Casas abertas para receber intercambistas

TROCA DE EXPERIÊNCIAS

Casas abertas para receber intercambistas

Por meio da ONG AFS Intercultural Programs, famílias do Vale hospedam jovens estrangeiros por um ano e permitem a convivência como filhos e irmãos. Voluntários do programa buscam novos anfitriões para estudantes da Itália, França e Alemanha

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Atualizado quinta-feira,
20 de Abril de 2023 às 12:32

Casas abertas para receber intercambistas
Na noite de terça-feira, 18, Manuel, Lucia e Daniel apresentaram suas impressões sobre o intercâmbio no evento ASF Day, organizado pelo comitê da instituição em Lajeado. Crédito: Bibiana Faleiro
Vale do Taquari
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A iniciativa de uma ONG conecta jovens estrangeiros a famílias do Vale do Taquari. Por meio de intercâmbios, pessoas de nacionalidades como Itália e Alemanha têm a experiência de passar um ano como filhos e irmãos de brasileiros.

Hoje, três estrangeiros moram em Lajeado e Santa Clara do Sul, por meio do comitê lajeadense do AFS Intercultural Programs. Os jovens estudam nas escolas que possuem convênio com o programa e se integram às famílias anfitriãs. Além disso, uma lajeadense também passa pelo processo inverso, com uma família do Canadá.

“Acreditamos muito na causa, porque quando um jovem conhece outro país, outra realidade, começa a ver o mundo diferente. Vai ter um crescimento cultural e fluência em uma nova língua”, destaca uma das voluntárias do projeto, Ivanete Dalmoro Costa. Além disso, ela acredita que a relação com as pessoas, de amizade e família, é o que os intercambistas levam para casa.

Em busca de anfitriões

Para a nova temporada de intercâmbios, que começa em agosto, o projeto busca anfitriões para quatro estudantes estrangeiros, de países como Itália, França e Alemanha. Quanto mais famílias, mais jovens a ONG consegue receber.

“Temos sempre estudantes que querem vir pra cá e não temos famílias para colocar”, diz Ivanete. Para se inscrever, as famílias podem entrar em contato pelo e-mail comite.lajeado@afs.org ou pelos números (51) 99509-4615 e (51) 981405019.

Sobre o AFS

Com sede em Nova Iorque, o AFS está presente em mais de 60 países. A organização existe no Brasil desde 1956 e, em Lajeado, desde 1995. A entidade é formada por voluntários, pelas famílias hospedeiras e as escolas. São mais de 40 opções de países para os alunos brasileiros viajarem, em todos os continentes.

A região recebe intercambistas todos os anos por meio do programa. Mais de 50 jovens europeus, norte-americanos e asiáticos já vieram ao Vale pelo AFS, e mais de 100 saíram para estudar no exterior.

A sigla “American Field Service” (AFS) significa serviço de campo americano, porque foi criada por um grupo de voluntários que acolhia feridos da guerra. Com o tempo, perceberam que podiam se tornar amigos e criaram intercâmbios para estimular laços de amizades pelo mundo e, quem sabe, no futuro, evitar novos conflitos.

Lajeadense Isadora Dick Ziege está na Alemanha em um intercâmbio de trabalho voluntário

Voluntariado na Alemanha

O primeiro destino na lista de sonhos de Isadora Dick Ziege, 18, era a Alemanha. Com o exemplo da família, ela guardava a vontade de viver um intercâmbio. A oportunidade surgiu este ano, com uma bolsa alemã e, desde março, ela chama a cidade de Schorfheide de lar.

Por meio do AFS, o programa escolhido foi de trabalho voluntário. Assim, os dias de Isadora são na Kinderland Schorfheide, um parque para crianças. Além de atender os visitantes, ela também auxilia na manutenção do lugar, na limpeza e alimentação dos animais.

A área em que atua é o acampamento de equitação e, a cada noite, momentos de cinema e karaokê aproximam a lajeadense da cultura local. Além de viver uma experiência independente, a busca de Isadora pelo intercâmbio foi para se tornar fluente no alemão.

Na cidade onde mora, mais afastada dos centros urbanos, o cotidiano foi uma mudança grande para ela. Assim como o clima que, em uma mesma semana, fez calor, frio e nevou. “Tu vai se acostumando. Outra coisa que foi uma mudança na minha perspectiva é que a gente acredita que os alemães são mais frios, mas na minha experiência até agora, foram bem receptivos”, conta.

