Coragem para ficar de fora e não ceder a chantagem

Opinião

Fernando Weiss

Fernando Weiss

Diretor de Mercado e Estratégia do Grupo A Hora

Coluna aborda política e cotidiano sob um olhar crítico e abrangente

Coragem para ficar de fora e não ceder a chantagem

Por

Vale do Taquari

A região não pode aceitar o modelo de concessão das rodovias estaduais da maneira que nos foi apresentado e sugerido até aqui. A outorga e os prazos das obras são duas aberrações inaceitáveis para uma sociedade que paga pedágio faz 23 anos sem ter retorno adequado.

A mais nova informação é de que o Estado estuda deixar as rodovias aqui do Vale fora do leilão. Se é para ser como apresentaram, que deixe fora mesmo. O argumento de que o Vale perderá uma grande oportunidade não passa de “papo furado”. A única oportunidade é para a empresa vencedora do leilão e o Estado. Para a região, é uma punição.

E tem mais. Se as rodovias que cruzam o Vale não forem concedidas à iniciativa privada agora, que seja no ano que vem. Uma região que já paga pedágio inútil faz mais de duas décadas, prefere pagar mais um tempo do que assinar um atestado de penitência pelos próximos 30 anos.

O governador Eduardo Leite não está proibido de querer mostrar serviço e usar o modelo de concessões como trunfo eleitoral no ano que vem. O que não pode é fazer isso às custas da sociedade e repassar aos gaúchos um presente grego igual ou pior ao de Antônio Britto na década de 1990.

Sensibilidade e bom senso. Ainda confio que o Estado, tão ouvinte e tão aberto ao diálogo com os líderes regionais, terá sensibilidade para reconhecer os equívocos da proposta inicial e, na próxima semana, apresente uma ideia que contemple as reivindicações locais. Se não o fizer, será por teimosia e má fé, pois o descontentamento não é parcial. É total. Prefeitos, vereadores, empresários e presidentes de entidades estão unidos como poucas vezes vi na região.

Será muito desrespeito e deselegância por parte do Piratini se insistir no modelo e ignorar as sugestões de nossos representantes. E digo mais: se não quer ouvir nossas cobranças, ao menos não venha com chantagem e ameaças de que ficaremos de fora e perderemos a oportunidade de privatizar as rodovias. E quem disse que o leilão dessas rodovias em debate não pode ser feito em separado em outro momento? Quem disse que precisa ser tudo num pacote só?

As próximas semanas serão cruciais. Nossos líderes não podem afrouxar, precisam se manter irredutíveis e unidos. O Estado tem o poder de “enfiar goela abaixo” a proposta, mas a desfaçatez ficará evidente e restará ao Vale ação judicial para emplacar suas reivindicações. Se isso acontecer, restará claro e cristalino que o modelo de concessão apresentado é muito mais para obter palanque eleitoral do que para favorecer os gaúchos.

Pelo menos dois encontros presenciais aqui na região, uma audiência pública e várias entrevistas. Até aqui, o Estado fez de conta que ouve o Vale do Taquari. Chegou a hora de separar o joio do trigo e ver se de fato o governo Eduardo Leite é do diálogo ou se a concessão das rodovias não passa de palanque eleitoral / Crédito: Prefeitura de Cruzeiro do Sul


Repercussão positiva e o trabalho pela frente

O assunto abordado na coluna do fim de semana passado surtiu o desejável efeito. Ao longo da semana, vários leitores compartilharam opiniões a respeito do tema. Ainda que tenham divergências em relação a lista de nomes apresentados, as manifestações se somam à necessária mobilização regional para elegermos deputados na próxima eleição.

Ciente da necessidade extrema de eleger representantes locais, o Grupo A Hora abre este debate que precisa ser amadurecido até outubro de 2022. Fechar questão em relação a poucos nomes locais é o primeiro passo. Depois, é preciso ir para o processo qualitativo. Lembram bem alguns leitores, que nada adianta só eleger deputado local se este não tiver identificação e compromisso com a região. Ter por ter não basta.

Debatermos o assunto a pouco mais de um ano do pleito, como fizemos agora, é fundamental para construir uma estratégia regional. Aqui no A Hora continuaremos a pautar este assunto. Nas próximas semanas, entrevistaremos os coordenadores regionais dos partidos mais influentes e representativos, a fim de ouvir dos líderes como estão as construções das possíveis candidaturas.

Até porque não adianta fazermos um grande movimento midiático se na “hora H” os partidos e os políticos não tiveram a consciência suficientemente madura para emplacarem os nomes que realmente terão chances.

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