Solidariedade

Opinião

Felipe Staub Cano

Felipe Staub Cano

Delegado da DPPA de Lajeado

Solidariedade

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Atualizado sexta-feira,
24 de Fevereiro de 2023 às 16:45

Invariavelmente, durante o trabalho policial, deparo-me com registros de pessoas que se envolveram em acidentes de trânsito, muitas vezes com vítimas feridas, até gravemente, em que o motorista foge do local sem prestar ou solicitar socorro. Imagino que esse motorista tenha esse tipo de atitude, pensando unicamente em si, com receio de vir a ser preso ou de ter de responder a um processo, ou de ter de indenizar financeiramente a vítima. Esse tipo de atitude, muito além de configurar um crime, demonstra uma personalidade egocêntrica de alguém que ainda não atingiu a maturidade de assumir seus atos e uma total desconsideração com o próximo.

Se analisarmos esse tipo de situação, veremos que o motorista causador desse tipo de evento não tinha a intenção de causar o dano ou a lesão, justamente por isso que se chama “acidente”. Talvez por um descuido, uma imprudência ou aquele momento de bobeira, que todos temos, acaba por se envolver em um acidente. Nesse momento, a solidariedade tem papel primordial e necessário para a vítima, e para o próprio caráter do causador. O próprio Código de Trânsito se atentou para a solidariedade ao instituir que ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela (artigo 301). Ou seja, por maior que seja a imprudência, se o causador prestar auxílio à vítima, não será preso.

Nesse ponto é importante frisar que esse socorro não quer dizer que o motorista tenha de prestar atendimento médico, até porque nem todos têm qualificação para tal, podendo até vir a agravar a situação da vítima ao realizar alguma manobra errada. Mas o fato desse motorista parar, verificar a situação, acionar o socorro médico (de regra o SAMU), acompanhando e prestando o auxílio que lhe é possível, já demonstra sua intenção e, principalmente, o seu caráter. Isso é solidariedade e preocupação com o próximo. Isso é empatia, ou seja, a qualidade de se colocar no lugar do outro.

Penso que a personalidade de uma pessoa se mostra em momentos críticos, quando estamos fora da normalidade cotidiana. Nesses momentos decisivos é que somos chamados a mostrar nosso caráter e quem realmente somos. Se somos um egoísta egocêntrico ou se somos responsáveis e solidários com o próximo. Afinal, ninguém está livre de causar algum acidente, mas podemos estar livres de sermos desumanos e irresponsáveis, marca que será para sempre gravada em nossa alma.

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