Desafios e acolhimento

A oportunidade de intercâmbio da filha no Canadá fez Letícia Leite e Leandro Turra aceitarem receber um jovem estrangeiro em casa. Foi depois de uma troca de famílias por meio do AFS que Manuel Bruno se tornou o quarto filho do casal.

“Estamos em três estágios. Uma filha no Canadá, o Manuel aqui e outra filha indo para a Irlanda, mas está sendo bom”, conta Letícia. A família é completa com o pequeno Vicente. A mãe conta que um dos motivos de ser anfitriã do programa é por imaginar a família de Manuel na Itália, na expectativa de uma casa que pudesse o hospedar.

“Se fosse minha filha lá que precisasse mudar de casa, seria acolhedor saber que teria alguém para recebê-la. E foi pensando na família dele que a gente aceitou”.

Manuel vem de Revello, na Itália, e as diferenças culturais são sempre compartilhadas com os pais brasileiros. Por outro lado, Letícia, o marido e os filhos buscam apresentar lugares e atividades características do Rio Grande do Sul e do Brasil. O italiano gostou, em especial da comida e aprovou a feijoada. Até a data de volta ao país natal, ele segue conhecendo a região e, a cada fim de semana, uma nova aventura é programada em família.

Manuel Bruno (ao centro) veio da Itália para um intercâmbio estudantil no Brasil. Crédito: Arquivo Pessoal

Um irmão de outro país

O desejo de proporcionar experiências, em especial, ao filho Joaquim, 13, fez o casal Dolores e Paulo Richter se inscrever na AFS, como família hospedeira. O perfil de intercambista que chegou à casa deles foi do alemão Daniel Ehlbeck, 16, que tinha os mesmos gostos por animes e filmes que o filho.

Natural de Berlim, capital da Alemanha, Daniel veio ao Brasil para se aperfeiçoar na língua e conhecer uma nova cultura. Em Lajeado, encontrou acolhimento e amor. “Minha família fez eu me sentir bem desde o primeiro dia. Com certeza vou voltar para cá”, conta o intercambista.

No tempo de moradia em terras brasileiras, ele acompanha o pai e o irmão no futebol e taekwondo, assim como em trilhas a pé e de bicicleta. Além disso, conheceu as gincanas escolares, novas tradições no Ano-Novo e os pratos típicos da região. Ele garante: “Minha mãe brasileira faz a melhor comida”.

Para Dolores, Paulo e Joaquim, Daniel já deixa saudades. “Foi desafiador, porque são responsabilidades diferentes, pontos de vista diferentes, mas, com isso, ele aprendeu bastante da nossa cultura e nós aprendemos muito com ele também”, destaca Paulo.

O alemão Daniel Ehlbeck (segundo da direita à esquerda) mora com a família de Dolores e Paulo Richter. Crédito: Arquivo Pessoal

De braços dados com a Itália

Lucia Firinu, 17, chegou a Santa Clara um mês depois de Luiz Carlos Bianchini e Berenice Fátima Villa Bianchini abrirem as portas de casa para receber intercambistas. O processo foi muito rápido, assim como a adaptação da italiana com a nova família. “Ela sempre foi tratada como nossa filha, participa dos passeios, das viagens. Aprendemos muito juntos. Pra gente, a vinda dela agregou muito”, destaca Luiz.

Pela semelhança de idade com a filha mais nova do casal, Catharina Villa Bianchini, 19, as duas se deram bem e viraram, além de irmãs, amigas. A santa-clarense conta que, no início, Lucia não falava português e elas se comunicavam em inglês. Catharina era a tradutora, mas também decidiu ensinar a língua para a italiana.

“Para fazer ela aprender o mais rápido possível, pensei em fazer ela começar a falar só português, dizia que eu não entendia mais o inglês. De noite, antes de dormir, eu chamava ela no meu quarto, pegava um caderno e a gente estudava”, conta. Para Lucia, esta também é uma experiência positiva e, além de conhecer o Brasil, busca aproximar a família brasileira da cidade de Paulilatino, onde vive na Itália, por meio de receitas típicas que aprendeu com a avó.

A italiana se adaptou à nova cultura, mas sentiu algumas diferenças. “Precisei de um tempinho para me acostumar com o contato físico, porque venho de uma região em que isso não é muito normal”. Lucia diz sentir saudades da família italiana, em especial, em datas como a Páscoa e o Natal. Mas, hoje, garante possuir raízes tanto na Itália quanto no Brasil.

Lucia Firinu (no centro à direita) é natural da Itália e encontrou em Lajeado uma nova família. Crédito: Bibiana Faleiro

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