Renegociação, equilíbrio financeiro  e busca por parceria

FUTURO DA LANGUIRU

Renegociação, equilíbrio financeiro e busca por parceria

Queda no faturamento e dívidas acima de R$ 1 bilhão desafiam nova diretoria para dez meses de mandato “tampão”. Primeiros passos passam por reestruturar cadeias produtivas, reduzir custos e garantir entregas ao mercado para elevar faturamento

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Renegociação, equilíbrio financeiro  e busca por parceria
Reunião durou cerca de quatro horas. Na saída, um misto de sentimentos. Alguns produtores confiando na recuperação e outros com mais receio. Crédito: FILIPE FALEIRO
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Os associados aclamaram o conselho administrativo e a nova presidência. O agricultor e ex-vereador de Estrela, Paulo Birck, será o presidente. Tem como vice o produtor rural de Teutônia, Fábio Secchi. Junto com eles, outros nove nomes serão os responsáveis por encontrar caminhos para diminuir o rombo financeiro na Languiru. Eles terão 11 meses de gestão, até a assembleia geral marcada para março de 2024.

A decisão foi confirmada no sábado, 29 de abril. Também foi aprovada mudança no estatuto. Para a próxima eleição, não será mais obrigatório o certificado em curso de gestão das cooperativas como critério base para inscrição de chapas. Pela alteração, os eleitos terão um prazo pós-assembleia para buscar a formação.

Nesta primeira semana, a nova gestão mantém uma agenda de reuniões com cada um dos líderes dos setores da cooperativa, além da busca de encontros com credores, tanto bancos, quanto fornecedores, empresas terceirizadas e transportadores. O discurso da nova presidência se sustenta em transparência, união e gestão profissional. De que é necessário primeiro conhecer a situação da cooperativa, adotar estratégias para mitigar as perdas e, evitar a insolvência.

“Nosso objetivo é a profissionalização, a partir de um conselho de administração formado por pessoas capazes e coerentes, como um núcleo estratégico e que trabalhe próximo aos diretores executivos contratados”, realça Birck.

Dúvidas nas contas

A partir de diagnóstico contábil preliminar, feito pelos gestores provisórios desde a renúncia do ex-presidente Dirceu Bayer, foram apresentados números sobre o negócio, com o faturamento no primeiro trimestre, além de uma estimativa da dívida.

Por decisão da assessoria jurídica e da comissão eleitoral, a imprensa não teve acesso a assembleia. Os dados destacados da cooperativa também não foram divulgados. Ao término da reunião, os novos gestores autorizaram a entrada dos profissionais de imprensa.

O presidente Paulo Birck afirma: “A dívida fica em torno de R$ 1 bilhão. Pouco mais de R$ 700 milhões para bancos credores. Aqui vale destacar, são débitos que estão para vencer nos próximos meses. Temos ainda mais de R$ 250 milhões referentes a dívidas em atraso, para terceirizados, transportadores e fornecedores.”

Presidente Paulo Birck (d) e o vice, Fábio Secchi, afirmam que gestão será marcada pela transparência, profissionalismo e união. Crédito: Karine Pinheiro

Informações extraoficiais apontam que o montante poderia alcançar R$ 1,8 bilhão em dívidas, pois existe os compromissos financeiros dos produtores com os bancos, cujo levantamento ainda não foi apurado. Conforme a nova administração, ao longo dos próximos equipes de conselheiros e profissionais da cooperativa detalham os resultados em cada setor, bem como débitos e valores a receber. De pagamentos agendados, estima-se a entrada de R$ 230 milhões. Com o dinheiro depositado, há uma perspectiva de conseguir honrar alguns compromissos vencidos.

Aves e suínos no vermelho

Uma força-tarefa foi organizada para dar conta de diferentes aspectos da “missão” de salvar a cooperativa. A estratégia envolve a revisão dos prazos dos financiamentos junto aos bancos. Uma tentativa de prolongar os pagamentos com vencimentos ao longo de 2023 para os próximos três até cinco anos.
Junto com isso, buscar o equilíbrio entre custos e operação nas cadeias produtivas de aves e suínos, para garantir entrega de produtos e melhorar o faturamento.

“Nas aves, pelo tempo entre chegada nas propriedades e abate, acreditamos que em três meses poderemos ter melhores resultados. Já nos suínos, é preciso mais tempo. Quem sabe conseguimos sair do vermelho neste setor até o fim do ano”, diz Birck. De acordo com ele, está em curso uma análise mais minuciosa das contas. De antemão, frisa: “a situação é muito delicada. Teremos de diminuir”. Essa redução diz respeito, principalmente, ao segmento da suinocultura.

Inclusive os abates no frigorífico de Poço das Antas estão suspensos. Essa análise pode resultar também na liberação de alguns associados, pois o número de animais levados para as propriedades será reduzido nos próximos meses. Para as aves, há mais otimismo. Com preços mais baixos no milho e soja, os custos de produção tendem a cair, o que abre possibilidade para resultados positivos entre 60 até 90 dias.

Cerca de 500 associados participaram da assembleia no sábado passado. Além de aclamar a nova presidência, também modificaram critérios para inscrição de chapas. Crédito: Divulgação

Participação dos prefeitos

O prefeito de Estrela e presidente da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), Elmar Schneider, sugere a criação de um conselho político. Para ele, os prefeitos com unidades da cooperativa precisam ter acesso as informações e decisões.

“Estrela, Teutônia, Poço das Antas e Westfália têm plantas industriais da Languiru. Geram empregos e renda. A ideia é que os quatro municípios se unam para estar ao lado da gestão, e assim, possam tornar a transparência um fato para além do discurso”, diz Schneider.

Para ele, as reuniões do conselho, com instituições bancárias e investidores devem ter algum integrante do poder público junto. “Os prefeitos não querem mais ser usados, mas que tenham acesso às informações.” De acordo com Schneider, a cooperativa conta com incentivos fiscais dos municípios, tanto para os negócios quanto aos associados. Deste modo, o poder público também tem participação no crescimento da cooperativa.

Na próxima segunda-feira, 8, os quatro gestores se reúnem em Estrela para alinhar o formato de atuação e efetivar a proposta de criar o conselho político. Depois disso, será agendada uma reunião com a nova diretoria da Languiru.

 

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