“O salão é quase um confessionário”

ABRE ASPAS

“O salão é quase um confessionário”

Cabeleireiro em Lajeado desde 1968, Danilo José Arend, 67, segue na atividade e não pensa em parar tão cedo. Durante este período acompanha diferentes tendências, desde os cortes mais longos e escovados ao estilo mais curto e de barba desenhada. No salão, também desenvolveu o gosto pela sonorização e música, ao qual dedica parte do tempo na acústica de ambientes.

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“O salão é quase um confessionário”
Crédito: Felipe Neitzke
Vale do Taquari

Como se tornou cabeleireiro e desde quando atua neste ramo?

Essa é minha profissão há 53 anos. Tive a carteira de trabalho assinada por meu pai quando tinha 14 anos. Ele foi a grande inspiração e antes mesmo de aprender a cortar o cabelo, engraxava sapato no salão que ficava na rua Silva Jardim, em Lajeado. Depois comecei a tirar a espuma do rosto dos clientes até colocar a mão na tesoura. Trabalhamos juntos por dez anos e decidi abrir um estabelecimento por conta.

Quais são as recordações do início da profissão?

Não tenho vergonha de dizer e não culpo meus pais, mas fui induzido a trabalhar ao invés de estudar. Com isso, me tornei autossuficiente e conquistei meus objetivos aos poucos, conforme minhas condições. Também com a prática aprendi duas coisas na qual se tornaram características pessoais.

A primeira delas é trabalhar bem apresentado. Desde a década de 70 uso gravata. Outra lição foi atender por agendamento. Diferente de hoje que temos a internet e os aplicativos, naquela época era por meio de telefone fixo. No começo meu pai questionou se isso daria certo pois não era habitual na região. Na pandemia virou prática de muitos profissionais.

Quem são seus clientes e o que mudou no modo de trabalhar?

Atendo desde o empresário, juízes, advogados a trabalhadores que recebem um salário mínimo. Durante estes mais de 50 anos fiz muitos amigos, o salão é quase um confessionário, as pessoas falam coisas que não diriam ao melhor amigo. Sobre as transformações, o que chama a atenção são as tendências de cortes.

Na década de 70 a moda era o cabelo longo e escovado. Hoje os cortes são curtos e seguem os modelos de jogadores. Outra mudança que percebi é algo mais de comportamento e cultural. Nos anos 90 o salão era um espaço de encontro de amigos e havia aqueles que gostavam de conferir as novidades em revistas. Uma publicação com páginas amarelas era muito cobiçada, ela trazia contos eróticos. Sem falar da revista com fotos de mulheres nuas.

Com mais de 50 anos na atividade, pensa em parar?

Sou aposentado há 18 anos e enquanto tiver saúde quero seguir na profissão. Nunca tratei como um trabalho, mas sim, algo que gosto de fazer. Aqui também desenvolvi outra habilidade que se tornou um hobby. Como passo muito tempo no salão, o rádio sempre fez parte desse ambiente.

Com isso, passei a estudar sobre acústica e sons. Hoje, além de cortar cabelo presto assessoria na área de home theater. É mais uma atividade que considero lazer e ao mesmo tempo trato com muita responsabilidade.


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