Tecnologia da informação também é coisa de mulher

Comportamento

Tecnologia da informação também é coisa de mulher

A procura por profissionais da área cresceu de forma exponencial, impulsionada, sobretudo, pela pandemia. Com boas oportunidades, setor incentiva o ingresso feminino em cursos e especializações

Por

Atualizado quinta-feira,
02 de Maio de 2022 às 17:36

Tecnologia da informação também é coisa de mulher
Vale do Taquari

Desde criança, Maria Claudete Schorr, 52, já gostava de informática e computação. Aos 13 anos, começou um curso na área. A dedicação foi tanta que, aos 17, recebeu a proposta de se tornar monitora e auxiliar o professor nos laboratórios das escolas. A partir de então, construiu a carreira voltada ao ensino de tecnologia da informação.

LEIA MAIS: Congresso promulga benefícios tributários ao setor de tecnologia

Durante a faculdade de ciências da computação, teve cinco colegas mulheres. O cenário só mudou quando ela passou a cursar a licenciatura. A professora da Univates conta que, em todos os lugares em que trabalhou, sempre foi a única mulher.

“Por muito tempo eu tive que provar que eu era tão boa quanto os homens. Porque, em alguns momentos, quando eu entrava na sala, tinha 30 homens e nenhuma mulher. Eles me olhavam, assim, ‘nossa, será que ela vai saber tanto quanto os professores homens?’”, lembra.

Entre os colegas de trabalho, as dúvidas se repetiram por muito tempo. “Hoje eu vejo esse cenário diferente, não preciso mais me preocupar com isso. Talvez porque a gente tá tentando divulgar e a mídia mostra mulheres nessa área”, comenta. Apesar disso, o número de ingressantes femininas nos cursos não aumentou ao longo dos anos.

O mercado de trabalho

Hoje, a Univates oferece cursos de Análise e desenvolvimento de sistemas (EAD), Engenharia da computação, Gestão da tecnologia da informação (EAD), Redes de computadores (EAD) e o CRIE T.I, uma nova especialização, de formação mais rápida e diurna.

Conforme Maria Claudete, este último atraiu o ingresso de meninas na área. “No CRI T.I temos um público feminino de cerca de 20%. É um número grande se comparado aos outros cursos”, explica.

A pouca representatividade motiva a professora a sempre divulgar os trabalhos das alunas que chegam ao final do curso, como forma de incentivo. De acordo com Maria Claudete, esse é um processo importante, em especial, porque muitas desistem ao longo do caminho.

As oportunidades estão em todos os segmentos da área da tecnologia: desenvolvimento, gestão, suporte e projetos.

Há 20 anos, “a guria da T.I”

Sirlei Inês Sulzbach, 44, enfrentou um cenário parecido. Quando estava quase terminando o Ensino Médio, ganhou uma bolsa com desconto para um curso introdutório de informática em uma escola de Estrela. Até então, a estudante não tinha conhecimento na área mas, logo no primeiro dia de aula, decidiu fazer vestibular para um curso relacionado à computação.

Sirlei ingressou em uma turma de 50 alunos, em que cinco eram mulheres. Ao longo dos dez semestres de curso, sempre tiveram mais colegas homens. Mas elas se uniram e concluíram a faculdade juntas. O computador ainda não era um item muito comum nas casas.

No final de 2001, Sirlei foi morar em Porto Alegre para trabalhar em projetos de desenvolvimento de sistemas na UFRGS e na PUCRS, seguindo para o mestrado em 2002. “Assim, naturalmente, fui levada para o âmbito acadêmico, onde passei a ministrar aulas em cursos técnicos e, na sequência, em cursos superiores da área da TI”, lembra.

Nesses anos, também coordenou cursos de TI, e buscava incentivar em ações e eventos o ingresso de mulheres. Hoje, Sirlei é analista de sistemas e compõe a equipe de TI de uma empresa de automação industrial de Lajeado. Na instituição, a representatividade feminina é de 40% e elas buscam ter cada vez mais voz no meio.

