Arte para transformar o espaço público

Cultura

Arte para transformar o espaço público

Iniciativas buscam revitalizar a cidade e tornar a arte acessível a todos

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Arte para transformar o espaço público
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Unir a arte e a rua é uma combinação poderosa. A rua é palco de movimento e, historicamente, de democracia. Enquanto a arte, é uma forma de expressão de diversos grupos culturais e tem o poder do fazer pensar.

Trazer a arte para o espaço urbano é democratizar a cultura e o conhecimento, agregar beleza ao cotidiano e permitir que ela esteja disponível a todas as pessoas, a qualquer hora. Quando colocada no espaço público, a arte se torna ainda mais poderosa por estar acessível.

A designer Marina Helena Müller, 25, sempre teve a arte como essência de sua personalidade, relação que se intensificou com a escolha da profissão. O olhar para a cidade surgiu quando participou de um projeto de pesquisa no qual realizava oficinas artísticas e perceptivas com a comunidade.

“Comecei a perceber o design e a arte como ferramentas que poderiam resolver problemas urbanos e transformar realidades. O design para questões estruturais e funcionais, e a arte pela subjetividade. Às vezes um espaço não precisa apenas de uma nova infraestrutura, mas de uma releitura, de um novo olhar. Acho que essa é a principal beleza de ligar a arte à cidade”.

Beleza que Marina levou para seu Trabalho de Conclusão de Curso, tendo como proposta refletir sobre algum espaço de Lajeado que estivesse esquecido. O valão, na Avenida Décio Martins Costa, foi o escolhido pela relevância ambiental e histórica, conta.

“Queria fazer algo significativo pra cidade. Criar soluções viáveis e rápidas para iniciar um processo de ressignificação. Fiz diversas entrevistas para entender a relação das pessoas com esse espaço e uma oficina de cocriação que resultou na ideia de fazer uma arte sobre o concreto que existe ali, como forma de destacá-lo e fazer pensar”.

Assim surgiu o Ocupa Valão, movimento que trouxe cor e novo significado ao espaço, promovido pelo RolaRolê, coletivo do qual Marina faz parte. Inspirado na pesquisa da designer, nasceu também o 1º Concurso “Arte na Cidade – Intervenção artística em espaços urbanos”, promovido pela Prefeitura de Lajeado e Sesc Lajeado, com organização do Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo (Emau) da Univates e apoio técnico de uma equipe formada por alunos e professores dos cursos de Design, Design de Moda, Fotografia, Arquitetura e Urbanismo, Comunicação Social e Área de Artes da Instituição.

“Fico muito feliz de ver que meu projeto serviu de impulso pra que coisas maiores acontecessem. Quando me propus a desenvolver o projeto, coloquei na cabeça que queria deixar algo de bom pra cidade. Hoje vendo o rumo que tudo tomou, o impacto positivo, fico bem orgulhosa da comunidade e até me emociono”.

Mais arte na cidade

Com o tema “Arte urbana – humanizando a cidade”, o concurso Arte na Cidade se propõem a revitalizar o espaço urbano de Lajeado. As cinco propostas vencedoras foram premiadas e estão sendo executadas por seus autores.

A artista Flávia Pozzobon da Rocha Gomes finalizou a sua intervenção artística do lado esquerdo do viaduto da BR-386 com a avenida Senador Alberto Pasqualini. Com o nome “Arte para Libertar-te”, a pintura destaca a diversidade e a livre expressão da vida na cidade.

No lado oposto da via, os artistas Lucas Cristiano Baldissera e Maiara Cristiana Bauer abordam a humanização da cidade e a vivência em sociedade por meio da pintura que questiona: “Seria preciso retroceder para conseguir evoluir?”.

Já a diversidade racial e cultural brasileira será representada na ponte seca da BR-386, sobre a rua Bento Rosa, pelas mãos de Samuel Hergesell. Há 15 anos trabalhando com grafite, Hergesell acredita que a arte instiga as pessoas e permite trazer a tona temas que não são comumente discutidos ou deixados de lado pela sociedade. “Ela traz cor ao cinza da cidade e abre possibilidades, um leque de interpretações. A imagem fala, não vai ter texto, nem palavras. Ela fala por si e cada pessoa faz a sua interpretação”.

Para Hergesell, o Arte na Cidade é extremamente importante para que os artistas locais tenham um espaço para mostrar seus trabalhos e também para que as pessoas tenham acesso a esse tipo de cultura. “A Univates tem um dos maiores murais do estado de grafite, o que para lajeado é muito bom. Agora, o movimento Arte na Cidade vai abrir outras possibilidades. As pessoas vão querer mais este tipo de intervenção”. O artista Rafael Hergesell também realiza intervenção na ponte seca.

Vitrine urbana
Quem visita a Univates é recebido por três grandes figuras da educação e cultura nacionais. Darcy Ribeiro, Clarice Lispector e Paulo Freire estão retratados em um painel de 14 metros de altura de autoria do artista brasileiro Eduardo Kobra.

Conforme o professor do curso de Arquitetura e Urbanismo, do Grupo de Ação Arte na Cidade e um dos autores do edital do concurso, Augusto Alves, a importância da obra de Kobra para a comunidade é imensa.

“Trata-se de uma referência artística de primeira grandeza, sem precedentes em toda região. A arte em si não transforma o mundo, mas tem um grande poder de transformar a sensibilidade das pessoas e a sua forma de ver o mundo, e isso já é algo bem importante”.

A instituição, por meio da Área de Artes, promove atividades artísticas dentro e fora do ambiente universitário. Segundo Augusto, o mais importante destes eventos é o Arte na Universidade, que tem ocorrido nos últimos anos no campus, com como exposições, apresentações, debates, oficinas, entre outras atividades.

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