Maldade ou loucura?

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

Maldade ou loucura?

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Existe algo que nos atrai no mal, um fascínio que mescla medo com uma certa dose de inveja. Quem duvida disso deve dar uma olhada nos títulos disponíveis na Netflix, Amazon Prime ou outro desses atacadistas de filmes e séries, pois lá vai encontrar um desproporcional número de lançamentos com estórias e histórias de criminosos e psicopatas. É como se a vida comum dentro do cercadinho da lei, da moral e dos bons costumes nos entediasse.

Não é à toa que nos presídios, serial killers e criminosos sexuais costumam receber centenas de cartas e declarações de amor. Francisco de Assis Pereira, o maníaco do parque, preso após matar sete mulheres e estuprar outras nove no Parque do Estado em São Paulo recebeu, só no primeiro mês de detenção, mais de mil correspondências.

Ele se casou meses depois com uma das correspondentes, uma gaúcha de 60 anos, pós-graduada em História. Já Thiago Henrique Gomes da Rocha, o maníaco de Goiânia, mesmo depois de matar mais de 30 mulheres, chamou a atenção durante a prisão e o julgamento por ser muito fotogênico, recebendo centenas de mensagens de “compreensão e elogios” por parte de mulheres que queriam conhecê-lo.

Entre os estudiosos do comportamento humano, existe também curiosidade científica em entender tais criaturas. Há cerca de dois séculos começou a haver uma distinção entre esses então chamados de “perversos”.

Alguns teriam lesões da inteligência e seriam uma espécie de “aberrações”, já outros teriam doenças da vontade e das paixões, esses seriam os “desviados.” Por volta de 1854, Molinier já distinguia aqueles que só cediam aos seus afetos e desejos depois de uma luta interna, como se houvesse uma lesão da vontade.

Claro que esse assunto não passaria em branco pelo pai da psicanálise. Em 1905, Freud escreveu seu clássico “Três ensaios sobre a sexualidade”, inicialmente dizendo que não sabia o que era “normal” na sexualidade humana, mas sabia que havia proibições, demonstrando dessa forma que a sexualidade é uma relação do Sujeito com o Outro.

No entanto, reconhecia ele que algumas dessas proibições poderiam ser excitantes e, justamente por isso, o que mais deveríamos temer é a liberdade, pois é ela quem contraria as proibições e nos mantém dentro do nosso cercadinho mental. E é justamente esse respeito à lei e à proibição (castração) que separa o neurótico do perverso.

Pois bem, a pergunta que fica é como, com tanto conhecimento acumulado, o agora infame anestesista escapou de ser descoberto antes? Como passou desapercebido seu narcisismo (“Vocês ainda vão ouvir falar de mim!”, ele dizia) e sua perversão?

Agora que ele ficou exposto é obvio, mas, lembrem, essa é uma doença (parafilia) que afeta o “controle dos impulsos”, para outras funções o cérebro permanece “inteligente”. Ou seja, eles sabem o que fazem!

Ah, e para quem estranhou o súbito aumento de seguidores nas redes sociais do anestesista, é bom lembrar que a sociedade sempre sentiu uma mórbida atração por essas criaturas, tanto que às vezes até os elege.

É uma pena que a maioria dos atos psicopáticos não seja filmada e desmascarado seu autor para que recebam a devida punição. Se bem que no Brasil… não, deixa pra lá. Esse é assunto para outra crônica.


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