Teutônia aposta nas origens para impulsionar o crescimento

40 anos

Teutônia aposta nas origens para impulsionar o crescimento

Da pequena Colônia de Teutônia à mobilização pela emancipação, efetivada em 24 de maio de 1981. Município se inspira na vocação cooperativista para ocupar posição de destaque no RS. Líderes apontam caminhos e personalidades históricas relembram os tempos dos distritos

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Teutônia aposta nas origens para impulsionar o crescimento
Centro Administrativo foi construído no fim da década de 1980
Teutônia
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Buscar inspiração no passado para projetar um futuro de desenvol­vimento econômico e social é o grande desafio de Teu­tônia, que completa na próxima segunda-feira, 24, seu aniversário de 40 anos de emancipação políti­co-administrativa.

O município tem uma economia variada e apresenta índices econô­micos que o deixam atrás somente de Lajeado na região. Mesmo as­sim, possui desafios importantes aos gestores públicos, comunida­de e setor produtivo.

A vocação para o cooperativis­mo, por exemplo, remete às ori­gens de Teutônia, ainda no século 19, quando foi criada a “Colônia de Teutônia”. E isto é apontado por lideranças como um dos cami­nhos para o município se consoli­dar no cenário estadual, bem como a diversificação da economia.

“Temos uma concentração de indústrias e negócios muito res­tritos. Além daqueles já sacra­mentados, é preciso diversificar a economia”, avalia o diretor-pre­sidente da Cooperativa Languiru, Dirceu Bayer. Opinião comparti­lhada pelo presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Teutônia, Airton Kist. Ele avalia que há uma dependência grande do setor calçadista na geração de empregos.

Cooperativismo e logística

Para líderes empresariais, as condições da Via Láctea é um dos principais desafios ao desenvolvimento

Teutônia conta com três gran­des cooperativas, atuantes em di­ferentes áreas. E o fortalecimento delas também contribui para o desenvolvimento do município. “Nascemos dentro de um sistema cooperativista e acredito que o fu­turo será pavimentado em cima destes princípios. Continuar com este espírito é fundamental”, afir­ma Neori Ernani Abel, presidente da Sicredi Ouro Branco.

O presidente da Certel, Erineo Henneman, também aposta no sis­tema, aliado à força da população. “O cooperativismo é um pilar para que Teutônia tenha um desenvol­vimento ainda maior”, salienta.

Por outro lado, lideranças ressal­tam a importância de investimen­tos em infraestrutura, tecnologia e logística. Kist elogia a elaboração dos planos Diretor e de Mobilida­de Urbana, mas que ainda é neces­sário escolher os projetos prioritá­rios para a cidade.

“Uma coisa é o plano existir, ou­tra é fazer virar realidade. A produ­ção do frigorífico da Languiru de Poço das Antas passar por dentro de um bairro é complicado, as co­nexões entre os três bairros prin­cipais também. A Via Láctea, nos horários de pico, é outro proble­ma, com muitos acidentes”.

Bayer reforça que Teutônia tem uma localização privilegiada, pró­ximo a polos econômicos. Ele co­memora a duplicação da BR-386, entre Lajeado e Carazinho, mas espera um aproveitamento melhor do Porto de Estrela. “Ele é muito bem localizado. Uma pena que es­teja na situação atual. Espero que a região consiga usá-lo da melhor forma possível. Dará um incre­mento muito grande”.

A luta emancipacionista(*)

Wallauer e a vitória da emancipação, comemorada há 40 anos. Vereador na época, presidiu a sessão de criação do município e empossou primeiro prefeito

Por volta das 17h do dia 24 de maio de 1981, começava a ser es­crita definitivamente a história de Teutônia. O recolhimento das 34 urnas instaladas em três distritos de Estrela dava fim a votação de um plebiscito emancipacionista que modificou o mapa da região.

No dia seguinte, às 10h30min, surgia o 233º município do Rio Grande do Sul, com a vitória do “Sim”, por 66,55% dos votos. “Teutônia, Languiru e Canabarro transformam em realidade seu so­nho”, anunciava O Informativo do Vale, em 26 de maio.

A emancipação de Teutônia se concretizava após uma luta de duas décadas. A primeira tentativa se deu em 1963. Desentendimen­tos entre líderes emancipacionis­tas e moradores dos distritos, porém, dificultaram o processo. Cada uma das comunidades pleiteava a sede do município.