“Vejo que o mercado de trabalho tem se aberto. Acredito que a habilidade feminina de organização, resolução e atenção é importante para imprimir identidade e qualidade naquilo que fazemos. Mesmo desafiador, recomendo fortemente, que mais mulheres ingressem nesse universo único e promissor”.

O que pensam as jovens mulheres

Para quem ingressa agora, as oportunidades são ainda maiores. Vitória Luísa, 22, escolheu o curso devido a possibilidade de descobrir e criar inovações que facilitem e auxiliem a vida das pessoas. Além disso, o crescimento de oportunidades na área também foi um diferencial.

“O que mais gosto são as possibilidades de atuação que são ofertadas. Além do poder que a tecnologia e desenvolvimento de software tem de mudar o jeito de ver e fazer as coisas do dia a dia”, destaca.

Para ela, é “incrível e desafiador ver mulheres desenvolvedoras de Software, a visibilidade que está sendo dada e a importância da presença feminina na área da tecnologia. Hoje, Vitória trabalha com análise de dados.

A estudante do sétimo semestre lembra que na história, muitas mulheres desempenharam papéis importantes para o cenário tecnológico atual. “Ainda temos um caminho a percorrer para podermos afirmar que ocupamos nosso espaço, mas com coragem e ousadia vamos conquistando”, ressalta.

Representatividade no setor

  • No Brasil, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) apontam que apenas 20% dos profissionais de TI são mulheres;
  • No início de 2021, a presença feminina em cargos de tecnologia representava 21,5% do setor, e a masculina, 78,5%. Nos dois primeiros meses de 2022, os números já mostraram um avanço: as mulheres têm ocupado 23,6% dos postos nesse setor, e os homens 76,4%.
  • Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a participação feminina no mercado de tecnologia cresceu 60% nos últimos cincos anos, passando de 27,9 mil mulheres para 44,5 mil em 2020.

ENTREVISTA

“Muitas mulheres que nos antecederam abriram portas para nós”

A professora e secretária adjunta da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Simone Stulp, destaca os potenciais do mercado de trabalho na área e a relação do Promove Lajeado com a tecnologia da informação.

Como está o setor para o público feminino?
É um setor em pleno desenvolvimento, sendo que o principal gargalo, hoje, é a falta de profissionais qualificados. A pandemia estrangulou ainda mais este “gap” no Brasil. Pois com o trabalho remoto, muitas empresas globais têm contratado profissionais brasileiros, sendo esta uma excelente oportunidade para quem possui afinidades com a área e, a partir disso, busca se qualificar. E nós, mulheres, somos muito eficientes nas áreas mais tecnológicas, pois somos dedicadas e buscamos, constantemente, nos aperfeiçoar.

Você percebe uma mudança na participação das mulheres? Há quanto tempo?
Sim, percebo, principalmente nos últimos 20 anos isso vêm se intensificando. Muitas mulheres que nos antecederam abriram portas para nós e fomos entendendo que era possível. Vou citar aqui um exemplo. O Crie_TI, uma formação imersiva e intensiva, tem duração de 10 meses e um modelo de negócios inspirado em startups. Na primeira turma temos 30 alunos, destes, 7 são mulheres. Isso nos enche de orgulho e mostra uma tendência que não tem mais volta.

Qual a relação do Pro_move com o setor?
O Pro_Move objetiva tornar Lajeado mais inovadora e sustentável. Para que este movimento possa ocorrer é importante que áreas estratégicas e portadoras de futuro sejam definidas e alinhadas, e a área de tecnologia da informação e automação foi uma das áreas elencadas a partir do trabalho desenvolvido pela Fundação Certi.
A partir desta definição, uma série de ações e estratégias estão sendo definidas e executadas, incluindo conexão com empresas e academia, formação em diferentes níveis e para diferentes públicos, para que uma cultura nesta área possa ser construída e consolidada.

Qual a sua trajetória na área?
Toda a minha formação é voltada para a área tecnológica. E, desde 2006, tenho trabalhado com inovação, em especial Gestão da Inovação, e posso atestar a importância das novas tecnologias para a construção de uma sociedade mais conectada e mais sustentável.


Acompanhe nossas redes sociais: WhatsApp Instagram / Facebook.

Acompanhe
nossas
redes sociais