Filosofia de vida para mais de 400 pessoas na região

MAÇONARIA DESMISTIFICADA

Filosofia de vida para mais de 400 pessoas na região

Por vezes alvo de teorias conspiratórias e até preconceito, a antiga “sociedade secreta” está mais aberta e se destaca por trabalhos filantrópicos. Mas não é simples se tornar um maçom, explicam integrantes. Lajeado sedia neste fim de semana o congresso estadual da Ordem DeMolay, grupo de jovens vinculado à organização

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Filosofia de vida para mais de 400 pessoas na região
Cimirro é maçom há quase duas décadas. Hoje, é o venerável mestre da loja maçônica Albert Einstein, de Arroio do Meio. Crédito: Felipe Neitzke
Vale do Taquari

Liberdade, igualdade, fraternidade, aperfeiçoamento intelectual e democracia. Estes são alguns dos princípios defendidos dentro da Maçonaria. Tratada historicamente como uma sociedade secreta, a instituição é considerada uma filosofia de vida para mais de 3,6 milhões de pessoas no mundo.

Com ações reservadas, tem um viés filosófico e filantrópico. Seus integrantes atuam em diferentes segmentos da sociedade. Mas ainda existem mitos que rondam a Maçonaria. Por isso, os próprios maçons, bem como as lojas maçônicas e entidades trabalham, de forma discreta, para que haja um entendimento melhor por parte da sociedade.

“Nosso papel é melhorar a sociedade. E nós precisamos melhorar todos os dias da semana, pois não somos perfeitos”, resume Luís Augusto Mörschbächer. Ele integra a Maçonaria há 18 anos, após receber um convite, em 2004. Ingressou na loja maçônica Fraternidade Estrelense, uma das mais antigas em atuação na região.

Hoje, no Vale do Taquari, são mais de 400 “irmãos” ligados à Maçonaria, estima Mörschbächer. A maior parte frequenta uma das quatro lojas existentes em Lajeado. As demais estão situadas em Cruzeiro do Sul (duas), Estrela, Roca Sales e Arroio do Meio, onde foi inaugurada a mais recente, em novembro de 2021.

Pessoas melhores

Para se tornar um maçom, não basta apenas querer, se inscrever ou participar de algum processo seletivo. É preciso ser do sexo masculino, maior de idade, com endereço fixo e renda própria. E, claro, receber convite de um padrinho. Conforme Mörschbächer, o nome da pessoa é analisado pelos demais integrantes da loja maçônica. São avaliados requisitos como postura, atitudes e caráter.

“Não convidamos um amigo qualquer do churrasco ou do time de futebol. É aquela pessoa, que você vê ter um perfil condizente. Aí os demais podem dizer se será ou não um bom maçom”, comenta. Segundo ele, pode acontecer da pessoa ser convidada, ter o nome aprovado, mas não se interessar em entrar para a Maçonaria.

Os encontros nas lojas maçônicas são semanais. O que ajuda no processo de se tornar uma pessoa melhor. “O trabalho mais difícil do ser humano é trabalhar sobre si mesmo. Sobre como eu posso ser um pai, um irmão, um filho, um marido, um namorado melhor. Por isso nos encontramos semanalmente, para lapidar isso”, sustenta Mörschbächer.

Mundo mais justo

Morador de Arroio do Meio, Ricardo Alviggi Cimirro é grau 33 e também o venerável mestre ( da loja Albert Einstein, a mais recente da região. Mas sua caminhada na organização começou muito antes. Ele foi convidado há 18 anos e, desde então, permanece participativo.

Cimirro foi o presidente fundador da Ordem DeMolay – grupo de jovens apoiado e patrocinado pela Maçonaria – na região, em 2012. Naquele mesmo ano, recebeu uma comenda pelo empenho na abertura do Capítulo Cavaleiros Templários do Vale do Taquari (CTVT).

Para Cimirro, a Maçonaria é uma forma de aprender a ver o mundo com liberdade, fraternidade e igualdade. “E de aprender a aplicar o conhecimento na comunidade onde vivo, com sabedoria. De nada vale o conhecimento guardado em nosso íntimo”, frisa. De fato, dentro da instituição, existem movimentos que promovem ações em prol das pessoas que mais necessitam. Os trabalhos filantrópicos vão desde a arrecadação de alimentos e roupas até doação de sangue e promoção de almoços solidários.

Monumento instalado na avenida Alberto Pasqualini marca a presença da Maçonaria em Lajeado. Hoje, quatro lojas funcionam na cidade. Crédito: Felipe Neitzke

Congresso em Lajeado

Pela segunda vez, Lajeado sedia o Congresso Gaúcho da Ordem DeMolay. O evento ocorre neste fim de semana, no Teatro Univates. São esperados quase 800 congressistas, o que resultaria na maior edição da história do RS em 40 anos.

No local, se reunirão os 50 Capítulos da Ordem DeMolay do RS, bem como autoridades nacionais. A intenção é fortificar os baluartes e virtudes trabalhados dentro da Ordem, bem como promover palestras, fóruns de debates, votações estatutárias e atividades esportivas.

“Esperamos trabalhar o espírito de irmandade entre os membros e desenvolver ainda mais as sete virtudes cardeais, que são: amor filiar, reverência pelas coisas sagradas, cortesia, companheirismo, fidelidade, pureza e patriotismo”, explica Rafael Kunrath, membro-fundador do Capítulo CTVT. O grupo foi criado há dez anos.

O município sediou o evento pela primeira vez em 2015, quando o Capítulo CTVT tinha apenas três anos de atuação. “Tivemos 600 inscritos na época, e pouco mais de 20 capítulos confirmados, com muitas pessoas envolvidas. Foi um evento grande e tornou Lajeado referência no segmento”, salienta.

Origens da Maçonaria

Uma das instituições mais antigas em atividade no mundo, a Maçonaria surgiu de forma institucional em 1717, na Inglaterra. Porém, para estudiosos, ela se originou ainda da época do antigo Egito. O termo “maçom” vem de “pedreiro-livre”. Pois, eram homens muito mais trabalhadores livres do que servos vinculados, e tinham a liberdade de viajar de um país ao outro.

Entre os movimentos importantes com participação de maçons, está a Independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa e a libertação das colônias Hispano-americanas, por exemplo. No Brasil, a Maçonaria se tornou uma instituição em 1822, no Rio de Janeiro. Teve papel relevante na Independência e na Proclamação da República.

A Ordem DeMolay

– Criado nos Estados Unidos, em 1919, a Ordem DeMolay é um grupo de jovens patrocinado e apoiado pelas lojas maçônicas. Tem por objetivo criar bons cidadãos, que respeitam as leis, convivem em harmonia, auxiliem o próximo e sirvam como modelo a ser seguido pelos demais jovens;

– Participam jovens do sexo masculino de 12 a 21 anos. O único requisito é ter a crença em um ser superior, independente da religião. Após os 21 anos, ele passa a ser Sênior e auxilia nas atividades do Capítulo (grupo local/regional onde atua).

 

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