Mudanças na legislação nacional, em meio ao período da Ditadura Mi­litar, esfriaram os planos da comuni­dade. A segunda tentativa viria em 1976, após a realização das eleições municipais. O candidato da situa­ção, do MDB, derrotou o concorren­te, do ARENA, apoiado por líderes do movimento. A derrota, por uma margem de 800 votos, foi o estopim para a retomada do movimento.

“Metade dos moradores não são daqui”

Teutônia tinha uma população aproximada de 6 mil habitantes quando se emancipou. Em 40 anos, este número mais do que quadruplicou. “Diria que pelo menos metade dos moradores não são naturais daqui”, observa Selby Wallauer, professor aposentado e figura histórica do município.

Wallauer, que completa sábado 85 anos, não se envolveu direta­mente na mobilização como outras lideranças da época. Mas era um entusiasta da emancipação e um profundo conhecedor da história de Teutônia. E, após a emancipa­ção, fez história ao ser eleito verea­dor e presidir a sessão solene que instalou o município, em 1983.

Bastante próximo a Elton Klep­ker, primeiro prefeito de Teutônia (falecido em 2015), Wallauer lem­bra que o amigo, um dos grandes líderes do movimento, escreveu um “Termo de Compromisso” aos apoiadores, onde determinava que o município emancipado se cha­maria Teutônia.

“Ele queria respeitar às origens de Teutônia. Também determinou que o Centro Administrativo deveria ser construído na divisa dos bairros Ca­nabarro e Languiru. Fez esse termo sozinho, reuniu mais de 30 pessoas e leu para todos. É um depoimento famoso que regeu a campanha de emancipação”, salienta.

Conforme Wallauer, os três dis­tritos sempre se destacaram e exer­ciam grande influência sobre Estre­la no aspecto econômico. “Sempre fomos muito fortes nisso, desde a colonização. Eram comunidades bem desenvolvidas. E a partir da vinda da energia elétrica para Teu­tônia, o progresso foi ainda maior””

Protagonismo feminino

A participação da mulher na polí­tica ainda deixa a desejar na região. Teutônia, contudo, pode se orgu­lhar do forte envolvimento femini­no no processo de emancipação.

Presidente da Liga Feminina Pró-Emancipação de Teutônia, Leda Follmer trabalhava como ad­vogada na época. Hoje atua em La­jeado como registradora de imó­veis. Segundo ela, o voto feminino foi fundamental para a emancipa­ção, que trouxe um legado para as mulheres teutonienses.

“Participamos de forma aberta e envolvente numa grande decisão popular. A partir daí, as mulheres tiveram maior projeção, coragem para assumir postos de comando e chefia, de organizarem-se em grupos e fazer parte da nossa his­tória”, comenta.

Já Ledi Schneider, 81, professo­ra aposentada, também foi atuante no movimento. Ela já havia sido vereadora suplente em Estrela e diz que se sentia responsável em participar do trabalho. “Da nossa parte, era um trabalho de esclare­cer as pessoas, tanto nos benefí­cios como nos deveres para com o novo município”, ressalta.

Obs: (*) Contribuição do historiador Guido Lang, autor de diversos livros que abordam a história de Teutônia


 

“A continuidade do crescimento de Teutônia deve ser de forma sustentável, com o cooperativismo cada vez mais importante e fortalecido”

Dirceu Bayer

Presidente da Languiru

 

“Nós temos um povo muito determinado em trabalhar e favorecer que as melhores práticas aconteçam”

Erineo Hennemann

Presidente da Certel

“A organização de um distrito industrial mais sólido para o futuro ajudaria muito”

Neori Ernani Abel

Presidente da Sicredi Ouro Branco 

 

“Lideramos um movimento que teve adesão de centenas de mulheres, que se sentiram valorizadas, reconhecidas e prestigiadas”

Leda Follmer 

Líder emancipacionista 

“Temos uma economia sólida em virtude das cooperativas e do agro. Mas precisamos variar e alavancar novos segmentos”

Airton Kist

Presidente da CIC-Teutônia 

“Havia uma maturidade muito grande na comunidade que formava os três Bairros. O povo sabia o que queria”

Ledi Schneider

Líder emancipacionista

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