Conduta exige um repensar dos modelos produtivos

QUIET QUITTING

Conduta exige um repensar dos modelos produtivos

Especialistas em Recursos Humanos e Cultura Organizacional debatem como a “desistência silenciosa” interfere sobre as equipes e o papel do líder em manter engajamento em meio à sensação de esgotamento do trabalho

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Conduta exige um repensar dos modelos produtivos
Expressão Quiet Quitting ganhou repercussão global e promove debates sobre como identificar e lidar com essa estratégia profissional. Crédito: Divulgação
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Portais voltados à gestão de pessoas, artigos voltados a administradores e publicações especializadas se dedicaram em tentar explicar o fenômeno conceituado como Quiet Quitting.

A expressão inglesa ganhou repercussão em agosto, chegou aos trending topics da rede social TikTok. A discussão se sustenta em manter o trabalho fazendo o mínimo. Para o português, o termo foi traduzido como “desistência silenciosa”.

Trata-se de uma estratégia de entregar o que é pedido e dizer não à pressão externa, às horas extras e cobrança por participação em decisões.
Os motivos para esse comportamento, as implicações nos processos produtivos e formas de mudar esse formato de pensamento foram debatidos no Workshop Negócios em Pauta nessa quarta-feira, com a participação da Consultora de Recursos Humanos, Carine Alves e da especialista em Gestão, Liderança, Times e Cultura Organizacional, Silvia Vargas.

O Negócios em Pauta é um projeto do Grupo A Hora, desenvolvido em parceria com a Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil). Tem o propósito de encorajar e qualificar a gestão nas empresas. A iniciativa conta com o patrocínio de Bebidas Fruki, Unimed, Olicenter, Unicred e Camisaria. O apoio é da Univates, Sindicato dos Contadores (Sincovat), Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Sebrae e Câmara da Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC-VT).

Grande Resignação americana

Para Silvia Vargas essa temática ficou mais evidente durante a pandemia, quando os limites de trabalho e vida pessoal se confundiram. Como consequência, os Estados Unidos começou a enfrentar o que foi chamado de “Grande Resignação”, quando 4,5 milhões de trabalhadores pediram demissão. “Não podemos olhar isso como um movimento isolado. Se for assim, não vamos entender o significado disso. Para mim, é um grito de socorro, onde precisamos construir um novo modelo”, frisa.

No Brasil, de janeiro a maio, o número de pedido de demissões chegou a 2,9 milhões de trabalhadores. De acordo com Silvia, a postura de fazer o necessário sem carregar a atuação profissional com novas exigências sempre esteve presente nos ambientes organizacionais, ainda assim, o fenômeno ganhou amplitude de 2020 para cá. “Agora ficou escancarado. Precisamos construir um novo modelo.”

Esse movimento de repensar os processos, diz a especialista, passa por revisar a obrigatoriedade de cumprir horários e mais trabalho voltados aos projetos, com prazos e metas equilibrados. Por óbvio, destaca Silvia, essas condutas se referem a profissionais ligados às áreas em que é possível continuar a atuação profissional sem a necessidade de estar presente no ambiente organizacional.

Workshop abordou a temática da desistência silenciosa nas organizações. Crédito: Felipe Neitzke

Alinhar expectativas

Para a gestora de Recursos Humanos, Carine Alves, há meios de recuperar o profissional que se distancia dos momentos de decisão, dos projetos e movimentos da empresa. A ferramenta indicada é a comunicação, por meio de um espaço voltado à escuta e à fala. “É preciso alinhar expectativas. O profissional tem as suas e a empresa também. A transparência é a melhor ferramenta.” Neste sentido, Carine ressalta: “o líder tem de estar próximo para entender. Se ele conhece a sua equipe, vai perceber que algo acontece. Sentar, conversar e não isolar o funcionário. Por vezes se perdem talentos por uma condução errada.”

Ao mesmo tempo em que as regras têm de serem claras, o responsável pela gestão das equipes também precisa valorizar o esforço do outro. Na avaliação dela, perde-se muita energia em questões pontuais, por vezes em discussões pequenas e boatos internos

Engajamento e inspiração

Antes da pandemia, realça Silvia, as relações entre empregador e funcionário eram gerenciadas por ferramentas de controle e comando. “Isso não existe mais. Agora é por engajamento e inspiração. Por isso se fala tanto em propósito. Se não houver essa virada de chave por parte dos donos das empresas, vai ser de mal para pior. Cada vez mais vamos falar de apagão, de falta de profissionais.”

Na esteira, surge o Quiet Firing

Como uma resposta aos movimentos de funcionários com menos disposição para atividades adicionais, empregadores norte-americanos criaram o termo Quiet Firing (demissão silenciosa). Em resumo, trata-se de criar um ambiente de exclusão para determinado trabalhador para fazer com que ele peça demissão. Tirá-lo dos projetos, das promoções. Reduzir as conversas, interações e análises de desempenho. “Essa é uma prática antiga e muito reprovável”, destaca Carine Alves.

Para a especialista em Cultura Organizacional, Silvia Vargas, tal conduta interfere em toda a equipe. “Os demais colegas percebem. O prejuízo será muito maior do que pagar a demissão. Há um custo intangível. Cria-se uma situação traumática tanto para o funcionário quanto para empresa”

Como perceber um funcionário em Quiet Quitting

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