Languiru detalha estratégias para estancar prejuízos

ECONOMIA

Languiru detalha estratégias para estancar prejuízos

Um dia após anunciar a demissão de 500 funcionários, o presidente Dirceu Bayer critica política voltada à exportação de commodities e a pouca valorização da agroindústria. Cooperativa mira no mercado de grãos para equilibrar receita

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Languiru detalha estratégias para estancar prejuízos
Conforme presidente da Languiru, Dirceu Bayer, setor produtivo agroindustrial atua com prejuízos constantes faz pelo menos dois anos. Crédito: Luisa Huber
Vale do Taquari

O setor produtivo agroindustrial atua com prejuízos constantes faz pelo menos dois anos. É o que afirma o presidente da Cooperativa Languiru, Dirceu Bayer. Após pronunciamento em assembleia dos prefeitos da Associação dos Municípios do Vale do Taquari, nessa quarta-feira, o dirigente volta a abordar o assunto e detalha as estratégias para reduzir o prejuízo, em especial nas plantas industriais voltadas aos suínos e às aves.

O anúncio de 500 demissões gerou reação tanto no Vale quanto em todo o RS. Dirigentes de entidades representativas do segmento se posicionaram. Os presidentes da Associação dos Criadores de Suínos (Acsurs) e da voltada à avicultura (Asgav), advertem para o risco de desindustrialização frente aos altos custos dos insumos, em especial o milho.

“Neste ano, não baixou de R$ 90 a saca”, argumenta José Eduardo dos Santos, da Asgav. Tudo isso passa por um preço dolarizado, pois toda a produção nacional vai para exportação. “Vendemos em real e compramos em dólar. Para a cadeia produtiva, a agroindústria, é muito negativo. Precisamos de algum mecanismo para termos alguma reserva.”

Cerimônia de inauguração da unidade no Porto de Estrela ocorre hoje, às 10h30min.

Inauguração no Porto

A Languiru inaugura a unidade no complexo portuário de Estrela na manhã de hoje. Pelo negócio, a cooperativa investirá R$ 40 milhões para ampliar a armazenagem de grãos. Ao todo, serão dez silos com capacidade de 3 mil toneladas.

Para a direção, trata-se de um momento de transformação frente ao cenário positivo do mercado de commodities. “A partir de agora vamos ter uma nova alternativa rentável para podermos consolidar o projeto da nossa cooperativa e atuar nesse segmento. Será uma mudança radical na matriz produtiva. Mesmo sendo uma empresa diversificada em termos de indústria, percebemos que a produção de carnes não é mais tão rentável. Então vamos nos fortalecer atuando no segmento dos grãos”, realça o presidente.

Com os silos, a cooperativa espera mudar o patamar em termos de armazenagem de milho, trigo e soja. Hoje, os grãos ficam na fábrica de rações, também em Estrela, onde o espaço é limitado e equivale a um mês. No Porto, será possível armazenar guardar um ano de consumo. A cerimônia ocorre às 10h30min, e conta com a presença do vice-governador eleito, Gabriel Souza (MDB).

Opinião semelhante por parte do representante da Acsurs. Para Valdecir Folador, essa preocupação precisa estar no debate entre setores produtivos e governos, para que se desenvolva medidas de curto, médio e longo prazo para tornar a indústria gaúcha e nacional mais competitiva.


Entrevista | DIRCEU BAYER • presidente da Languiru

“Vamos continuar crescendo, mas em outra área”

Em entrevista concedida ao programa Vale em Pauta, na manhã de ontem, o presidente da cooperativa explicou o formato da redução nas atividades industriais. De acordo com ele, não serão 500 demissões imediatas, mas diluídas nos próximos meses.

A Hora – O anúncio das demissões repercute pelo Vale e pelo RS. Como será esse momento e de que maneira essa menor produção afeta o negócio?

Dirceu Bayer – Não podemos suportar o prejuízo nas carnes e no leite. Aí, o que vamos fazer e o ouvinte não entende. Pois a Languiru cria uma imagem de poderosa. Faz investimentos de R$ 100 milhões em plantas industriais. Mas eles são necessários, se não fizermos, aí teremos ainda mais problemas.

O que estamos fazendo é uma mudança de matriz produtiva. Algo para corrigir esse prejuízo. Não vamos encolher em faturamento. Vamos substituir por outros setores que dão rentabilidade. Se as cooperativas do Estado, estão satisfeitas com os grãos, nós também queremos ter participação na fatia daquilo que dá resultado. E não só ficar amargando prejuízos em cima das carnes. Vamos continuar crescendo, mas em outra área.

– E a perspectiva para a indústria da proteína animal?

Bayer – Não há expectativa de melhora. O milho vai continuar com preços altos e, ao que tudo indica, a soja também. Estamos fazendo toda uma reengenharia. Importante destacar, investimos em uma indústria moderna. Tudo no sentido de nos habilitar para os mercados externos. De termos certificação, produtos diferenciados, algo que fizemos neste ano, em pleno prejuízo.

Fizemos investimentos e hoje a Languiru, nesta semana inclusive, estamos exportando à Ásia, que remunera muito melhor. Então é bom esclarecer às pessoas, não só colocar uma manchete, de “Gigante do Vale pede socorro”. Estamos sim, fazendo um alerta, pedindo ajuda aos municípios para que deixem claro aos governos, estadual e federal, a importância da indústria, que gera emprego, que paga impostos. São 3,5 mil trabalhadores que temos.

– Sobre os desligamentos, como será?

Bayer – Estamos apenas deixando de preencher vagas. Talvez demore dois ou três anos para chegarmos neste número de 500 que falamos. Temos uma rotatividade de 6%. Representa 200 funcionários por mês que saem da indústria para outras atividades. Simplesmente não vamos repor ninguém para essa vaga.

Claro, temos algumas situações, de quem não entrega à cooperativa. Mas muito dessas vagas são daquela rotatividade. Agora estamos usando outro modelo, vamos para o Porto de Estrela. Isso será fundamental para a mudança da matriz produtiva para o negócio que nos dá rentabilidade.

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