Eu sou… tu és… somos todos “cringe”

Opinião

Jonas Ruckert

Jonas Ruckert

Diretor do Colégio Teutônia

Assuntos e temas do cotidiano

Eu sou… tu és… somos todos “cringe”

Por

Teutônia
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No último domingo levantei cedo. Entre as muitas coisas compartilhadas com minha amada companheira, um café com aquele tempo que até gera estranhamento. Entre uma conversa e outra, um texto de Martha Medeiros encaminhado por uma colega de trabalho. Não demorou muito, o recebi de minha esposa também. Sem titubear me entreguei à leitura. Eu gosto, por demais, das relações que Martha estabelece com maestria em seus registros. O título “Modernidade de Ocasião” imergiu para a reflexão sobre o termo cringe, “…uma gíria americana que está sendo utilizada para determinar algo que nos faz sentir vergonha alheia. Crítica sumária aos mais velhos, tipo ver a prima de 26 anos postando uma dancinha do Tik Tok ou sua mãe escrevendo ‘tipo’ em vez de ‘como’ ”.

Faz pouco que escutei essa palavra pela primeira vez. Dois jovens conversavam sobre o assunto quando um se referiu à determinada situação fazendo uso da expressão. No dia seguinte ouvi novamente a palavra com a afirmação de que é muito chato viver com gente que é cringe. Martha tem razão: “ninguém escapa. Você também será cringe por usar a roupa errada, assistir à série errada, defender a causa errada.”Ainda que relutante diante da afirmação, aceitei a ideia de, inevitavelmente, assim ser rotulado, dia mais, dia menos. Não me importo com o que as pessoas pensam sobre o que visto, o que como ou o que calço. Superei a limitação de me entender aceito pelas convenções sociais. Outrossim remoí a ideia, na via inversa, incomodado com a irrequieta consternação sobre como temos nos posicionado, enquanto adultos, para que os millennials nos percebam nesta condição. Se por um lado as convenções sociais sobre moda, culinária e outras coisas mais não me incomodam, a performance que envolve as entregas no meu espaço laborativo, meu posicionamento diante das circunstâncias que estão diretamente ligadas à promoção das pessoas pela formação vinculada ao conhecimento, me desconfortam ao pensar na possibilidade de estar na condição cringe.

Se é fato que estamos adentrando em um momento no qual será possível retomar integralmente com os estudantes às escolas, pergunto: Como estamos preparados? Como nos preparamos como famílias, sociedade e espaços escolares para este novo contexto? É impensável, depois de tudo que vivenciamos nesses dois anos de pandemia, que insistamos em seguir de onde paramos. Anunciar que voltaremos à normalidade nas escolas é assumirmos nossa condição cringe. A pandemia mudou tudo, ainda que valores e princípios sejam atemporais. De toda forma, voltar a uma normalidade é seguir apoiando-se no discurso vazio que as novas gerações estão desligadas, desconectadas, inertes e desinteressadas em relação ao mundo acadêmico, à relação com o mundo do trabalho e às relações interpessoais.

Pensar assim é mais fácil. É desvencilhar-se da obrigação que cabe “aos maduros” de protagonizar. É assumir sua total condição cringe diante da oportunidade de ser e fazer a diferença em um contexto em transformação.

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