Hérnia de disco lidera afastamentos do trabalho no país

Vida e ambiente

Hérnia de disco lidera afastamentos do trabalho no país

Em 2023, 51,4 mil beneficiários do INSS ficaram afastados devido as dores provocadas pela condição. Em comparação com o ano anterior, casos de benefícios concedidos aos trabalhadores cresceram 68%

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Hérnia de disco lidera afastamentos do trabalho no país
O segundo lugar na lista de motivos para afastamentos do trabalho ficou com a dor lombar, um dos sintomas provocados pela hérnia de disco. (FOTOS: Thiago Maurique)
Brasil
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

A empresária Diane Dalmoro, 38, sofre com dores na lombar desde 2018. A primeira crise surgiu quando o segundo filho tinha seis meses, época em que ainda trabalhava no escritório de outra empresa. “Fui ao médico e, após uma ressonância, tive o diagnóstico de uma hérnia de disco.”

Diane faz parte dos milhares de brasileiros que enfrentam dores provocadas pela condição. No ano passado, 2,5 milhões de trabalhadores foram afastados do emprego por questões de saúde. As dores na coluna se tornaram a principal causa de benefícios temporários do INSS. Dados coletados junto ao Ministério da Previdência Social mostram que 51,4 mil beneficiários tiveram que deixar o trabalho para se submeterem a tratamentos de hérnia de disco.

Apesar da intensidade da dor, Diane não se afastou do trabalho durante a primeira crise. Buscou tratamentos paliativos, a base de remédios e fisioterapia. “Fiquei três meses com dor, mas continuei trabalhando. Era difícil, pois a posição sentada me prejudicava muito.”

Ao longo dos anos, enfrentou outras crises menores que duravam cerca de uma semana, sempre tratando com medicação. Em 2022, ela passou pela pior dor sentida. “Cheguei a ficar sem conseguir caminhar. Não conseguia me mexer. Foi assustador.”

O aumento progressivo das dores a levaram novamente a buscar ajuda médica. Uma nova ressonância revelou outras duas hérnias discais, que pioraram sensivelmente a condição dela. “Fiquei sete meses com dor, corcunda e mancando, pois a hérnia estava pressionando o nervo ciático”

Neste período, a empresária precisou parar de trabalhar, dessa vez já no negócio próprio. “Foi um ano muito difícil porque não conseguia ir para a empresa. Me afastei pelo INSS, mas tentava fazer algumas coisas em casa, no computador.”

No fim de 2023, antes do Natal, uma nova crise, dessa vez com duas semanas de duração. Apesar da recomendação médica de cirurgia, Diane manteve o tratamento conservador, sem intervenção cirúrgica. “Tenho dois filhos pequenos, de sete e cinco anos. Eles dependem bastante de mim, então fico receosa quanto à cirurgia. Por enquanto, estou bem.”

A lista das doenças mais recorrentes nos brasileiros é liderada pelas osteoarticulares, que incluem distúrbios nas articulações, ossos e músculos. Considerando também transtornos de discos lombares e intervertebrais, as concessões de benefícios totalizaram 89,2 mil casos em 2023. A dor lombar, outro sintoma da hérnia de disco, ficou em segundo lugar, com um total de 46,9 mil trabalhadores afastados.

Números crescentes

Andreo Sturmer já atendeu mais de 38 mil casos em 12 anos

Membro do corpo clínico do Hospital Bruno Born (HBB), Marcos Frank afirma que a condição provocada pela hérnia de disco sempre teve grande parcela de afastamentos do trabalho, não apenas no Brasil, mas também em outros países, como os Estados Unidos. Conforme o médico, os principais motivos para o problema são envelhecimento, sedentarismo, excesso de peso e má postura.

“Nos pacientes mais jovens, a hérnia geralmente ocorre por conta de esforço físico inadequado”, alerta. Segundo ele, alguns esportes, como vôlei e basquete, que dependem de muita movimentação e saltos, aumentam os riscos, mas a prática de reforço muscular com profissionais habilitados e o uso de equipamentos para reduzir o impacto previnem a condição.

O quiropraxista Andreo Sturmer faz parte do corpo de profissionais que atuam no tratamento das dores provocadas pela condição. Com 12 anos de experiência na área, contabiliza mais de 38 mil atendimentos. Segundo ele, desde 2020 houve grande crescimento da procura pelo serviço. “Por causa da pandemia, as pessoas acabaram diminuindo a frequência dos exercícios físicos, se acomodaram mais em casa e muitos passaram a trabalhar mais sentados, em home office.”

