O projeto Viver Cidades, do Grupo A Hora, em parceria com o Unianálises, iniciou nesta semana a coleta de amostras de água em 12 arroios e dois rios da região. O trabalho faz parte da proposta de monitoramento dos mananciais pelo período de dois anos. A intenção é revelar a qualidade e as características físicas, químicas e biológicas da água e apontar soluções a partir do diagnóstico das análises.
A primeira etapa de coletas foi realizada pelo químico industrial Rodrigo Giovanella e pelo amostrador e estudante do Técnico em Química Everton Jardel Prediger. O roteiro incluiu o arroio Encantado, no Parque Professor Theobaldo Dick, arroio Forquetinha, sob a ponte da Vila Stork, rio Forqueta, em Marques de Souza e Travesseiro e dois pontos do arroio Saraquá, sob a ponte entre os bairros São Bento e Moinhos D’água e em Santa Clara do Sul, próximo da Rua das Flores.
Conforme Giovanella, que é responsável técnico substituto do Laboratório de Análises Físico-químicas do Unianálises, as primeiras coletas foram realizadas em afluentes do Rio Taquari para ensaios físico-químicos e microbiológicos. O volume de água coletado foi de aproximadamente três litros, quantidade necessária para conseguir realizar os ensaios previstos no projeto Viver Cidades. Alguns frascos, explica Giovanella, precisam ter adição de conservantes e outras apenas refrigeração, por isso são distribuídas em mais de um frasco. No local da amostragem já foi medido o oxigênio dissolvido, o pH e a temperatura. Os outros ensaios serão realizados em laboratório.
Os resultados vão apontar, entre outros indicadores, a contaminação por lançamento de efluentes domésticos e industriais.
Nos próximos dias, ocorrem as coletas nos demais 18 pontos (veja mapa). Após a análise, os laudos emitidos pelo Unianálises serão interpretados pelo biólogo Cristiano Steffens, da Global Eco, empresa parceira do projeto Viver Cidades.
Estudo revela que apenas 7% dos rios da Mata Atlântica têm boa qualidade
Ontem, no Dia Mundial da Água, a Fundação SOS Mata Atlântica divulgou estudo indicando que o Brasil ainda está distante de atingir o fornecimento ideal de água limpa em quantidade a toda a população. A nova edição da pesquisa “O Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica”, realizada pelo programa Observando os Rios, revela que mais de 20% dos pontos de rios analisados apresentam qualidade de água ruim ou péssima – portanto sem condições para usos na agricultura, na indústria ou para abastecimento humano. O levantamento não identificou corpos d’água com qualidade ótima, enquanto em aproximadamente 73% dos casos as amostras podem ser consideradas regulares. Apenas 7% contam com água de boa qualidade.
Os indicadores foram obtidos entre janeiro e dezembro de 2021 por 106 grupos voluntários de monitoramento da qualidade da água do Programa Observando os Rios. Foram feitas 615 análises em 146 pontos de coleta de 90 rios e corpos d’água de 65 municípios em 16 estados do bioma Mata Atlântica – Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.
Os parâmetros do IQA, os mesmos adotados pelo projeto Viver Cidades na análise de água dos mananciais do Vale do Taquari, foram escolhidos por especialistas e técnicos como os mais relevantes para avaliação das águas doces brutas destinadas ao abastecimento público e aos usos múltiplos. A totalização dos indicadores medidos resulta na classificação da qualidade da água, em uma escala que varia entre: ótima, boa, regular, ruim e péssima.
No Rio Grande do Sul
No estado gaúcho, foram realizadas 70 análises, em seis cidades, a partir de amostras coletadas em dois rios e seis arroios. Os dois rios – Gravataí e Sinos – e dois arroios tiveram classificação regular, conforme os parâmetros do IQA. Três arroios tiveram suas águas consideradas ruins e um, boa.
Coordenador do programa Observando os Rios, do SOS Mata Atlântica, Gustavo Veronesi explica que o retrato da qualidade da água nas bacias da Mata Atlântica é um alerta para a condição ambiental da maioria dos rios nos estados do bioma. A inadequação da água para usos múltiplos e essenciais pode ser consequência de fatores como a poluição e as precárias condições de saneamento, além da degradação dos solos e das matas nativas.
“A qualidade regular da água obtida em mais de 70% dos pontos monitorados demanda atenção especial dos gestores públicos e da sociedade, indicando também a condição frágil dos recursos hídricos, especialmente neste momento de emergência climática e de pandemia, quando aumenta a demanda por água limpa”, diz.
Sobre a análise
A análise mostrará as características físicas, químicas e biológicas da água. São oito parâmetros que vão classificar cada manancial. Serão utilizadas duas ferramentas de avaliação de qualidade. Uma que atende à resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). A outra é o Índice de Qualidade da Água (IQA), adaptado pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) à realidade do Rio Grande do Sul, a partir de estudos técnicos realizados pela própria Fepam, Corsan e Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre (Dmae).
Pela resolução do Conama, as amostras poderão ser classificadas em especial (usos mais nobres) e classes 1, 2, 3 e 4 (menos nobre). Pelo IQA, a nota de 0 a 25 é considerada muito ruim ou péssima; 26 a 50, ruim; 51 a 70, regular; 71 a 90, boa; e 91 a 100, ótima ou excelente.