A piranha e o rio

Opinião

Hugo Schünemann

Hugo Schünemann

Médico oncologista e diretor técnico do Centro Regional de Oncologia (Cron)

A piranha e o rio

Por

Vale do Taquari

Recentemente houve um alerta, por parte dos pescadores locais, da presença de piranhas nas águas do rio Taquari e dos prejuízos que já estão trazendo à pesca local e que provavelmente impactarão a atividade de forma mais intensa no futuro. A espécie, considerada exótica, vem fazendo estrago e representa perigo para as populações de peixes do Taquari e afluentes, interferindo no equilíbrio natural. O assunto já foi matéria em vários meios de comunicação e soma-se a muitos outros casos, que representam o desastre que a intervenção humana causa, muitas vezes, de forma desapercebida, no ambiente natural. No estado, os exemplos são muitos. No mundo, mais ainda. E as consequências costumam ser desastrosas.

Existe uma caturrita, com dorso verde e peito cinza, que vive no Pampa, fronteira com Uruguai. Fazia seus ninhos nos arbustos e estes por sua vez, eram atacados por gatos do mato, graxains e outros predadores. É a forma de se manter o equilíbrio. Ocorre que houve uma predileção por plantas, eucaliptos naquela região. A consequência foi que as caturritas transferiram seus ninhos para o topo destas árvores, fora do alcance dos predadores. O resultado disso foi o aumento da população de forma tão intensa que estas barulhentas aves tornaram-se ameaças às plantações de arroz.

No início dos anos 80, algo pior aconteceu. Navio vindo da Ásia esvaziou seu lastro (quantidade de água usada para fazer o contrapeso no navio, para mantê-lo em equilíbrio) nas águas do Guaíba, sem se dar conta que um pequeno crustáceo, o Mexilhão Dourado, estava sendo despejado junto. O Mexilhão Dourado adorou as águas da bacia do Guaíba e se proliferou de forma espetacular.

O Mexilhão Dourado gosta de águas limpas e por isso penetrou na rede de distribuição da DMAE, órgão que distribui água em Porto Alegre, causando prejuízos gigantescos e exigindo a manutenção de equipamentos de mergulhadores que penetram nas tubulações para mantê-las livre desta ameaça.

Mas o problema foi além. Proprietários de barcos levaram-nos ao litoral, levando o problema para o sistema de lagoas da costa, com consequências imprevisíveis.

As espécies exóticas representam ameaça, pois como normalmente não encontram inimigos naturais se proliferam de forma descontrolada, competem por alimento e espaço e desbancam o ser vivo que habita neste nicho, muitas vezes destruindo-o.

Na Austrália, onde a inocente introdução de cães e gatos foi catastrófica para o meio ambiente, levando várias espécies a extinção ou próximo disto. E o governo lá, hoje, gasta fortunas para tentar controlar o problema.

Nos EUA, a simples fuga de algumas poucas Pitons, cobra de origem asiática que atinge cerca de 9 metros, virou um problema para o estado da Flórida, que possui um banhado parecido com o nosso Pantanal (Everglades) e onde estas cobras encontraram condições propícias para desenvolvimento não só para a fauna local, mas também para seres humanos, já que esta cobra tem capacidade de devorar serem humanos. Mas isto é la, nos EUA.

Aqui os órgão responsáveis são atacados, tentam evitar episódios como este das piranhas (palometas) que vai se tornando problema de difícil manejo.

A possibilidade de que um inocente canal de irrigação tenha aberto uma via de trânsito para que os animais pudessem se dirigir aos outros mananciais cíclicos e por fim ao rio Taquari (já há registros no Jacuí) parece ser a causa mais provável. É a mão humana. Consequências impensáveis?

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