menos de 20% dos votos, ficou longe da reeleição na principal cidade brasileira, perdendo já no primeiro turno. Também não considero que fez um bom trabalho no Ministério da Educação. Mas, mesmo que longe de ser o ministro da Fazenda dos sonhos, vem sendo um sopro de racionalidade num governo petista que flerta rotineiramente com a heterodoxia e o populismo econômico que tanto mal já fizeram pelo Brasil.

Haddad é para o terceiro governo Lula o que Palocci foi para Lula I. Ruim com eles, pior sem. Se ilude quem pensa que a alternativa ao atual ministro, em um governo lulista, seria alguém mais moderado e pró mercado (ou pró-ciência econômica). Muito provavelmente teríamos um novo Guido Mantega ocupando a cadeira – e aplicando com convicção a péssima agenda econômica do petismo tradicional.

Não, não acho que Haddad e sua equipe fazem um trabalho sem erros ou imune a críticas. Mas vejo que tentam fazer o possível para minimizar ruídos ou decisões que não têm controle. Da mesma forma que Paulo Guedes tentou evitar algumas péssimas escolhas do seu ex-chefe, o atual ministro petista é um peso ao centro diante de companheiros que acreditam, ainda, que equilíbrio nas contas públicas e responsabilidade fiscal são coisas opcionais – ou que podem ficar sempre para depois. Não por nada, sofre tanto com fogo amigo.

Dada a queda de popularidade do atual governo e as eleições municipais que se aproximam, é extremamente provável que o petismo volte à origem e tente impor cada vez mais sua (péssima) agenda econômica. A verdade é que já estamos vendo isso nas últimas semanas. Meta fiscal? Para não descumprir, vamos flexibilizar ela (mais um pouco). Intervenção nos preços? Vamos usar mecanismos tortos para segurar os preços no curto prazo (sem avaliar os impactos no longo). A fórmula é conhecida – mesmo que, infelizmente, insistamos em esquecer do passado. O resultado também o é. E não será bom para o país, mesmo que depois coloquem a culpa da própria incompetência nos outros, vide o que fizeram com a crise econômica de 2015/16.

Repito. Haddad não é meu ministro dos sonhos. Longe disso. Preferia que nem tivesse tido a chance de ocupar o cargo. Também espero que em 2027 estejamos discutindo outros nomes mais qualificados para a função. Mas, considerando quem está no Planalto, Haddad é, se não um sopro de esperança em ótimas escolhas econômicas, talvez um fio de resistência para evitar o pior. Que o atual ministro tenha força para isso e não ceda aos seus companheiros de partido. Porque, se depender deles, o pior ainda está por vir e será vendido como a melhor escolha.

 

 

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