O aparente das coisas

Opinião

Caroline Lima Silva

Caroline Lima Silva

Assuntos e temas do cotidiano

O aparente das coisas

Por

Vale do Taquari

Vivemos uma crise de valores, que se confirma como certeira neste instante evolutivo em que a humanidade aprende com o sofrimento de uma pandemia. Vivemos muito no aparente das coisas, na materialidade frívola que nos desconecta do que nos faz humanos. Trazemos a carapaça de defesas e reatividade que nos afasta de nossa verdade interna e do reconhecimento da verdade do outro. Preferimos o raso ao complexo. A aparência nos interessa mais do que a profundidade do ser. E vamos remando e tangenciando a superficialidade de tudo, na tentativa de nos encontrarmos como seres de relação que somos. Neste sentido, uma inquietante questão seria pensarmos por que, ao menor olhar, disparamos interpretações e rótulos aos outros, sendo que eles dizem muito mais sobre quem somos do que como o outro é? Talvez seja a nossa triste mania de avaliar e julgar aquilo que está no entorno, no aparente, no concreto e no efêmero, como a encaixá-lo nos nossos esquemas mentais cheios de preconceitos, incorrendo na distorção e desumanização que nos divide.

Vivemos um novo mundo, uma constatação que não é discurso de retórica, mas fato percebido pelos olhares mais empáticos. Um novo emergir, a partir da desconstrução de conceitos retrógrados que nos atrasaram no tempo como humanidade. Um novo momento, sentido pelo coração dos mais sensíveis, interligando todos à vulnerabilidade como ponto universal dos seres e à falibilidade que os mantêm humildes e com os pés bem no chão. Abraham Maslow, psicólogo norte-americano e criador da proposta conhecida como Hierarquia das Necessidades, dizia que o ser humano somente consegue chegar a um patamar de autorrealização e transcendência quando suas necessidades básicas são atendidas. Ou seja, conseguimos ampliar a consciência e a percepção de aspectos mais sutis do ser, como sentido da vida e propósito quando, realmente, nossas necessidades são escutadas e a dos mais próximos, numa perspectiva altruísta da existência, factível e propositiva.

Portanto, viver para além da aparência não é tão difícil assim. Basta nos conectarmos ao que de mais vivo existe dentro de nós e aos outros, suplantando rótulos e julgamentos corrosivos à convivência social. Já estamos exaustos de tantas interpretações errôneas, discursos de ódio e cultura do cancelamento. Faz-se necessária a naturalidade do respeito a quem se é, conquanto a aceitação disso seja um longo processo de compreensão e cura.

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