“Minha maior ambição é democratizar as formas de produzir o audiovisual”

ABRE ASPAS

“Minha maior ambição é democratizar as formas de produzir o audiovisual”

O cineasta encantadense Henrique Lahude, 35, é formado em Realização Audiovisual pela Unisinos e especialista em Desenvolvimento de Projetos para Cinema e TV pela EICTV de Cuba. Em seu dia a dia alterna entre o interior do Estado e a capital. Com anos de experiência em produção, direção e roteiro de obras audiovisuais, ele conta sobre o mercado cinematográfico brasileiro e como o setor está em constante mudança

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Atualizado sábado,
06 de Abril de 2024 às 09:37

“Minha maior ambição é democratizar as formas de produzir o audiovisual”
Foto: acervo pessoal

Como foi a realização que o cinema era a sua vocação?

Acredito que a percepção da vocação aconteça em etapas e com muito trabalho. Em 2024 já são 13 anos de atuação no meio cinematográfico. A mim, a vocação se manifesta através do alcance dos filmes produzidos com o público, do encontro de novas histórias e personagens para projetos futuros, da vivência em sala de aula através dos projetos de cinema e educação, da troca e luta conjunta com colegas artistas para valorização do nosso trabalho.

Como é o mercado cinematográfico?

O mercado cinematográfico nacional é muito dinâmico e com diversas mudanças relacionadas à tecnologia. No Brasil, o setor audiovisual impacta o PIB em R$24,5 bilhões e gera 516 mil empregos diretos. Entre as décadas de 50 e 70 tivemos o tempo áureo das salas e sua derrocada a partir da popularização do videocassete na década de 90. Centenas de salas que existiam em cidades pequenas, como em Encantado, desapareceram. Isso mudou o hábito de ver filmes de forma coletiva para algo individual. Atualmente o principal desafio está na relação do setor com os serviços de streaming. Desde a pandemia o público tem frequentado ainda menos as salas de cinema. Essas plataformas, em sua grande maioria estrangeiras, não reinveste o dinheiro gerado no país em obras nacionais, o que causa um grande desequilíbrio em toda cadeia audiovisual.

Como é a rotina de um cineasta?

A rotina de um cineasta é a mesma que a de qualquer trabalhador. As diferenças se estabelecem a partir da matéria-prima do ofício de cada um. Nas artes, como em outras profissões, boa parte da rotina está estabelecida na pesquisa. Seja para a escrita de um novo projeto, para acompanhar o trabalho de novas diretoras ou ainda para entender uma nova tecnologia de câmeras, precisamos dedicar um bom tempo a isso. Quando estamos gravando é quando este cotidiano se altera um tanto. As diárias de filmagem são de 12 horas, com apenas uma folga na semana e a gravação de um projeto pode durar de 3 dias, no caso de curtas-metragens, a 3 meses, no caso das séries.

Quais são as maiores dificuldades em conseguir produzir um longa-metragem?

A realização de um filme de longa-metragem entre o início da escrita do roteiro, seu financiamento, gravação, pós-produção até sua estreia nos cinemas leva no mínimo 4 anos, podendo chegar em 10, 20 e até 30 anos em alguns casos. Assim, acredito que a maior dificuldade seja manter a mesma determinação e contar com muita paciência, e sorte, ao longo desse processo.

Qual sua maior ambição atualmente com o cinema?

Minha maior ambição, não tanto individual, mas coletiva, é de uma democratização de fato nas formas de produzir e acessar o audiovisual. Ver novas obras sendo produzidas fora do eixo Rio-São Paulo e das capitais dos estados. Acompanhar a valorização da arte por parte dos poderes públicos e das políticas culturais das cidades e estados. De existir uma diversidade de olhares, temáticas e paisagens nos filmes produzidos.

Que conselho daria aos jovens que também sonham em contar histórias por meio da sétima arte?

Leiam livros e assistam a filmes de diferentes partes do mundo. Busquem uma reconstrução do olhar, e da imaginação, a partir de referências que até então vocês não estavam acostumados. Estudem e entendam a história que nos trouxe até aqui enquanto brasileiros, e latino-americanos, para poder também contar novas histórias a partir dela. Para quem deseja ter o cinema como profissão, ainda aconselho a buscar informações sobre os cursos de cinema de universidades e institutos federais. Aqui no RS, temos ótimas referências como a Universidade Federal de Pelotas e o Instituto Federal de Viamão.

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