Entre as práticas capazes de prevenir a condição, recomenda alongamentos diários, exercícios de reforço muscular e cuidados com a postura. “Uma boa hidratação, evitar sobrecarga no trabalho e manter a coluna alinhada ajudam a evitar o problema.”

Mudança de hábitos

Consultor de Projetos de TI, Gustavo Olsen, 40, foi diagnosticado com uma hérnia de disco em 2017. Na época, ele estava acima do peso e praticava futebol de salão, esporte com alto impacto nas articulações. “Foi uma situação que afetou muito os movimentos. Minha perna direita ‘travou’ e nos picos de dor, tinha que me afastar do trabalho por 2 a 3 dias.”

Olsen passou por um tratamento conservador, sem intervenção cirúrgica. Foram 40 sessões de fisioterapia, seguidos de aulas de Pilates, mas foi a mudança de hábitos que deu fim ao problema. “Cheguei a pesar 111 quilos. Perdi peso e melhorei meu condicionamento físico.”

O profissional de TI hoje frequente academia, com acompanhamento profissional para não ter risco de lesão durante o treino. Além disso, ressalta a importância de conhecer o próprio corpo, para evitar movimentos e esforços errados. “A atividade física é fundamental, principalmente alongamentos e reforço muscular.”

Como se forma a hérnia discal na coluna

Principais causas de afastamento em 2023 no Brasil

1º – Hérnia de Disco
2 º– Dor lombar
3º – Mioma no útero
4º – Fratura no Punho
5º – Outros transtornos de discos intervertebrais
6º – Síndrome do manguito rotador (Dor no ombro)
7º – Pedra na vesícula
8º – Hérnia inguinal
(Hérnia na Virilha)
9º – Transtorno ansioso e depressivo
10º – Lesões do ombro

Entrevista
Marcos Frank • neurocirurgião

“A dor lombar é uma doença da sociedade moderna”

A Hora – O aumento nos afastamentos devido a hérnia de disco se reflete no Vale?

Marcos Frank – Sempre foi uma das principais causas de afastamento no Vale do Taquari. A condição afeta algumas categorias profissionais importantes para a região, em atividades como agricultura, construção civil e indústria, principalmente de alimentos, onde os trabalhadores ficam muito tempo em pé. A dor lombar é uma doença da nossa sociedade moderna e tem aumentado.

– Porque ela ocorre?

Frank – A coluna nos dá mobilidade. Ela permite que a gente dobre para frente, para trás ou para os lados, e quando fazemos esse movimentos, apertamos o disco, que é semelhante a uma estrutura de borracha. Depois de um certo número de usos, os discos envelhecem e podem perder a elasticidade. Ao se tornar rígido, ele invade o canal por onde passam os nervos: isso é uma hérnia de disco. Se o paciente começa a forçar a coluna mais cedo, ocorre o envelhecimento precoce do disco. Ela pode ocorrer na parte cervical (parte do pescoço), torácica (atrás do pulmão) e lombar (a parte mais baixa) da coluna. Os discos que mais dão problema são os lombares, porque suportam todo o peso do corpo.

– Como é o diagnóstico e o tratamento?

Frank – A dor da hérnia de disco é uma dor na lombar que “caminha” para as pernas. Na entrevista, procuramos saber quando a dor surgiu e para onde irradia. No exame físico, nós deitamos esse paciente e levantamos a perna dele. Quando há uma hérnia de disco, ele sente uma espécie de choque na coluna. Se houver a suspeita, o exame principal para confirmar é a ressonância magnética da coluna lombar. Hoje, 95% das hérnias de disco são tratadas clinicamente, com medicação, fisioterapia e depois retorno a atividade física. A cirurgia é a exceção e deve ser feita apenas em pacientes em que a dor não responde adequadamente ao tratamento não cirúrgico.

– É possível prevenir hérnia de disco?

Frank – O reforço da musculatura e o alongamento são grandes armas contra uma crise de hérnia de disco. Também é importante cuidar a forma como levantamos objetos pesados para não forçar a coluna. O paciente que consegue manter o peso adequado e eliminar o sedentarismo está muito melhor protegido.

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